Capítulo3

2059 Words
Heloisa Quando despertei no dia seguinte, me custou um pouco acreditar em tudo o que tinha rolado. Abri os olhos com a claridade do dia querendo entrar pelas cortinas que protegiam o meu quarto, e por mais que eu sentisse dois braços pesados e fortes rodearem a minha cintura, eu ainda não conseguia acreditar em tudo o que tinha acontecido. Bernardo e Gabriel estavam tão enrolados em mim quanto se podiam ficar, e apesar de todo o calor que fazia e do meu corpo todo suado, não me movi um centímetro sequer para me afastar de ambos os corpos quentes. No fundo eu temia me mover e acabar descobrindo que tudo aquilo não tinha passado de um sonho, e que eu acordaria para descobrir estar completamente sozinha. Os sons do café da manhã sendo preparado na cozinha chegavam até mim pela porta fechada do meu quarto, e enquanto eu ainda encarava o teto do meu quarto ouvi três batidinhas suaves na porta. Fiquei quieta, pensando comigo mesmo se respondia ou não. Ao mesmo tempo em que eu queria pedir para que a pessoa entrasse, eu também temia abrir a boca e acabar acordando Gáb e Bernardo, que dormiam a sono solto. De alguma forma eu tinha me virado na cama, esparramando-me no meio dela, enquanto os dois tinham se aconchegado contra o meu corpo como se fossemos um só. Não sei como não senti o desconforto, pois ambos eram pesados. Só sei que acordei com Gabriel e Bernardo enroscados em meu corpo, ambos tinham suas pernas jogadas em cima das minhas coxas – por isso todo o calor que eu estava sentindo – enquanto suas cabeças repousavam na curvatura do meu pescoço. Acabei ficando de braços abertos, abraçando-os contra mim, e a única coisa que explicava eu ter conseguido ficar naquela posição desconfortável, era o medo que eu sentia de ficar sozinha novamente. Antes que eu tomasse a decisão de abrir a boca e pedir para a pessoa entrar, a porta estava sendo aberta e Paula colocava sua cabeça para dentro, finalmente adentrando silenciosamente ao quarto ao ver que eu era a única acordada. Os meninos ainda ressonavam tranquilos contra o meu pescoço, e eu procurei não me mover muito para não os acordar. Os olhos da minha curiosa irmã se detiveram em nós três por um momento, antes que deslizassem lentamente pelos nossos corpos. Percebi tarde demais que o grosso cobertor que usávamos antes tinha deslizado pelos nossos corpos, deixando a parte superior dos corpos dos meninos expostos e amontoando-se nos quadris deles, deixando muito pouco para a imaginação fértil da minha querida irmã. Pigarrei chamando sua atenção, e ela pelo menos teve a decência de corar ao ser pega no flagra. — Bom dia. — murmurei estreitando meus olhos para ela e vi seu sorrisinho descarado á lá Paula. — Bom dia, irmãzinha. Como passou a noite? Acho que muito bem, hein. — sorriu descendo os olhos novamente, demorando-se um pouco no que eu bem sabia ser onde estavam os quadris de Gáb e Bernardo, ainda cobertos pelo cobertor. — Eles dormiram pelados? — sua voz abaixou para um cochicho, enquanto ela inclinava-se um pouco para mais perto da cama, tentando capturar qualquer coisa que alimentasse aquela mente pervertida. — Paula! — minha voz saiu mais alta do que o normal, enquanto ela tentava manter a risada baixa. Gáb resmungou em seu sono e se apertou ainda mais contra mim, a mão grande se enfiando por dentro da blusa fina do meu pijama, arrepiando-me no processo. — Ok, ok... — Paula levantou a mão para o alto, porém o sorrisinho sem vergonha ainda pairava em seus lábios. — A mãe quer saber se os seus... hum... namorados. — corei com aquela última palavra, o que só fez com que ela sorrisse ainda mais. — Ela quer saber o que eles preferem no café da manhã, sabe... Ela não vai abrir o restaurante hoje, e quer manter um olho em vocês, eu acho... — Diz para ela não se preocupar com a gente. O que ela comprar está bom. — a voz sonolenta de Bernardo ecoando me