Capítulo 2

3156 Words
Sei que não deveria estar tão focada nesta vingança, também sei que antes de planejar qualquer ataque ao inimigo, devemos analisar o seu território e é exatamente isso que farei esta noite. Depois de chegar a Itália acreditei que teria um tempo para visitar os meus lugares preferidos como o Coliseum, que apesar de ser um lugar antigo me chama a atenção. Queria também dedicar um tempo especial a Robert que sempre cuidou de mim, mas a vontade de encontrar Dante se sobrepõe a todas as outras em meu coração, eu não poderia perder uma oportunidade tão grande como está de entrar diretamente na toca do Dragão. A semana passou rápido e meu foco ficou voltado para a festa que me espera está noite. Robert tentou de todas as maneiras me convencer a mudar de ideia, mas meus pensamentos estão ligados ao Dragão. Vejo meu reflexo e me sinto satisfeita com a minha imagem. O vestido que escolhi realça minhas curvas deixando-as delineadas. Como não quero chamar atenção mais que o necessário optei por uma cor escura e mais simples. O famoso preto básico. A f***a que se estende na perna me deixa desconfortável por mostrar mais pele do que eu gostaria, entretanto é necessário para os meus movimentos em uma possível luta. Foi difícil escolher um vestido que se encaixasse no que eu realmente estava buscando, todos os modelos eram ousados demais e a maioria deles deixavam parte das minhas costas exposta o que não é uma boa coisa, pois levo o brasão da família Becker — uma flor de lótus — escondido entre as penas de uma fênix em uma belíssima tatuagem. Respiro profundamente arrumando o coldre de facas na parte superior da minha coxa. Não costumo usar armas de fogo, apesar de ser muito práticas e rápidas, gosto e opto por armas brancas, todos os tipos possíveis de armas brancas. Termino de arrumar meus cabelos ruivos deixando-os em ondas caídos sobre minhas costas e ombros. Realço bem meus olhos castanhos esverdeados para que fiquem marcantes e retoco o batom vermelho deixando meus lábios vivos e chamativo. Sinto meus olhos marejados ao tocar minha orelha e analisar o pequeno brinco de diamantes que brilha delicadamente. Uma peça exuberante e sensual, um presente especial passado de geração em geração que guardo com carinho, pois, foi o último presente que ganhei da minha mãe antes dela partir. Esses pensamentos me assombram e entristecem, então procuro dispersá-los, pois, não poderia me apegar ao ódio neste momento, desço para sala onde Robert me espera visivelmente chateado e por mais que ele tente esconder seu nervosismo falha drasticamente. — Você deveria desistir — insiste Robert assim que coloco os pés na sala. — Por Deus Rob, pare com isso. Estou indo apenas para analisar o local e observar Dante Voyaller de perto. Se for favorável para mim colocarei meus planos em prática. — Seguro minha pequena bolsa de mão que têm um fundo falso onde escondo um pequeno punhal adaptado para se encaixar perfeitamente no fundo e algumas maquiagens adaptadas a armas, como o batom que no lugar do gloss leva uma pequena faca. — Eva... — persisti transtornado. — Nada de vir atrás de mim se eu não voltar. — O observo duvidosa. — Não posso garantir nada — bufa irritado. — Já conversamos sobre isso, nada de agir por impulsividade. Você sabe que pode estragar todos os meus planos se fizer isso — o repreendo e ele suspira. — Você sabe que para tirar tudo o que quero de Dante precisarei da sua confiança e para ganhar isso somente fazendo parte das falcatruas que ele se envolve. — Eu odeio esse homem — diz irritado. — E odeio ainda mais a ideia de te ver fazer parte do mundo distorcido dele. — Somos dois. — Pisco para ele sorrindo. — Não se preocupe, você sabe bem o que eu quero Rob, apenas proporcionar dor e sofrimento aquele homem. — Eva, não faça nada de imprudente. Sabe que eu não suportaria perdê-la novamente. — Ele se aproxima acariciando os meus cabelos com carinho e preocupação. Respiro profundamente apoiando minha mão em seu peito em sinal de conforto. — Você não irá me perder, mas precisa confiar em mim. Talvez eu precise passar alguns dias, semanas ou meses naquela casa para descobrir a verdade. — Observo seus olhos cansados e preocupados. — Tudo é mais complexo do que imaginamos e você sabe disso. — Só tome cuidado. — Deixa um beijo na minha testa. — Prometo tomar. — Sorrio gentilmente. — Tarciso está a sua espera com uma Lamborghini. Não poderia deixar minha maninha chegar de táxi — fala com um olhar entristecido, mas com um sorriso de satisfação. Balanço