Era cedo, mas o morro já estava acordado. O cheiro de café fresco escapava das casas, misturado com fumaça de carvão queimando. Eu desci a ladeira devagar, sentindo cada pedra no caminho, a bolsa leve no ombro, a sacola dos exames balançando na mão. A consulta estava marcada para às dez, mas eu tinha saído antes, queria caminhar com calma, respirar o ar úmido da manhã, organizar a cabeça. Foi quando ouvi a voz dela. — Vai pra onde, Júlia? Parei. O corpo gelou antes da mente entender. Virei devagar e era a Vera. Estava encostada no portão da vizinha, braços cruzados, postura firme. O cabelo preso num coque simples, a expressão séria. E aquele olhar que parecia saber antes mesmo de perguntar. — Consulta. Obstetra. Revisão do último ultrassom. Ela não respondeu de imediato. Ficou só me

