Olá, queridas leitoras do meu coração! 💕
É com muita alegria que dou início a mais uma história, mais um mergulho profundo nas emoções para todas vocês que me acompanham de perto. Antes de vocês entrarem nesse universo que estou prestes a apresentar, quero esclarecer algo importante: este livro pode conter alguns erros e falhas. Além de me dedicar à escrita, também trabalho fora e sou mãe de dois filhos, que são tudo para mim. Por isso, nem sempre consigo revisar cada detalhe com a calma que gostaria.
Peço, então, a paciência e o carinho de vocês enquanto percorremos juntos esta jornada. Cada capítulo é escrito com muito amor e dedicação, mesmo no meio da correria do dia a dia. Agradeço imensamente a todas que estão aqui, novamente acompanhando as minhas histórias vocês são parte essencial deste sonho que estou constantemente construindo.
Desejo uma boa leitura a todas e preparem-se: Nas Garras do Lobo não promete finais fáceis, apenas verdades cruas e emoções intensas. 🐺🩸
Com todo o carinho,
Val Veiga, Autora ✍🏻
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**Capítulo 1 — Narrado por Lara**
A música tocava tão alto que parecia que o prédio inteiro pulsava no mesmo ritmo. Eu não me importava; era a minha maneira de desligar do mundo, de esquecer que a vida em casa às vezes pesa mais do que deveria. Dancei em frente ao espelho, vestindo meu short de algodão e uma blusa preta que escorregava de um ombro. Estava descalça, com meu cabelo preto, longo e volumoso, balançando livremente. O batom vinho que havia passado tão distraidamente ainda estava perfeito, e eu não conseguia deixar de rir de mim mesma toda vez que errava a letra e criava uma versão própria da canção.
Com apenas 19 anos, já tinha um corpo que nunca passava despercebido. Era gorda, com quadris largos, coxas grossas e um b***o volumoso. Para quem não me conhecia, isso era apenas um excesso; para mim, sempre foi presença. Minha mãe, Camila Albuquerque, costumava dizer que eu deveria ocupar espaço no mundo sem pedir permissão. Já meu pai, Roberto Monteiro Albuquerque, tinha uma visão bem diferente: delegado de linha dura, acreditava que ocupar espaço era sinônimo de causar conflitos.
Foi então que, de repente, a porta se abriu com um estrondo. Não ouvi a chave girando; percebi apenas quando alguém puxou meu fone de ouvido com força, quase derrubando meu celular.
— Tá surda, Lara? A voz profunda dele ressoou no ar, cortando o clima da música.
— Pai!
Gritei, virando-me rapidamente.
— Você não sabe bater na porta, não?
Ele estava encostado no batente, mantendo sua postura habitual: ombros largos, camisa social amassada, típica do plantão, e uma expressão fechada. Com olheiras evidentes, a barba por fazer e aquele olhar que sempre parecia estar avaliando uma cena de crime, mesmo dentro da própria casa.
— A casa inteira tá tremendo Respondeu ele, com um tom seco.
— E daí? Cruzei os braços, desafiadora.
— É melhor do que ouvir sirene, né?
Ele suspirou profundamente, tirou o celular do bolso e, como sempre, o aparelho vibrou mais uma vez. O plantão nunca parece ter fim. Deixou o celular em cima da cômoda e me analisou de cima a baixo. Odiei aquele olhar; ele me fazia sentir como se estivesse sendo avaliada por um delegado e não por um pai.
— Você devia respeitar mais. Ele falou em um tom mais baixo, mas com a firmeza que não deixava espaço para contestações.
— E você devia aprender a bater na porta. Rebati, mantendo o mesmo tom desafiador.
Silêncio. Ficamos quietos por alguns segundos, e eu ainda sentia a música vibrando em meu corpo, mesmo com o quarto em calma. Meu coração batia forte. Ele respirou mais uma vez, retirou o coldre da cintura e o colocou em cima da escrivaninha, que estava abarrotada com meus livros. O contraste era gritante: uma caneta rosa com glitter, um esmalte aberto, e o coldre do delegado jogado ali como se fosse algo normal.
Sentei-me na beira da cama, peguei um pacote de bolacha que estava aberto e falei com a boca cheia:
— Você vai acabar doente, sabia? Carregando todos esses casos, chegando em casa desse jeito… ninguém aguenta viver assim.
Ele me olhou como se eu tivesse dito uma bobagem, mas não respondeu. Caminhou até a janela e fechou a persiana.
— O mundo lá fora não é brincadeira, Lara.
— E aqui dentro é? — Questionei, arqueando a sobrancelha.
Ele respirou fundo novamente. Era sempre assim: ele exausto, eu desafiando. Mas a verdade é que, por trás da sua bronca, eu conseguia perceber o cuidado que ele tinha por mim. O mesmo homem que se endurecia na rua era aquele que me esperava ao voltar do cursinho, que se irritava quando eu esquecia de mandar notícias, que comprava meu chocolate favorito às escondidas.
Peguei meu celular e, mesmo com ele me observando, religuei a música, mas num volume mais baixo. Não porque ele havia mandado, mas porque eu queria evitar mais uma briga.
— Tá feliz agora? Perguntei, debochando.
Ele esboçou um sorriso discreto, quase imperceptível.
— Mais ou menos.
Olhando para ele, soltei:
— Você deveria rir mais, viu? Fica sempre com essa cara de quem está carregando o mundo nas costas.