a cabeça em negação enquanto caminho até a porta. A preocupação e tensão ainda estão estampadas na face de Robert, mas preciso seguir meu curso, não poderia desistir agora. Dou um forte e longo abraço me despedindo e como ele havia dito o seu motorista estava à minha espera. Me acomodo no carro e sem demora Tarciso segue para a mansão Voyaller, onde aconteceria uma das maiores festas da redondeza. A mansão fica no nordeste da Itália em uma localidade afastada muito próximo à Veneza. É um lugar restrito comandado pela família Voyaller, e somente convidados tem o direito de entrar e sair. Conforme nos aproximamos observo a floresta ao meu lado pela janela e acabo por me lembrar dos intensos olhos azuis de Dante em meio a escuridão. Os gritos de agonia dos meus familiares preenchem meu peito e o desespero se espalha por todos os poros do meu corpo. Sou obrigada a fechar os olhos fortemente e respirar profundamente acalmando minha pulsação que se acelera drasticamente. Sei que treinei todos esses anos para encontrá-lo, mas não importa quanto tempo passe essa dor em meu peito jamais irá se amenizar. Não posso perder o equilíbrio agora, não posso me dar o luxo de errar com esse homem. — Senhorita, estamos quase chegando. — A voz do motorista rompe meus pensamentos e somente agora analiso a localidade. Estive aqui poucas vezes, mas é tudo como me lembro. Um grande muro cerca as terras e os seguranças fazem plantão sem descanso. Procuro gravar cada pedaço de terra por onde passamos e tenho que admitir que essa sempre foi uma belíssima casa. Tarciso segue um caminho de pedras que nos leva até os grandes portões da mansão. Um dos seguranças pede o convite e após confirmar que o bilhete é válido libera nossa passagem. Já é noite e a pouca claridade da lua não colabora com a minha visão, mas ainda consigo me lembrar vagamente que do lado esquerdo há um lindo jardim que se perde em um labirinto como nos contos de fadas e a direita uma imensa e densa floresta que se espalha ao nosso redor. Quando pequena lembro vagamente de vir visitar Dante, mas conforme fui crescendo suas visitas eram constantes na mansão Becker, mas isso não importa agora. Tento dispersar esses pensamentos. Tarciso segue até a entrada da mansão dando a volta em torno de uma grande fonte muito bem iluminada, onde um dragão jorra água pela boca. Seguimos em frente e paramos na escadaria que leva a porta de entrada. A porta ao meu lado se abre revelando um dos seguranças que educadamente estende sua mão em minha direção, seguro sua mão com um grande sorriso enquanto meus olhos percorrem todo o local com cuidado. Este lugar é o verdadeiro covil do dragão, concluo o pensamento ao avistar muitos homens armados fazendo a guarda não somente da casa, mas de todo o local. Procuro observar cada detalhe sem deixar nada passar e sinceramente, isto será mais difícil do que imaginei. Dante é um homem esperto, calculista e intimidador, gosta de mostrar o poder que tem, no passado era assim e observando bem nada mudou. Subo as escadas que me levam as grandes portas de madeira com o símbolo da família Voyaller entalhado na porta. O dragão bem desenhado não me passa despercebido, pois para muitos é um simples desenho, mas para mim significa a morte dos meus familiares. Atordoa-me em pensar que muitos anos da minha vida admirei esse símbolo, e hoje a única coisa que consigo sentir é ódio e nojo. Procuro não focar em detalhes como esses, logo que entro surpreendo-me com a beleza do hall de entrada, não lembrava ser tão deslumbrante. Lembro que no passado essa casa era mais sombria e rústica, na verdade, um lugar mais antigo, hoje o toque de modernidade misturado a antiguidade deixa o local mais charmoso e luxuoso. Acredito que jamais vou deixar de me surpreender com essa família, tanto em sua audácia quanto em suas traições. Fiquei encantada com a reforma nas escadas laterais que levam ao segundo andar, a substituição do piso de madeira pelo granito ficou impecável, como tudo ali presente. O local tem tons de bege e marrom escuro, o corrimão preto das escadas quebra o tom de seriedade dando um charme inusitado, o grande lustre do hall de entrada fica logo acima da mesa redonda entre as duas escadas, as poltronas de couro preto encostadas nas paredes dão um ar de mistérios e seriedade, tudo naquele espaço é surpreendente. — Qual o seu nome senhorita? — Um senhor vestido com smoking me observa desconfiado fazendo com que eu saia do meu transe momentâneo. — Dana Trion. — O encaro de cabeça erguida e ele procura meu nome na extensa lista que estava em suas mãos. — No final do corredor Srta. Trion. — Se curva indicando o local com mão. — Obrigada — digo gentilmente. Faço o que me é pedido e vou diretamente para o jardim dos fundos. Assim que passo pelas portas a música eletrônica invade meus ouvidos em cheio. Muitas pessoas já se encontravam presentes, cada um em sua roda de amigos rindo e conversando enquanto bebem seus champanhes e coquetéis.  