Narrado por Lobo A boca tava acesa, mas quando eu cheguei, silêncio caiu. É sempre assim: passo firme no cimento, corrente batendo no peito, cigarro queimando no canto da boca… e agora com a Sombra enrolada no braço, pesando como corrente viva. O bicho se mexia lento, língua fina cortando o ar, e a molecada abriu espaço sem eu precisar falar nada. Baralho sumiu da mesa, gargalhada morreu na garganta, até o radinho pareceu ficar mais baixo. Encostei no muro, puxei uma tragada funda e deixei a fumaça escapar devagar. Do lado, Cascão só me olhava, braço cruzado, o rádio ainda chiando no ombro. Ele coçou a barba rala e soltou, voz baixa, quase num sussurro: — Não sei como tu consegue ficar com esse bicho, chefe… Virei o rosto devagar, a Sombra erguendo a cabeça junto comigo, olho frio, co

