MARCO POLO
Quando parei em frente ao prédio eu fiquei com receio pela garota, porque era um lugar fechado e com pouquíssimo movimento, claro, isso as quase uma da manhã de um sábado, era estranho, uma vez que eu estava acostumado em ambientes claros e bem arejados e não fechados, como uma prisão. Nem o bar que estávamos tinha um clima assim.
A única prisão que eu conhecia era dentro de mim, fora de mim era tudo... livre e aberto.
– Nem sei como agradecer – Ela tirou o cinto e se virou de lado, eu continuei parado, inerte.
– Que isso, você me ajudou com minha... crise – Sorri e olhei para as bochechas delas, avermelhadas. – Eu devo agradecer, certo?
– É difícil achar pessoas como você, sensíveis – Bem, eu devia concordar com ela, era muito difícil mesmo, a mulher suspirou e aí se encostou no banco de novo. – Faz uma semana que estou aqui na cidade, não está sendo fácil, na verdade quando as coisas foram fáceis?
Ela deu uma risada.
Eu fiquei em silêncio e ela também fez a mesma coisa, não queria falar muito, parecia que ela também não, parecia uma coisa em comum entre mim e ela naquele momento.
Então lembrei dela falando para eu respirar fundo, segurando minhas mãos, minha mãe havia conseguido evitar as crises de ansiedade e pânico assim quando eu era mais novo, a garota com palavras e um olhar no fundo dos meus olhos fez aquilo bem, muito bem, precisava saber como ela fazia aquilo comigo, porque ela poderia ter algo a acrescentar pra mim, eu gostava de pensar em controle, embora algumas vezes eu queria uma cura definitiva, mas eu sabia que não tinha, somente o controle, qualquer dica ou conselho vindo de forma sincera era bom.
– Como conseguiu fazer aquilo comigo? Era como se soubesse o que fazer ou dizer, vi isso poucas vezes – Eu suspirei fundo, eu odiava depender de alguém ou deixar outra pessoa no controle, ainda mais quando não era eu mesmo. – Queria entender.
– Você estava tendo um ataque de pânico, não estava? – Eu soltei uma gargalhada, ela pareceu não entender, mas ficou parada me olhando.
Crise de pânico? Eu estava com uma crise de compulsão e ansiedade, uma leve e moderada. Poderia pegar uma mulher daquele lugar e ficar, sair e entrar da linha tênue ou não, poderia até mesmo fazer ela ser minha por uma noite inteira, fazê-la sonhar e delirar, me dar tudo dela e até o que não era dela.
Eu parei e fechei o sorriso, com o recém-pensamento sobre ela, senti o coração dar um salto no peito e um arrepio que eu conhecia, senti as mãos inquietas e os olhos atentos, conseguia agora ver tudo que eu queria, conseguia ver os detalhes chamativos dela, os s***s, as pernas por baixo da calça ou até mesmo imaginar como seria a b****a dela engolindo meu p*u ou meus dedos, enquanto eu circulava o bico do seio dela.
Eu suspirei fundo.
Respeito em primeiro lugar.
– Eu estava tendo uma crise compulsiva, elevando a ansiedade, para ser mais exato – Sorri e me remexi no banco. – Tenho isso com uma frequência grande e tem só a saída de matar o que quase me mata, mas hoje não queria acatar – Isso, Marco não precisou contratar uma acompanhante que aceita os caprichos dele ou obsessões. – Deixou minha noite mais leve, de verdade.
– Fico feliz, você não me disse seu nome – Ela sorriu, erguendo a mão e colocando uma mexa do cabelo castanho atrás da orelha, senti vontade de fazer aquilo. – Para lhe agradecer.
– Você também não disse seu nome – Estávamos juntos há uma hora da manhã e ninguém sabia o nome de ninguém, talvez não era tão importante, mas agora era, era importante saber detalhes dela para eu poder velar minha curiosidade. – O meu e Marco, satisfação.
– O meu é Alex – Ela fez uma pausa. – Satisfação – Alex, Alex era diferente. – Agora eu preciso ir – Ela abriu a porta e segurou a bolsa contra si mesma, mas eu ergui a mão e segurei o braço dela.
– Espera, fica mais um pouco – Falei com medo da recusa, mas, ainda com a porta aberta ela se ajeitou e olhou para mim, esperando que eu falasse algo, eu recolhi minha mão e engoli o nó que se formava na minha garganta. – Você nem disse como fez aquilo comigo, preciso saber, porque pode ser importante para mim.
