15 de dezembro de 2008. O retorno...

1979 Words
Assim que pus os meus pés em solo brasileiro, tinha em cada célula do meu corpo a determinação de fazer as coisas darem certo. Retornei sabendo das dificuldades que terei de enfrentar e das barreiras que terei de transpor para ter credibilidade diante dos meus funcionários e parceiros de negócios. A primeira coisa que fiz quando saí da escola, estando ainda na Suíça, foi ir para um hotel, na cidade de Rolle. Cidade onde fica o luxuoso internato que morei por anos. Uma verdadeira gaiola dourada! Eu, necessitava acalmar a minha mente. Precisava de um tempo só para mim, sem cobranças de parte alguma. Nathan, um amigo do que estudou comigo, me convidou para ficar em sua casa na cidade de Lauterbrunnen, mas declinei o convite. Não queria ser incômodo para ninguém. Fiquei por lá até a data de partida para o Brasil. Foi o tempo que precisei para acalmar a raiva e outros sentimentos que gritavam dentro de mim, quase me levando à loucura. Mas agora estou aqui com a cara e a coragem para tomar posse do que é meu, inclusive do que me cabe da fazenda Grão Doce. Não avisei Genaro sobre minha chegada, mas ele já deve ter uma noção de que a qualquer momento darei as caras. Puxo minha mala enquanto busco um táxi. A corrida será longa e cara, todavia é necessária. Preciso providenciar minha carteira de motorista, ter meu carro e não depender de outros para me locomover. Outra coisa que necessito com urgência é de um aparelho celular. Quando recebi a notícia do falecimento da minha mãe, estilou o aparelho no chão. Desde então, estou sem. Durante o trajeto, fico pensando como seria o dia de hoje se minha mãe estivesse viva. Será que nós dois iríamos embora, para longe de Genaro? Quando chego na porteira da fazenda, fico olhando e tomando coragem para entrar. Pago ao taxista, desço do veículo que faz a volta e some levantando uma nuvem de poeira. Atravesso a rua e sigo pelo caminho até chegar à casa de Genaro. São quatro horas da tarde e a movimentação de trabalhadores é intensa. Alguns me veem chegando e param para olhar, outros cochicham. Entro pela porta da frente e logo avisto uma morena bonita limpando os estofados de couro branco. _ Boa tarde, meu pai está em casa? - pergunto, anunciando minha chegada. No susto, ela deixa uma garrafa com um líquido viscoso cair no chão. _ Oh, droga! Desculpe, moço, eu não vi você. - diz enquanto se abaixa para pegar a garrafa. - Você é filho do senhor Genaro? - Sim, ele está? - pergunto enquanto a moça retira alguns fios do rosto. - Não, ele foi à cidade. Mas vou chamar minha tia. - dizendo isso, saiu da minha presença. Seu rosto estava ruborizado e parecia nervosa com minha presença. Não demorou para que sua tia surgisse, era a mesma senhora que cuidou dos meus ferimentos e, bem, naquela ocasião sequer perguntei o seu nome. - Menino! Você voltou! - disse com um sorriso largo no rosto. - Está mais bonito, mas forte! Fui agraciado com um abraço, o qual me pegou desprevenido e me deixou sem reação alguma. Fui arrastado para dentro. A senhora parecia feliz em me ver. - Luíza, passa um café fresco para o patrãozinho! - gritou para a menina que parecia ser sua sobrinha, uma vez que a garota se referiu à senhora como tia. - Não precisa fazer café, estou sem fome! - falei enquanto pegava minha mala. _ Mas vai comer uns pães de queijo bebendo o quê? Chá? Melhor mesmo é um café, que o trem dá um gosto bom na boca, sô. _ Tudo bem, mas antes preciso de um banho. Pode me acomodar num quarto, por favor? Fui observando as mudanças na casa. Não tinha mais nenhum quadro da minha mãe nas paredes. Sua estante cheia de livros