📓 Narrado por Roberto Monteiro Albuquerque — Me deixou com uma filha no colo e uma casa cheia de silêncio. O Lobo só me olhava, tragando devagar, como quem saboreia o veneno que acabou de destilar. — Você fala da Camila como se ela tivesse morrido, — ele provocou, — mas o jeito que diz o nome dela ainda sangra. — Porque ela me matou, Lobo. — respondi, direto. — Me matou do jeito mais covarde que alguém pode morrer: acordado. Dei um passo pra frente, a água respingando da barra da calça. — A Camila me abandonou quando a Lara era pequena. Pequena demais pra entender o que é rejeição. Eu inventei mil desculpas pra não deixar minha filha carregar o peso disso. Disse que a mãe viajava, que tinha sumido pra trabalhar, que voltaria no Natal. Mas todo Natal, era só eu e ela. — Respirei fundo.