pegou de surpresa, e quando tentei virar a cabeça para o lado para vê-lo, ele se apertou mais contra mim e fungou em meu pescoço, fazendo-me retesar o corpo com cócegas. — E não, não estamos pelados. Mas você precisa sair para que a gente levante. Ele cutucou um pouco o corpo de Gáb até que ele acordasse resmungando, e Paula saiu do quarto rindo baixo, enquanto meu rosto ainda estava levemente avermelhado. — Merda! Que horas são? — Gabriel levantou apressado no exato momento em que Paula fechava a porta ao sair, não se dando conta de que por pouco ele não dava um belo show para uma telespectadora muito da curiosa. Observei ele pular da cama e caçar o celular apressadamente dentro das calças, xingando baixinho enquanto mexia nele e depois o colocava contra sua orelha. — Mathias! Oi, eu não quis ligar antes por ser muito tarde. Preciso que segure as pontas para mim no escritório. Vou precisar me ausentar por uns dias e trabalhar de casa. — fez uma pausa, seus olhos se cravando primeiro em mim e logo depois em Bernardo, que somente se esticou na cama e voltou a se aconchegar confortavelmente contra mim. — Sim, é pessoal. Peça para Tatiana anotar os meus recados e remarcar meus compromissos. Obrigada. — desligou o celular, jogando-o em cima de suas roupas e se aproximou da cama, sentando-se ao meu lado e se inclinando para deixar um selinho contra meus lábios. — Você não tem que avisar nada na empresa, Bê? — perguntou ao se inclinar sobre mim e deixar um selinho em Bernardo. — As maravilhas de ser o dono... — Bernardo sorriu arrogante ao colocar seus braços atrás de sua cabeça, e eu ri ao ouvir Gáb bufar. — Mandei uma mensagem para Pietro avisando que iria me ausentar, e que agora era a hora dele mostrar que vale a pena todo o dinheiro que pago para que ele trabalhe como Vice Diretor da empresa. Bom dia, princesa. Dormiu bem? — se voltou para mim com um sorriso lindo no rosto, deixando também um selinho sobre meus lábios. — Sim. — suspirei, ainda sem acreditar que aquilo tudo era real. — Eu não quero dar trabalho há nenhum de vocês. Está tudo bem mesmo você ficarem? — Está. — foi Gáb quem me respondeu, arrastando-se mais para perto para que pudesse me abraçar de lado na cama, porém Bernardo logo cortou o seu barato – o nosso – ao falar que precisariam levantar. — Dona Ana aparentemente está preparando o café e irá ficar em casa hoje. E eu não quero abusar de sua boa vontade. Apesar de eu querer ficar deitada com eles pelo resto daquela manhã, e talvez a tarde e noite também, eu tinha que admitir que Bernardo tinha razão. Eu não sabia até onde iria a paciência da minha mãe com tudo aquilo e eu também não queria abusar da sorte. Ainda era tudo muito recente para saber se ela iria aceitar ou não aquilo de bom grado. Eu bem sabia que ela poderia ter permitido aquilo tudo por acreditar que eu precisava deles naquele momento. Sendo assim, levantamos os três da cama e saímos daquele quarto logo após Bernardo e Gabriel se vestirem. Ambos usavam calças grossas de moletom, mas nada podíamos fazer quanto aquilo. E eles não pareciam inclinados a irem para casa somente para trocarem de roupa. Não sem enfrentarmos aquele café da manhã em família juntos. E o que eu pensei que seria um café da manhã silencioso e desconfortável, se mostrou um momento até mesmo descontraído. Minha mãe estava um tanto quanto silenciosa, limitando-se a olhar entre nós três, mas Paula descontraia o momento com suas piadas infames e suas brincadeiras sobre eu roncar muito, por isso a cara de cansados dos meninos. — Mãe, tudo bem? — não me aguentei mais de ansiedade e finalmente fiz a pergunta. Ela ainda se mantinha em silencio, enquanto tomávamos café. — Ok, eu não me aguento mais! — aquilo me pegou de surpresa, e não fui a única, pois Paula – que ainda falava, falava e falava mais um pouco – finalmente calou a boca e prestou atenção em dona Ana, que lançava