Capítulo II

1256 Words
Quando Rita chegou com o marido, ficou penalizada com o estado da filha. Apesar de mais calma estava com os olhos vermelhos e descabelada. Pediu ao marido: - Sérgio, leva as crianças para brincar no quarto e deixa eu conversar com a Rosângela. - Mas eu também quero dar uma força a ela. - Tem certas coisas que crianças não devem escutar. Deixa eu falar com ela sozinha. Depois eu fico com as crianças e você conversa com ela. - Eu acho bobagem isso. O Rogério já entendeu tudo e os outros não entendem nada. - Mas mesmo não entendendo, ficam gravadas na memória por anos. É melhor preservar a imagem do pai perto deles. E se ele se arrepender e voltar? Rosângela respondeu: - Ele não vai se arrepender. Já estava decidido há muito tempo. Só não foi antes porque estava arrumando o apartamento para viver com a outra. O pai perguntou: - Ele te disse isso? - Com todas as letras. O pai não respondeu e chamou os netos para o quarto, entendendo a gravidade da situação. Rita pediu: - Me conta do começo. Vocês brigaram porque? - Nós não brigamos. Ele se aproveitou que eu estava na cozinha preparando o café das crianças e arrumou tudo. entrou lá e avisou que estava indo embora viver com a mulher que ama e eu que ficasse com meus filhos. - Assim, de repente? - Como eu estou contando. Ainda disse que ia dar um dinheiro de vez em quando para ajudar nas despesas até eu arranjar um emprego, porque ele não ia trabalhar para sustentar duas casas e eu que me virasse. E se eu pedisse pensão ele pediria demissão. - Ele pensa que é assim? Faz os filhos e depois larga? Ele que fique sabendo que abandonar até animais é crime e ele vai ter que sustentar os filhos sim. Pela nova lei, você não tem direito a pensão pra você. Mas os filhos tem. São menores e ele ou paga ou vai preso. - Você lembra que eu andei pedindo conselhos a você? Que ele não me fazia mais carinhos e me tratava com a frieza que se trata uma empregada? - Pensei que fosse uma fase e ia passar. - Ele já estava com a outra. As horas extras dele eram pra arrumar o apartamento. Por isso não parava em casa. - E se ele se arrepender? - Não sei. Tem as crianças. Mas algo que era muito forte quebrou e mesmo que cole, vão ficar as marcas. Quando eu reclamei que ele já estava com a outra, enquanto eu lavava, passava e cozinhava pra ele, sabe o que ele respondeu? - Não. - Que sustentava a mim e aos meus filhos. - Tem razão, querida. É muito difícil aceitar uma volta. Ele te magoou muito. Mas o sustento das crianças ele vai ter que dar. - Como posso arrumar trabalho com três crianças pequenas? - Teria que pagar alguém pra ficar com eles e não ia adiantar trabalhar. - Infelizmente, a justiça não pensa assim. Ele vai ser obrigado a te dar pensão por um tempo determinado, mas depois você vai ter que se sustentar. Mas com as crianças é diferente. Somente quando atingirem a maioridade é que ele vai ficar isento do sustento deles. - Mas como posso trabalhar e deixar as crianças. Vocês moram longe e não dá pra levar de manhã e pegar a noite todos os dias. - Por enquanto, é cedo para decidir alguma coisa. Hoje é sábado e não vamos resolver nada. Na segunda-feira, vamos procurar a justiça gratuita e dar entrada no pedido de pensão. Como você tem crianças, se resolve rápido. A casa está abastecida? - Tem alguma coisa. Ele vinha dando cada vez menos dinheiro para as despesas, na certa comprando os móveis e recebeu ontem e não deixou dinheiro nenhum. - Agiu como um bandido. Só pensou nele. Vou falar com teu pai e deixar algum dinheiro pra você. Ele não deve ter muita coisa no bolso, porque o dinheiro fica no banco e vamos tirando aos poucos, mas depois a gente volta aqui e deixa mais algum. - Ainda tem alguma coisa. Não quero ser um peso pra vocês. - Você nunca vai ser um peso pra nós. Vamos te ajudar. Ainda bem que seu pai te deu a casa de presente de casamento e você não paga aluguel, nem condomínio. Aliás, foi colocada no nome dos dois? - Não o papai me deu assim que fiquei noiva e está só no meu nome. Ainda era solteira quando ganhei. - Ainda bem. Você prefere que deixemos o dinheiro ou façamos as compras? - Na verdade, preferia não precisar. Mas as crianças vão começar a pedir as coisas que eu ia comprar depois que ele me desse o dinheiro das despesas. - Que tipo de coisas? - Biscoitos, yogurtes, frutas, doces, coisas assim. - Vou ver com teu pai o que dá pra fazer hoje. Chama as crianças que eu não quero que ouçam o que eu vou dizer do pai deles. - Obrigada, mãe. Assim que tudo normalizar, eu devolvo. - Não se preocupa com isso. Nós não precisamos de devolução. Chama as crianças agora. Ou melhor, fica no quarto com eles e pede ao teu pai pra vir aqui. Rosângela entrou no quarto e deu o recado da mãe. Sergio na mesma hora foi atender o chamado da esposa. - O que aconteceu afinal? - Ele arranjou outra e foi morar com ela. Estava dando pouco dinheiro em casa para montar apartamento para morar com a outra, recebeu ontem e deixou a Rosângela com pouca comida em casa. Como podemos ajudar? - Vamos fazer as compras. - E se as crianças pedirem coisas diferentes das que nós comprarmos? - A gente faz as compras no cartão e o dinheiro que eu tenho deixo com ela. Hoje é sábado e não tem banco. Mas tem caixa eletrônico. Tudo se arranja. - Ele se n**a a sustentar os filhos. Disse que não tem como sustentar as duas casas. - Isso é lei. Não é escolha. Ela bota na justiça e pronto. - As leis mudaram e ela não tem direito a pensão porque é nova e pode trabalhar. - Como? E quem olha as crianças? - Pois é. Trabalhar para pagar alguém para tomar conta dos filhos. Então ela mesma olha. Mas e o sustento dela? Vai tirar de onde? - Ela é nossa filha e eles são nossos netos. Se alguma coisa tivesse acontecido a ele e ele precisasse de ajuda, eu faria qualquer coisa por eles. Mas o sustento das crianças é responsabilidade dele. Eu vou ajudar, mas não vou arcar com tudo. - Acho justo. Ele agiu errado e deve pagar por isso. Segunda-feira, eu vou com ela na justiça gratuita e vamos dar entrada no pedido de pensão para as crianças. - O que faltar, eu completo. Eles não vão passar fome. Isso eu garanto. Só não vou passar a mão na cabeça desse cara. Ele foi um canalha e vai ter que arcar com as responsabilidades dele. - Eu sabia que podia contar com você. Por isso quis que ela de formasse e trabalhasse, mas o sonho dela era outro. Parece que nasceu fora do tempo. Hoje em dia, as mulheres dão mais valor ao trabalho do que a família. - Criamos ela com dificuldade, mas nunca faltou nada. E não vai faltar agora também. Mas o Ronaldo vai ter que ajudar. Os filhos são dele.
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