– Bem, eu sofri de ataques de pânico, ainda sofro, porém não tenho crise a um tempo, então eu sei o que pode ajudar, olho no olho, palavras com conexão e apoio – Ela sorriu e logo recolheu o sorriso, ficando sem expressão, mas eu também estava sem expressão, analisando a fala, ela admitindo o problema e lidando com ele. Era genuíno da parte dela, forte e otmista.
– Eu não tive bem uma crise de pânico, não tem como explicar o que tive – Eu suspirei. – Mas eu gostei do que fez, mas ainda não entendi o que você fazia ali, eu geralmente gosto de beber ali, só que eu nunca tinha visto você.
– Era meu terceiro dia, n eu nem sou mais funcionaria, mas eu já não estou ligando, ali só entra maluco.
Eu sorri.
Era a primeira definição que ela acertava sobre mim, embora seja um bem r**m.
– Não vai voltar para lá?
– Depois disso não, eu sabia que ele não havia me contratado por nada, não gostei de lá também. Não parece um lugar pra você também .
– Vou me lembrar disso na próxima. Está sem nada agora? – Eu me mexi de novo, era o sinal que eu não queria da minha parte racional e irracional. Eu pensava de dentro para fora, mas eu tinha que levar em conta que eu precisava resolver aquilo de uma vez, antes que eu perca o juízo com ela.
– Sim, agora e arrumar algo – Ela falou e suspirou. – Quer subir? Posso te oferecer algo, um suco? Café?
– Isso é sério? – Perguntei sem acreditar, porque ninguém me convidada para isso, corrigindo, eu não aceitava convites, eu fazia convites.
– Talvez você precise conversar, mas é só conversa – Falou, deixando claro as coisas, mas eu só dei um sorriso para ela e neguei o convite com um balançar de cabeça. – Você não parece o tipo de cara que frequenta aquele tipo de bar.
– Eu gosto do absinto de lá – Sorri e a vi abrir a bolsa, retirando um cigarro diferente... ou algo do tipo da bolsa e um isqueiro da bolsa. – O que vai fazer, você fuma maconha? – Pergunto incrédulo e a vi sorrir envergonhada, mas sem a recusa do fato.
– Me acalma – Ela sorriu, logo Alex deu um pulo do carro e fechou a porta, ficando dependurada na janela, ajeitando o cigarro de maconha, era inacreditável. – Preciso ir, foi bom conhecer você – Ela acendeu o cigarro e colocou entre os lábios, entre os dois lábios avermelhados.
Acho que quero seu aquele cigarro, só acho, embora estou quase pulando do carro e subindo com ela, a fazendo mudar em ideia sobre só conversar comigo.
– Gostei de te conhecer também Alex, você é diferente – Quase como uma caixa de surpresa, pensei e senti o cheiro da maconha invadir o meu nariz, foi como voltar para as badaladas da faculdade. – Tem certeza que foi demitida? – Perguntei. – A confusão foi um pouco por minha parte, não posso ficar com isso em branco, posso ajudar você.
– Como? – Ela soltou a segunda golfada da fumaça. – Não se incomode Marco, você já me trouxe em casa.
Eu sabia que era irracional, mas eu tirei um cartão da porta luva e entreguei para ela, era meu, ali tinha meu nome, o que eu era, parcialmente, e o meu número, mas também do escritório. Ela deslizou os olhos e olhou para mim.
– Você e um advogado? – Eu confirmei com a cabeça. – Nossa – Ela pareceu sem graça. – Sua primeira impressão do mim deve estar perfeita, garota sem emprego, maconheira... caramba!
– f**a-se isso, sei de coisas bem piores – Eu sorri, geralmente eu não sorria muito, não dava a******a para alguém, aquilo devia parar. – Me liga amanhã de manhã, vou conseguir algo para você.
– Certo, eu vou ligar – Ela se afastou da janela e ficou parada, me olhado de fora do carro, eu o liguei e antes de poder sair eu olhei para ela, uma última vez, olhando sem piedade ou vergonha para o corpo dela, para os cabelos castanhos e os olhos, para o rosto fino e os traços de um sorriso.
Eu iria pro inferno mesmo.
– Te vejo em breve, Alex – Falei e suspirei fundo, pisando no acelerador e indo para longe dela.