olhares entre os rapazes congelados ao meu lado. — Eu realmente não consigo entender como isso funciona. Vocês não eram gays? Eu m*l notei que tinha me engasgado, até que senti tapas sendo deixados em minhas costas. A risada de Paula soou escandalosamente alta por entre a cozinha silenciosa, e eu tinha a plena certeza de que o meu rosto estava ficando em vários tons de vermelho. Dentre todas as coisas que imaginei que ela pudesse falar, aquilo, definitivamente, era a última coisa que me passava pela mente. — Mãe! — resmunguei quando finalmente pude respirar. Gabriel parou de me olhar preocupado, e finalmente virou seu olhar para a minha mãe. Notei que seu rosto estava corado também. — Isso é coisa que se pergunte? Ainda mais no café da manhã! — É bom que eles se acostumam. — se limitou a me responder antes de virar seus olhos curiosos para Bernardo e Gabriel, que pigarrearam como se estivessem prestes a explicar toda a coisa detalhadamente, porém nada disseram. — Eles são Bi, mãe. Gostam das duas coisas. — Por fim, foi Paula quem quebrou todo o silencio, com todo o seu jeitinho especial e descarado, tornando aquilo tudo ainda mais constrangedor. — Estou certa? As caras de Bernardo e Gabriel estavam impagáveis, e até eu precisei segurar o riso ao ver o aceno quase que imperceptível que ambos deram ao confirmar a explicação de Paula. Dona Ana se levantou da mesa, balançando a cabeça e resmungando sobre não entender os jovens de hoje em dia, enquanto eu praticamente podia sentir toda a atmosfera mudando. Se eu achava antes que ela tinha algo r**m a dizer sobre nós, aquilo tinha mudado. Ainda era um tanto quanto constrangedor, mas eu podia aguentar a vergonha tranquilamente se o único problema da minha mãe era entender como nós três funcionávamos juntos. Bernardo e Gabriel relaxaram ainda mais quando ao final do café da manhã nos sentamos todos na sala e finalmente colocamos todas as cartas na mesa. Paula já estava ciente de toda a nossa história, mas para dona Ana aquilo ainda era uma novidade. E foi muito bom ver sua expressão temerosa se desfazendo aos poucos, conforme revelávamos como escondemos tudo aquilo e como íamos nos sentindo sobre uns aos outros a cada dia que passávamos mais tempo juntos. E então finalmente pude perceber o quão i****a foi esconder tudo aquilo e em como eu poderia ter evitado tanta coisa se eu tivesse exposto meus sentimentos. O clima agradável se seguiu, e nem mesmo vimos o tempo passar. Minha mãe estava até mesmo rindo das palhaçadas que Paula contava e das fofocas que rolavam quando nós duas nos aproximamos dos meninos para fazer valer aquela farsa toda. Eu estava sentada com os rapazes no sofá de três lugares, enquanto minha mãe e Paula estavam no outro. A televisão estava ligada, mas ninguém prestava atenção no que passava nela. A porta de entrada da casa estava fechada, somente a janelinha de vidro estava aberta, enquanto dois ventiladores rodavam refrescando a todos nós. E eu tinha um sorriso nos lábios, enquanto tinha o meu corpo contra o peito de Bernardo e os meus pés no colo de Gabriel. Tudo estava muito bom, tudo fluindo muito bem. Até que a porta da sala se abriu em um rompante e aquele monte de marmanjo a quem eu chamo de primo entra sem nem mesmo bater. Por um momento angustiante todos calaram a boca, enquanto o ambiente recaia em um silencio absoluto e, sinceramente, agonizante. Os olhares de todos se cruzaram, até que, finalmente se cravaram em nós. Bernardo, Gabriel e eu. Se olhassem bem para a posição que estávamos sentados iam perceber que era um tanto quanto comprometedora. O abraço possessivo de Bernardo não deixava mentir que tinha alguma coisa rolando ali. E naquele momento eu nem mesmo quis esconder mais. Estava na hora de finalmente revelar e enfrentar o mundo. Mesmo que o mundo fossem os meus primos naquele momento.
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