— E quem você acha que faz isso, Lara? Ele rebateu, com um tom de seriedade.
Eu não consegui responder. Apenas abaixei o olhar. Ele tinha uma parte da razão, mas não queria admitir isso. Minha mãe, Camila, não morava mais conosco. Ela ligava, mandava mensagens e aparecia de vez em quando, mas a rotina diária era agora apenas entre mim e meu pai. Dois teimosos compartilhando o mesmo teto.
Ele pegou o celular novamente, leu uma mensagem rápida e soltou um suspiro impaciente. Eu aproveitei a oportunidade para provocar:
— Morro da Serpente?
Os olhos dele se elevaram imediatamente, e o olhar duro retornou.
— Onde você ouviu isso?
— Pai, pelo amor de Deus, isso está em todo lugar! Em jornais, na TV, até a vizinha fala sobre isso no elevador. Todo mundo sabe.
— Não quero que você repita esse nome aqui dentro. Ele falou de maneira contundente.
— Por quê? Agora é como se fosse Voldemort? Respondi, rindo sozinha, achando graça da situação.
Ele não compartilhou da minha diversão. Virou o rosto, passou a mão pela barba e respondeu, com um tom carregado:
— Tem coisas que você simplesmente não entende.
— Então explique. Cruzei os braços, desafiadora.
— Não. Sua resposta foi direta e fria.
Senti meu sangue ferver. Ele sempre fazia isso: lançava a incógnita, deixava o silêncio se instalar como uma neblina pesada e tratava-me como se eu ainda fosse uma criança de dez anos. Respirei fundo, buscando controlar a tremedeira da minha voz, mas ela saiu ríspida:
— Você precisa parar de me tratar como uma garotinha, pai. Eu já tenho 19 anos. Eu não sou burra. Já não basta nunca explicar por que a mamãe saiu de casa? Vocês acham que eu consigo engolir tudo isso em silêncio?
Ele ficou paralisado. Seu maxilar se contraiu, como se estivesse mastigando palavras que não queria soltar.
— Lara, não comece.
— Não comece nada! levantei-me da cama, com o peito arfando de indignação. — Você me olha como se eu fosse um problema para ser resolvido. Você me protege do mundo todo, mas não tem coragem de me contar a verdade aqui dentro. Eu já entendi que não foi apenas uma questão de vocês não darem certo. Isso é uma mentira barata. Eu quero ouvir de você: por que a mamãe foi embora?
Ele passou a mão pelo rosto, virou as costas e fixou o olhar na janela fechada. O silêncio que se seguiu pesou mais do que qualquer grito que eu poderia imaginar. Não aguentei.
— Me responde! A voz falhou ao sair. — Você quer me proteger de quê? Do que já me destruiu por dentro há muito tempo?
Ele se virou de repente. Os olhos estavam vermelhos, e sua voz, quando finalmente se fez ouvir, foi como um choque:
— PORQUE A TUA MÃE NÃO TE QUIS, LARA!
Senti como se o chão tivesse sumido sob meus pés. Fiquei encarando-o, incapaz de acreditar que aquelas palavras saíram da boca do meu pai.
— Como assim? Minha voz saiu baixinha, quase engasgada.
Ele passou a mão pelo rosto, mas já havia perdido o controle.
— A Camila não foi embora porque a gente brigava ou porque não me amava mais. Ela saiu porque não aguentava você. Não queria você. Ele cuspia as palavras, como se fossem veneno que queimasse a língua. — Ela dizia que não tinha paciência, que não nasceu para ser mãe de uma menina como você.
Meu peito ardeu, como se tivesse levado um soco.
— Menina como eu? Perguntei, tremendo.
Ele fechou os olhos por um segundo, mas continuou:
— Ela dizia que você era demais. Que comia demais, que falava demais, que ocupava espaço demais. Que não tinha estrutura para lidar com uma filha gorda, teimosa, cheia de opiniões. Que você seria um reflexo dela e ela não queria se ver em você.
As palavras dele me cortavam como lâminas, uma após a outra.
— Você está mentindo. sussurrei, mas a voz despedaçou-se.
— Eu queria que fosse mentira. Ele me olhou com seriedade, mas seus olhos transbordavam sofrimento. — No dia em que ela saiu, me disse: “Fica com ela. Eu não sei ser mãe dessa menina. Eu não quero ser mãe dela.”
Senti meu mundo desmoronar dentro de mim. Não chorei na frente dele. Não daria esse prazer a ele. Permaneci parada, segurando o pacote de bolacha que, de repente, pesava como chumbo em minha mão.
Ele respirava fundo, ofegante, como se também tivesse levado um golpe.
— Eu tentei esconder isso de você. Passei anos tentando. Inventei desculpas, contei meias verdades, fingi que ela era apenas ausente. Mas você quis saber. Agora você sabe.
O quarto estava abafado. O silêncio não era mais silêncio: era um grito preso na minha garganta, que não encontrava saída.
Meu pai apanhou o coldre sobre a escrivaninha, seus olhos ainda vermelhos, e disse, com um tom mais baixo, quase arrependido:
— Eu preferiria que você me odiasse a viver na ilusão de que ela voltaria.
E saiu, batendo a porta com força.
Fiquei sozinha, olhando meu reflexo no espelho. O batom vinho borrado, o cabelo desgrenhado, o peito ainda arfando. Pela primeira vez, não sabia se odiava mais a minha mãe... ou a mim mesma.