Analiso todo o local à procura de quem me interessa, mas não o encontro em lugar algum. Aproveito o momento de sossego para bebericar uma deliciosa taça de vinho tinto suave que se embala em minha língua com delicadeza e doçura. Percebo os olhares desconfiados dos seguranças, sei que necessito socializar com as pessoas aqui presentes, querendo ou não sou carne nova na toca do dragão. O único problema é não saber quais são os mafiosos que estão aqui para marcar presença e quais são os empresários a fim de fechar negócios com o dono do porto da Itália. Sem me dar conta um senhor de meia idade se aproxima sorridente. Estava mais entretida procurando minha caça do que no senhor que se aproximava. — Olá senhorita, sou Donzel Golodiev, nova por aqui? Nunca a vi numa festa como esta antes. — Dono de um sotaque forte sorri abertamente segurando minha mão com delicadeza depositando um beijo nela. Educadamente sorrio para ele, mas me sinto incomodada com a sua presença marcante. Ele não parece ser um simples convidado e isso está me cheirando a problemas. — Prazer em conhecê-lo, represento as empresas Trion. Como irmã mais nova de Robert, vim em seu lugar, já que lhe surgiu alguns imprevistos — respondo enquanto dou o meu melhor sorriso vendo a cara de surpresa do homem. — É uma novidade saber que um Trion tem envolvimento com um Voyaller. Como este mundo é pequeno não. — Ele parece satisfeito em saber que Robert tem envolvimento com Dante. Sinto que Robert vai me matar quando souber disso, já estou prevendo minha morte de várias maneiras possíveis. — Às vezes precisamos expandir nossos horizontes. — Ergo a taça em um brinde tomando um grande gole de vinho. — Tem razão. — Um sorriso sóbrio se estende por seus lábios e percebo que socializar com aquele homem não é a minha melhor opção, então procuro me afastar e somente agora percebo seu olhar lascivo sobre meu corpo, o que me deixa desconfortável. Caminho por entre os convidados procurando tomar distância do homem que conheci a poucos segundos e inconscientemente minha mente voa para o passado mais uma vez. No inventário meu pai parecia prever os acontecimentos, pois deixou claro que se acontecesse algo com os Becker, tudo seria passado para Robert Trion, que assumiria seu lugar de CEO, mas manteria uma boa qualidade de vida para sua família e cuidaria de suas filhas como se fossem dele. Dito e feito. Robert parece uma sombra, ele quer saber de todos os meus passos e de tudo que faço. Procuro andar ao redor da festa para me lembrar perfeitamente de todos os detalhes desta casa e vejo um grupo de mulheres conversando animadamente e acredito que elas m*l sabem o que seus maridos fazem, mas não se importam em viver de aparências e engano apenas para subir na mídia. A imagem e o dinheiro sempre têm mais valor que os verdadeiros princípios concluo esse pensamento com um sorriso sarcástico no rosto. Dante comanda toda Itália, podemos dizer que ele está no topo da máfia, mas pouquíssimas pessoas sabem disso. Para todos, ele é um querido e bondoso empresário que ajuda muitas associações carentes, mas ele tem muita sujeira escondida por baixo dos panos. Lentamente me aproximo das mulheres e sou muito bem recebida, jogo conversa fora enquanto espero o meu alvo aparecer. Tive que treinar muito para não cair em seus encantos e sinceramente ainda não sei se este treino surtiu efeitos. Dante é lindo, isso eu não posso negar, na verdade, ele sempre foi lindo. Seus olhos azuis te consomem e te faz delirar de tal maneira que você se perde na profundeza daquele olhar. Ele é intenso, sério e prepotente, sabe o poder que tem e exerce com maestria sob as pessoas a sua autoridade. Finjo prestar a atenção na conversa das mulheres enquanto observo todos os seguranças da festa que não são poucos. O alvoroço de risadas desvia minha atenção para o local cheio de mulheres aglomeradas e agitadas. Viro-me lentamente para encarar meu inimigo e nossos olhos se encontram. Dante fixa seus intensos olhos nos meus como garras que te prendem sem que você consiga se libertar. O encaro estática por