Narrado por Lara
O sol da manhã entrou pelas frestas da cortina, cortando meu quarto em linhas douradas. Eu demorei uns segundos pra lembrar do que tinha feito na noite anterior. A tesoura ainda estava jogada na penteadeira, e no chão, um tapete de fios pretos espalhados como testemunhas do meu surto de coragem.
Levantei devagar, me olhei no espelho de novo. O cabelo agora batia no queixo, cheio, volumoso, rebelde. Diferente. Eu mesma estava diferente. Passei a mão nas pontas, ajeitei de qualquer jeito e sorri sozinha. Aquela era eu.
Desci as escadas sentindo o cheiro de café fresco misturado com pão quentinho. A cozinha estava como sempre de manhã: a mesa posta, a empregada arrumando meu prato e meu pai sentado com o jornal aberto, óculos no nariz e xícara de café na mão. Ele lia como
