Henrique
Capítulo 4
Hoje é sábado à noite e eu decido ligar para Graça, faz um pouco mais de um mês que nós nos falamos pela última vez e eu estou ansioso por notícias da Sol.
Depois que eu sair da casa da Sol eu fiz a maior merda da minha vida, quer dizer eu comecei a fazer né porque depois disso eu fiz várias outras. Hoje com a cabeça mais tranquila eu percebo que eu não devia ter colocado a Elaine dentro da minha casa. Durante os primeiros anos eu consegui me manter distante dela sexualmente falando.
Quando eu ficava muito e******o eu saía com alguns caras da época do quartel e arrumava alguma mulher na rua, eu sei, isso não combina comigo e me fazia se sentir péssimo, mas a minha necessidade física acabava falando mais alto embora eu não fizesse isso constantemente.
Eu sempre acabava procurando mulheres com o porte físico parecido com a Sol e quando transava tentava forjar a ilusão na minha cabeça de ser ela. Era sempre decepcionante porque nenhuma delas chegavam aos pés de consegui me satisfazer.
Os dias eram terríveis e eu perdi a alegria de viver, a única coisa que me dava paz e felicidade era estar junto com a Lara. Ver aquele serzinho pequeno crescendo e descobrindo as coisas é muito prazeroso, eu amo a minha filha mas ainda hoje às vezes eu penso que se ela não tivesse nascido as coisas teriam sido bem diferente para mim.
Ela é linda, muito inteligente e alta para a idade dela e está numa fase em que pergunta sobre tudo. A Elaine tem pouca paciência com ela então ela é muito mais apegada a mim. Eu me viro nos 30 para ser participativo na vida dela e agora que ela vai para a escolinha eu tento participar de todas as comemorações que eles fazem lá.
Eu saí do quartel e abri uma empresa que presta serviços na área da eletricidade, hoje eu sou engenheiro elétrico. De certa forma isso acaba facilitando as coisas porque eu não fico tão preso quanto ficava antes.
A empresa está indo bem e estamos crescendo no mercado, já possuo vários contratos e uma certa quantidade de pessoas trabalhando para mim.
Com o passar dos anos o meu desespero foi crescendo porque eu recebi a péssima notícia que a Sol estava namorando um tal de André. Aquilo me deixou com tanta raiva que eu acabei piorando mais a situação da minha vida, e cedi a investida que Elaine fez durante uma noite em que eu estava muito m*l.
Eu tinha acabado de receber a notícia através da Graça e estava extremamente triste, eu saí do meu quarto e fui na cozinha pegar um pouco de vinho para tomar e afogar as minhas mágoas.
Depois de alguns copos a Elaine entrou na cozinha, ela estava com uma camisola transparente preta com um conjunto de lingerie preta por baixo, quando ela me viu ela retirou a camisola e se aproximou dizendo que não estava aguentando mais de desejo. Ela praticamente implorou para que eu a possuísse, eu já tinha perdido as contas de quantas vezes eu tinha rejeitado a Elaine, mas naquela noite a raiva que eu estava sentindo da Sol me impulsionou a tomá-la de forma bruta enquanto rasgava aquela lingerie preta que me fez lembrar do último dia que eu estive com a Sol.
Eu não me orgulho disso, sei que naquele momento eu fui um tremendo animal, mas eu deixei bem claro a Elaine que só ia ser sexo e ela aceitou. Desde aquele dia todas as vezes que eu estive com ela eu usei camisinha, eu não quero correr o risco de engravidar essa mulher na minha vida nunca mais, mas a verdade é que foram poucas vezes que nós transamos mesmo depois da gente ter se casado.
De tempos em tempos nós transávamos, isso era basicamente quando eu estava muito necessitado apenas. Até que por insistência dela nós oficializamos no cartório a nossa união, eu casei com ela com separação total de bens e não quis nenhum tipo de festa, as únicas pessoas que estavam lá eram nós dois e as testemunhas. Sinceramente até hoje eu nem sei o porquê eu fiz isso, eu não acredito nem um pouco nesse casamento e não me empenho em o fazer funcionar, a única coisa que me interessa realmente é o bem-estar da Lara, então por ela eu tento manter uma falsa paz dentro dessa casa, é claro que eu não maltrato a Elaine, na verdade eu tento fazer o meu melhor para tratá-la com respeito.
Eu continuo amando exclusivamente a Sol e sofro horrores em saber que agora ela está noiva, principalmente por ser o tal do primeiro cara que ela beijou. Eu não entendo como que ela voltou a se relacionar com ele já que ela tinha me garantido que não o queria mais.
Sem aguentar mais pego o telefone e disco para a Graça, no primeiro momento me assusto ao ouvir a voz de uma criança e penso ter ligado errado, mas em seguida lembro que a filha dela Hellen atendeu.
