Narrado por Cascavel Meu nome não importa. Nome é só rastro, e eu aprendi cedo que quem deixa rastro acaba no chão. Aqui no asfalto, me chamam de Cascavel. Não foi eu que escolhi foi o mundo que ouviu meu veneno primeiro e nunca esqueceu o som do bote. Tenho quarenta e dois anos. Pele curtida pelo sol de rua, braço riscado de cicatriz, cada uma lembrando que sobreviver custa caro. Dente de ouro brilhando quando eu rio, tatuagem de cobra enrolada no pescoço, olho frio que não pisca quando aperta gatilho. Dizem que eu sou lenda. Eu digo que lenda é coisa morta. Eu tô vivo, e enquanto respirar, cada esquina vai saber que tem que temer meu passo. Foi eu quem pagou a farda pra subir o morro naquela noite. O Lobo não sabe. Nem o moleque que ele criou. Nem a favela inteira que chora até hoje

