Ana Paula saiu do apartamento de Enzo com o sangue pulsando nas veias. As ruas de Paris pareciam ter ganhado uma nova coloração, uma mistura de liberdade e perigo. A pasta com os documentos estava presa contra o peito, mas o que mais pesava era o que ela sentia por dentro.
O choque. A traição. A excitação.
Três sentimentos que jamais deveriam andar juntos… mas que se misturavam com perfeição naquela tarde cinza.
Ela entrou em um carro de aplicativo e enviou uma mensagem rápida para sua advogada:
“Temos provas. Prepare o bloqueio das contas.”
E depois… digitou uma que não teve coragem de enviar:
“Gustavo, acabou.”
Apagou. Ainda não. Ainda precisava se armar.
Assim que chegou ao hotel, Gustavo estava à sua espera na recepção. Terno impecável, sorriso forçado, mãos no bolso.
— Onde você estava? — ele perguntou, como quem cobra o atraso de uma funcionária.
— Trabalhando. Coisa que você deveria evitar envolver em suas sujeiras.
— Ana…
— Não. — Ela ergueu a mão com calma, mas firmeza. — Não aqui. Nem agora.
Ele tentou tocar seu braço, mas ela desviou com elegância e frieza. Subiu para o quarto sem olhar para trás.
Assim que entrou, trancou a porta. Sentou-se na poltrona e abriu a pasta novamente. Cada papel parecia um soco. Gustavo havia usado sua empresa em pelo menos quatro movimentações ilegais, duas delas diretamente ligadas a empresas-laranja. E mais: havia um contrato assinado por ele em seu nome. Falsificado.
Ela fechou os olhos, a raiva latejando.
Seu celular vibrou. Uma nova mensagem.
Enzo Morelli:
> “Se precisar de mais que provas, eu tenho. Áudios. Assinaturas. E o resto da história. Mas cuidado… ele não é o homem que finge ser.”
Ana encarou a tela por um tempo. As palavras estavam ali, e o subentendido também.
Gustavo podia se tornar perigoso.
Ela se jogou no chuveiro, tentando lavar o dia da pele. A água quente caiu sobre seu corpo, mas não levou a tensão embora. Pelo contrário. Fechou os olhos e a imagem de Enzo reapareceu.
Os olhos escuros. A voz rouca. A proximidade. O cheiro. A promessa.
Uma onda de calor percorreu sua espinha.
Não era só adrenalina. Era desejo.
Ana Paula, a mulher contida, que pesava cada gesto, sentia-se prestes a atravessar um limite. E pela primeira vez… queria atravessar.
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Mais tarde naquela noite, desceu para jantar sozinha no restaurante do hotel. Trajava um vestido preto de seda que desenhava suas curvas com perfeição e deixava os ombros à mostra. Batom vermelho. Salto agulha. Cabelos soltos.
Se Gustavo a visse assim, sabia que reagiria. Mas ela não se importava mais.
Enquanto esperava o vinho, recebeu uma nova mensagem.
Número desconhecido.
> “Bon soir. Disseram que uma mulher hipnotizante estava aqui. Vim conferir.”
Ela ergueu os olhos. Enzo estava parado na entrada, vestindo um terno cinza escuro e uma camisa preta sem gravata. A visão dele fez o ambiente parecer menor, mais quente.
— O que está fazendo aqui? — ela perguntou quando ele se aproximou.
— Paris é pequena. E além disso, fui convidado para o mesmo hotel. — Ele puxou a cadeira e sentou-se sem esperar permissão.
Ana deu uma risada seca.
— Coincidência demais.
— Talvez. Ou talvez o destino esteja finalmente conspirando a nosso favor.
Ela o estudou. O jeito como ele a olhava era diferente. Não era como Gustavo — que admirava o que ela representava. Enzo admirava o que ela escondia.
— E o que mais você tem sobre ele? — ela perguntou, firme, tentando não se perder no magnetismo daquele olhar.
— Provas de que ele tentou vender a sua linha de produtos para uma multinacional sem sua autorização. Ele queria te “blindar”, como ele disse nos e-mails. Na prática? Usar seu nome e sumir com o dinheiro.
Ana quase engasgou.
— Quando?
— Durante o evento de lançamento em São Paulo. Ele negociava enquanto você discursava.
Ela fechou os olhos, tentando conter o enjoo.
Era demais.
Era c***l.
Era imperdoável.
— Por que me contar tudo isso? O que você ganha com isso? — ela perguntou, num tom quase de acusação.
Enzo se inclinou para a frente. Os olhos penetrantes, a voz baixa.
— Eu ganhei sua confiança. Agora quero sua liberdade.
— E o que mais? — ela provocou.
Ele sorriu. Lento. Malicioso.
— Talvez… tudo. Mas eu só vou pegar se você quiser me dar.
Ana sentiu o calor subir pelo pescoço. Era desejo. Era raiva. Era poder.
Ela se levantou devagar.
— Boa noite, Enzo.
— Boa noite, rainha.
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Na manhã seguinte, o mundo de Ana virou de vez.
Ao abrir o jornal digital francês, uma manchete saltou aos olhos:
“Noiva de magnata brasileiro envolvida em fraude milionária.”
E abaixo: uma foto dela, sorrindo em um evento, com Gustavo ao fundo.
O mundo ruía. Em público.
Seu celular disparava notificações. Sócios, jornalistas, clientes. Todos querendo uma resposta.
E então, Gustavo entrou no quarto.
— Viu as notícias?
— Você vazou isso? — ela perguntou, gelada.
— Achei que precisávamos de um choque de realidade. Agora, todos sabem. Melhor você se manter ao meu lado, Ana. Porque sozinha… vão te destruir.
Ela se levantou lentamente, sem pressa. O olhar cortante.
— Errado, Gustavo. É você quem vai cair.
Ele se aproximou com raiva nos olhos.
— Você vai me trair por causa de um cafajeste italiano?
— Não. Vou te expor por causa de quem você é.
E antes que ele respondesse, o interfone tocou.
— Madame Ana, o senhor Morelli está aqui.
Gustavo virou o rosto, surpreso. Ana sorriu.
— Manda subir.
Gustavo tentou impedir, mas Ana o empurrou com calma.
— O reinado acabou, Gustavo.
E quando Enzo entrou, alto, elegante, confiante, ela sentiu que sua vida estava prestes a mudar… para sempre.