deu lugar a um móvel estilo bar. Nossas fotos foram trocadas por miniaturas de bois esculpidas em madeira. Ele realmente está se livrando de tudo o que era dela. _ Perdão, mas qual é o nome da senhora? - perguntei. - Da última vez que estive aqui, não perguntei e... _Esquenta com isso não, uai! Cê num tava bem. Mas meu nome é Teresa. _Obrigado pela compreensão, dona Teresa. Posso lhe fazer uma pergunta? _ Uai, claro! _ Onde meu pai colocou as coisas da minha mãe? Ela soltou um muxoxo inaudível e depois me olhou como se estivesse num dilema se deveria ou não me contar. _ Vamos fazer o seguinte, depois que você se arrumar no quarto e tomar aquele café, nós conversamos. Seu pai foi para a cidade e não volta hoje, então podemos falar sem medo dele ouvir. _ Tudo bem então. Segui pelo corredor e entrei no quarto. Deixando a porta entreaberta, abri a mala e peguei as peças de roupa que preciso. Ali mesmo tiro minha camisa social branca, meus sapatos e meias, retiro o cinto e a calça jeans. Quando me viro para colocar a calça em cima da poltrona, vejo a moça de mais cedo me espiando pela fresta da porta, seus olhos miram para o volume em minha cueca, está tão compenetrada que nem percebe que foi pega. Faço um barulho com a garganta e a menina se assusta, saindo correndo apavorada. _ Garota curiosa! - fecho a porta do quarto e passo a chave, vou para o banho. A água morna bate em minha pele, suor e cansaço indo para o ralo. Toco em meu pênis, sinto desejo e curiosidade, queria saber como é estar dentro de uma mulher, descobrir o que seus gemidos podem fazer comigo. Quanto tempo eu aguentaria sem gozar no ato e como seria chupar certas partes do seu corpo. Meu sangue entra em ebulição e me masturbo sem pensar em ninguém em específico, apenas com meus pensamentos voltados para a ilusão de como poderá ser quando isso ocorrer. Gozo segurando o urro que ameaça sair da minha garganta; minha respiração fica irregular. Apoio minhas mãos na parede do box e deixo a água bater em minha nuca. Decido que da próxima vez que ejacular, será dentro da v****a de uma mulher e não no ralo de um banheiro. Termino meu banho e me troco, seguindo para a cozinha. Estou ansioso pela conversa e para comer algo. Quando chego, vejo Teresa conversando com uma garota chamada Luíza. A conversa para assim que entro no local. _ Venha, patrãozinho, sente-se que irei te servir. Enquanto Teresa arruma a mesa e busca os utensílios, Luíza me olha intensamente. A moça é bonita, tem a pele morena, cabelos cacheados e olhos cor de jabuticaba. Seus lábios são levemente carnudos. Tento não dar atenção à garota. Tereza me serve e senta ao meu lado. _Acho que o menino já conhece a minha sobrinha Luíza, ela está me ajudando na casa agora, seu pai a contratou. Luíza veio do Rio de Janeiro para ficar aqui comigo, estava dando muito trabalho para minha irmã, só queria saber de bailes funk e namorados, não queria saber de mais nada. A garota empurra a cadeira com o corpo e faz um barulho irritante, seus olhos estão furiosos. _Precisa sair falando da minha vida assim, tia! - ela fala entre dentes, bufando de raiva. _ Luíza! Só estou falando a verdade e, além disso, o patrãozinho não quer saber do que você fez ou deixou de fazer. Falei apenas para desabafar. Não consigo entender como uma menina tão bonita e jovem não quer saber mais de estudar. Sem estudo, não somos nada, Luíza. A juventude passa e depois colhemos o que plantamos. _ Estudar é chato! Gosto de me divertir e namorar, namorar muito. Diz isso olhando para mim e, na mesma hora, me engasgo com o café. Foi um sufoco conseguir respirar novamente. - Cala a boca, menina! Isso não