Rapidamente ela passa para Graça e nós iniciamos a nossa habitual conversa, de início eu sinto a Graça um pouco tensa e noto que ela está em um lugar muito barulhento como se fosse uma festa. Quando eu a questiono eu sinto ela ficar nervosa como se não quisesse me falar o que estava acontecendo, então eu insisto e ela informa está em um casamento, na hora eu sinto todo o meu corpo gelando e uma grande aflição no meu coração, eu soube antes mesmo dela me falar que o casamento era da Sol.
Para confirmar as minhas suspeitas eu tive que perguntar e como esperado ela me confirmou o que eu não queria que estivesse acontecendo, a minha mulher realmente estava casando com outro homem e para o meu maior desespero é justamente com a primeira paixão da vida dela.
Meu coração se quebra mais uma vez e eu surto, tento descobrir onde é o casamento, a minha vontade é ir lá e colocar a Sol nos meus ombros e a trazer para a nossa casa porque aqui é o lugar dela.
' Como a Graça escondeu de mim que a Sol já estava de casamento marcado? O que mais ela escondeu durante esses anos?'
No meio da conversa acabo contando o nosso segredo para a Graça quando ela me questiona o motivo de sempre me referir a Sol como minha mulher.
A Graça fica chocada com a revelação, e eu tento a tranquilizar no meio do meu desespero mas com certeza eu falho nessa missão também. Eu tento explicar as coisas, peço desculpas mas a Graça tenta encerrar a ligação então eu insisto em saber onde é a festa e ela me corta dizendo o que eu não quero ouvir e aí eu simplesmente grito com ela sendo levado pelo meu desespero e pioro tudo pois ela informa que vai tirar de mim a única coisa que eu tenho da Sol, que são as notícias esporádicas que ela me dá.
' Eu já não tenho quase nada da Sol, e ela quer me tirar as notícias também. '
Eu achei que em algum momento da minha vida eu já tivesse ficado descontrolado e com raiva, mas para o meu espanto eu acabei descobrindo que nunca antes eu tinha chegado ao nível que eu cheguei hoje.
No momento de fúria eu grito e jogo o celular no chão e ele se quebra em vários pedaços, caminho em direção a cômoda e jogo tudo que está em cima dela no chão, só escuto o barulho de coisas se quebrando, inclusive jogo a própria cômoda contra o chão. Me volto para cama e tiro e r***o todo o forro da cama junto com o lençol e fronhas, não satisfeito vou até o guarda-roupa abro as portas com força as quebrando também e jogo todas as roupas que eu tenho no chão, inclusive r***o algumas peças enquanto grito de raiva, ódio, ressentimento, mágoa e todas as outras coisas que estão aprisionadas no meu peito.
A minha ira é tanta que se alguém estivesse na minha frente certamente eu teria coragem de matar.
Enquanto eu grito e r***o as peças eu vejo Elaine entrando assustada no meu quarto perguntando o que está acontecendo.
— Saí daqui, eu quero ficar sozinho.
— Henrique, você está quebrando tudo. Desse jeito você vai acordar a Lara.
— Eu já mandei sair daqui, c*****o. Some da minha frente, eu não quero te ver. Falo gritando com ela.
Ela me olha assustada e sai sem falar mais nada. Eu volto a rasgar as coisas, mas aquilo não é o suficiente então eu coloco um travesseiro no rosto e grito para abafar o som. Eu precisava colocar para fora tudo que estava preso durante todos esses anos, as lágrimas começam a rolar sem controle, minha respiração descontrola, meu peito dói, a angústia aumenta, o medo de perder a Sol para sempre é angustiante.
A verdade é que eu ainda possuo esperanças de que iremos ficar juntos, eu não sei o porquê mas eu não consigo desistir dela. E não vai ter casamento certo que vai nos impedir de ficar juntos. E quando isso acontecer eu vou me queimar no meu Sol particular pela eternidade.
Depois de um tempo gritando, me deito no chão cansado e fecho os olhos e clamo a Deus em meu desespero.
— Senhor! Me ajuda por favor, eu não aguento mais essa situação. Eu amo e quero essa mulher para mim, eu sei que nós estamos casados no papel com outras pessoas mas o Senhor sabe que meu corpo, minha alma e minha mente está casado com ela e eu sei que ela também me ama e vai ser minha de novo, mas eu não estou aguentando mais esperar. Faz alguma coisa e trás ela de volta para mim meu Pai senão eu vou enlouquecer.
Quando termino a oração estranhamente me sinto um pouco mais calmo, o ritmo do meu coração começa a desacelerar aos poucos e eu volto a raciocinar. Olho ao redor e vejo o grande estrago que eu fiz e percebo que eu preciso voltar ao meu ponto de equilíbrio em todos os sentidos, está na hora de colocar a minha vida nos trilhos novamente, eu não posso viver assim para sempre.
A primeira coisa a se fazer é arrumar essa bagunça que eu fiz, depois eu vou comprar um novo aparelho celular e recuperar o número do meu telefone, ligar para Graça e me desculpar, comprar outros móveis para o meu quarto e me separar da Elaine, afinal eu preciso estar desimpedido quando a Sol voltar para minha vida.