incontáveis segundos e só desviamos nossos olhares, pois uma jovem se agarra ao seu braço. Neste momento sinto o peso e desespero de não ter ouvido os conselhos do meu tio que sempre abominou vinganças e me aconselhou a não me envolver com Dante, afinal os níveis de experiência de um mafioso elevam-se aos treinos que tive no Japão, que apesar de intensos não se compara ao homem a minha frente que nasceu exatamente para isso. Neste momento vejo o quão pesado foram suas palavras e como elas eram sinceras, pois encarar de frente o assassino da sua família e não demonstrar sentimentos é mais difícil do que imaginei. Viro a taça de vinho de uma única vez na tentativa de acalmar os meus batimentos cardíacos, mas essa bebida suave nem mesmo surte efeito no meu organismo acelerado. Desgraçado, como ele consegue ser tão incrível dentro de um terno como aquele? Sempre com uma pose de poder e autoridade. Todos caem aos seus pés como cachorros bem treinados. Observo as árvores ao redor do local decidindo me afastar do aglomerado de pessoas que se reúnem em volta do Dragão. Não quero proximidade com Dante, quero apenas analisá-lo de longe e estudar toda a mudança que onze anos lhe causaram. Por mais que sua atenção esteja voltada para o grupo que se reuni em sua volta, seus olhos estão atentos a cada movimento do meu corpo e cada tentativa de aproximação mudo meu caminho me mantendo afastada. A realidade é que ele sabe que não faço parte desse mundo e seus olhos não negam a curiosidade e a vontade de me atacar. Ele me quer fora das suas terras. A festa segue normalmente, minha vontade é pedir um belíssimo whisky e virar uma generosa dose de uma única vez, mas contenho minhas vontades já que não posso ficar bêbada em um momento como esses. Por mais que procuro mudanças em tudo que vejo a minha volta, percebo que não há, nem mesmo no homem a minha frente. Ele apenas cresceu e se tornou um verdadeiro homem que deixaria qualquer mulher caída aos seus pés. Com seus cabelos negros penteados de uma maneira selvagem, seu rosto triangular e olhos azuis marcantes. Ele é lindo, eu nunca neguei isso, mas a frieza que aquele coração reserva o torna horrível. Ainda assim, seus costumes do passado permanecem os mesmos, pois ainda me lembro da maneira que ele enruga a testa e junta as sobrancelhas em uma expressão de nervosismo ou indecisão como faz neste exato momento observando meus olhos. Sua postura é rígida e as mãos dentro do bolso da calça me diz que ele está entediado e não gosta desta festa. Tudo continua o mesmo, a única coisa que mudou foi a intensidade do seu olhar que no passado se banhavam em esperança e, hoje só vejo escuridão. Tudo isso me machuca, me magoa, eu amei esse homem até o último momento, até uma das balas de sua arma atingir meu peito em cheio. Desconfortável com o tudo o que passei e a dor que isso me causa opto por ir embora, pois minha cota de espionagem já havia passado dos limites. Ao voltar a analisar as redondezas da festa vejo que seus seguranças se posicionam em lugares estratégicos para me observar. Ele é esperto, perspicaz e inteligente, sorrio ao ver que já havia comunicado os seus homens sobre a minha presença. Desvio minha atenção de Dante por um momento para contar os seguranças a minha volta que giram em torno de dez a quinze homens. Quando ouso voltar minha atenção para Dante sinto um forte impacto em todo o meu corpo ao observar as duas pistolas voltada em minha direção. Aquele olhar, aquelas armas, a sensação de incapacidade e dor, o desespero, o medo e a frieza daquele olhar. Me sinto acuada, me sinto novamente no passado e não consigo negar o desespero estampado em meu semblante, observar aquelas armas faz com que eu reviva aquela fatídica noite novamente. Três tiros seguidos faz o impacto do som refletir por meu corpo me deixando estática. Eu não esperava encarar aquelas armas tão cedo, não esperava vê-las tão perto novamente. Minha respiração irregular entrega o meu desespero, seus olhos não desgrudam dos meus movimentos e eu sei que ele está jogando comigo, pois o sorriso vitorioso em seu rosto o entrega. Uma salva de palmas e muitos assovios o saúda gloriosamente, a agitação daquele lugar me traz de volta a realidade e antes que as coisas piorem caminho apressadamente para a saída enviando uma mensagem para Tarciso, pois não poderia perder tempo. Contudo, os seus homens seguem meus passos me encurralando em direção a mansão. Pelo que vejo não sairei sem uma boa luta. 
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