é algo que se fale na frente do filho do patrão! Some, vai, vai para o quartinho que depois eu chego lá. - Ralhou com severidade. - Desculpe, menino, Luíza parece que nasceu com menos neurônios. Não sei o que fazer com essa garota. - Não se preocupe com meu julgamento, pois não o farei. Tudo bem? Agora me fale sobre o que aconteceu com os pertences da minha mãe. - Pedi, disfarçando a tensão que o modo como Luíza falou afetou meus nervos. Ela conseguiu atiçar minha mente, seu modo de dizer "namorar" estava muito além do que a palavra em si sugere, ou seja, ter duas pessoas em um relacionamento amoroso contínuo ou por um período de tempo. Aquilo foi mais intenso e deixado nas entrelinhas do que ela se referia. Será que tão nova, teria tanta experiência? Ou sou eu muito lento nesse aspecto da vida s****l? _Houve uma noite em que seu pai, num rompante de raiva, queria colocar fogo em tudo o que era da dona Analice! Ele estava completamente fora de si, eu juro, menino, nunca vi um trem daqueles. Senhor Genaro parecia possuído pelo coisa r**m - disse fazendo o sinal da cruz - chegou até mesmo a rasgar alguns vestidos dela e estourou um vidro de perfume da patroa no chão. Tentei impedi-lo, mas fui enxotada do quarto da sua mãe. Fiquei tão nervosa, eu sei que tudo aquilo é muito importante para o patrãozinho, então deixei ele sozinho e saí para buscar ajuda, mas todos se negaram a ajudar, tiveram medo de perder o emprego. Voltei para casa e vi que ele tinha feito uma pilha com as coisas dela na varanda, então não perdi tempo. Fui até os medicamentos que sua mãe tomava e peguei um que ela usava para dormir, amassei e misturei no suco de goiaba. Era inacreditável que nem a palavra que me deu, ele iria cumprir. Esperei eu ir embora para poder queimar aquilo que para mim é um tesouro na face da Terra. _ Ele... conseguiu, queimou tudo! Teresa me olhava com um misto de pena e carinho. _ Algumas coisas sim! Fechei os olhos, virando o rosto para o lado. _ O que ele conseguiu queimar? _ Algumas telas, o vestido de casamento, peças de crochê que sua mãe fazia, os sapatos, todos eles, bolsas e algumas fotos. Mas ele estava tão nervoso que ofereci o suco batizado e ele tomou tudo sem perceber. Ficou tentando acionar o isqueiro, mas o efeito do remédio foi deixando sua coordenação lenta e ele acabou desistindo. - falava enquanto olhava para o nada, relembrando do ocorrido - Desabou no sofá da sala e só acordou no outro dia, sem saber o que tinha acontecido. Aproveitei o momento em que ele dormiu e fui até a fazenda vizinha, que era do senhor Amâncio, e pedi ajuda para o Alaor e o José. Quando ela disse isso, um estalo veio forte em minha cabeça. - Calma, dona Teresa, me explique isso direito. A fazenda que faz divisa com a nossa é do senhor Amâncio? - Não prestei atenção nesse detalhe, minha mente estava tão confusa com tudo. Como não pude ter percebido isso antes? - Isso, menino, era dele. Mas voltando ao assunto, os meninos levaram tudo para a casa sede da sua fazenda, está tudo lá. - Genaro deve ter ficado furioso quando não viu a pilha de coisas que queria tacar fogo. - Ficou, mas falei que doei tudo para caridade, que o padre Afrânio passou aqui para nos convidar para a ceia comunitária de fim de ano. Aproveitei e doei tudo aquilo, ele quis até me demitir. Esbravejou, mas depois ficou calmo. Não sei, pode ter pensado que foi o melhor a se fazer. Olhei para Tereza com tanta gratidão por não deixar virar pó as coisas que me trazem memórias afetivas. - Obrigado, Tereza! Obrigado mesmo! Agora preciso descansar, boa noite! - Boa noite, menino!
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