O calor no morro era abafado naquela tarde, e o corredor da ONG parecia mais estreito do que nunca. Eu acabava de sair de uma reunião rápida com a Marcele e caminhava em direção à sala de comunicação quando ouvi uma voz que parou meu corpo antes mesmo da mente processar. — Júlia? Virei devagar. O peito travou. Rodrigo. Camisa social amassada, cabelo bem cortado, o mesmo perfume que eu reconheceria até de olhos fechados. O homem com quem eu tinha planejado casar. O mesmo que, há um ano, tinha me deixado por uma mais nova, mais "disposta", mais "vazia". — O que você tá fazendo aqui? — perguntei, dura. E ele ergueu as mãos, como quem pede trégua. — Só quero conversar. — Aqui não é lugar. E nem momento. — Júlia... por favor. Dois minutos. Olhei em volta. O barulho dos corredores, gent

