Faces

O que eu fiz?

Meu celular toca desesperadamente, acordo um pouco desorientado e vejo que é o Nathan, atendo e digo:

- É sábado, Nathan,por que tá me acordando cedo?

- Porque você é um vagabundo, levanta, vamos viajar.

- O que?

- Você tem 30 minutos, tchau.

Porra, Nathan, você é uma cruz que eu carrego ...

Levanto para tomar banho e me arrumar, já que vou viajar forçadamente. No banho, minha cabeça costuma lembrar de coisas do passado, decepções... Eu pensei que você fosse a minha luz no fim do túnel, Deborah. Mas, desde o ocorrido com seu ex marido, você não posta mais nada, você se fechou completamente agora, você sumiu, não vai mais trabalhar e mudou de endereço porque a família do seu ex não parava de te procurar. Mas e agora? Eu te salvei ou não? Parece que eu só piorei as coisas, eu só queria te ver bem, eu pensei que a gente poderia voltar a ser o que éramos antes...

Dá pra ouvir a voz do Nathan da esquina, esse desgraçado não para de gritar, ele tá empolgado com essa droga de viagem, não sei o porquê, mas, ok. Lá vamos nós... Pior do que ouvir o Nathan gritando, é ouvir ele cantando enquanto dirige, que tortura, grande amigo.

- Você tá bem?

Por que ele está perguntando isso?

- Tô

- Por que tá mentindo pra mim? A gente é irmão.

Nathan me conhece como ninguém, é impossível mentir pra ele, a gente foi criado junto, ele sabe tudo sobre mim e na maioria das vezes, parece que lê os meus pensamentos.

- Eu tô bem, cara, é só cansaço. Afinal, aonde estamos indo?

Nathan percebeu que sinto sua falta, Deborah, então a única forma de distrair ele, é mudando de assunto completamente.

- É surpresa, você vai gostar.

- Vamos ver...

Seguimos um longo percurso e confesso que quase dormi, quando o Nathan finalmente se cansou de estragar as músicas com a sua voz.

- Chegamos, bonitão

- Que lugar é esse?

Um sítio... Mas, onde será que estamos?

- Vamos passar o fim de semana aqui, amigo, com... Nada mais, nada menos que... Elas.

Cristiane, Carla, Darlan e sua namorada, Ana. Ótimo, amigos de infância, tudo o que mais odeio, desde que éramos dois adolescentes cheios de espinhas o Nathan tenta fazer com que eu e Cristiane fôssemos namorados, mas ela é só uma riquinha mimada e insuportável, já a Carla, é uma moça amável, única a resistir ao meu grande amigo cafajeste, Nathan.

A noite chega e eu não aguento mais fingir que somos todos amigos e sociáveis, Darlan e a namorada já foram dormir, Nathan está incansavelmente tentando conquistar Carla no quarto lá em cima, e eu me sinto tão entediado, sozinho com whisky, na sala, só consigo sentir a sua falta, Deborah, saudade de falar com você e perguntar sobre o seu dia, coisas simples que com você, eram tão boas... Eu bebi um pouco, Deborah, e se eu te mandar...

- Ocupado?

Cristiane, não enche.

- Um pouco.

- Você não trabalha hoje, me dá isso

Eu detesto que peguem MEU celular da minha mão..

- Olha, eu...

- Você continua sendo um depressivo, Adrian?

Quem ela pensa que é pra dizer isso?

- Você nem me conhece, o que acha que sabe sobre mim?

- Eu te conheço, desde a escola, se lembra? Eu sei tudo sobre você, é compreensível você não querer nada comigo, você tem medo, de ficar sozinho, você não lida bem com abandonos, sua vida sempre foi assim, né?

Não, essa... filha da p**a não tá dizendo nada disso...

- Nunca passou pela sua cabeça que eu nunca te quis por você ser uma completa vagabunda? Você só fala merda e não é p***a nenhuma dessa sua vida medíocre, nada, além de uma mimada e escrota.

Ok, eu acho que é verdade aquela coisa de que quando a bebida entra a bebida sai.

- Se sente melhor agora? Você é um fracassado, Adrian, você só é o que é, porque a família do Nathan te acolheu e desde então é assim, as pessoas têm pena de você, eu entendo porque sua mãe te abandonou.

- CALA A BOCA , SUA DESGRAÇADA.

- Você não aceita o fato de que ninguém gosta de você, porque você é um merda, acha que me importo das vezes que recusou ficar comigo? Nem a sua mãe te quis, não se ache tan...

Enforco Cristiane com força

Não fala, da p***a, da minha mãe sua... Filha da p**a

Não, Adrian, solta ela, solta. Para...

Solto Cristiane, mas, pro meu azar... Tarde demais.

Mas que... PORRA

Não, não, não, não, acorda, por favor.

Entro em um pequeno surto, eu não queria fazer isso, eu tô bêbado, p***a, que merda eu fiz?

Eu tenho que tirar ela daqui, o Nathan tá lá em cima.. O que eu vou fazer?