Sussurros e Domínio

976 Words
Ana Paula saiu do apartamento de Enzo com o sangue pulsando nas veias. As ruas de Paris pareciam ter ganhado uma nova coloração, uma mistura de liberdade e perigo. A pasta com os documentos estava presa contra o peito, mas o que mais pesava era o que ela sentia por dentro. O choque. A traição. A excitação. Três sentimentos que jamais deveriam andar juntos… mas que se misturavam com perfeição naquela tarde cinza. Ela entrou em um carro de aplicativo e enviou uma mensagem rápida para sua advogada: “Temos provas. Prepare o bloqueio das contas.” E depois… digitou uma que não teve coragem de enviar: “Gustavo, acabou.” Apagou. Ainda não. Ainda precisava se armar. Assim que chegou ao hotel, Gustavo estava à sua espera na recepção. Terno impecável, sorriso forçado, mãos no bolso. — Onde você estava? — ele perguntou, como quem cobra o atraso de uma funcionária. — Trabalhando. Coisa que você deveria evitar envolver em suas sujeiras. — Ana… — Não. — Ela ergueu a mão com calma, mas firmeza. — Não aqui. Nem agora. Ele tentou tocar seu braço, mas ela desviou com elegância e frieza. Subiu para o quarto sem olhar para trás. Assim que entrou, trancou a porta. Sentou-se na poltrona e abriu a pasta novamente. Cada papel parecia um soco. Gustavo havia usado sua empresa em pelo menos quatro movimentações ilegais, duas delas diretamente ligadas a empresas-laranja. E mais: havia um contrato assinado por ele em seu nome. Falsificado. Ela fechou os olhos, a raiva latejando. Seu celular vibrou. Uma nova mensagem. Enzo Morelli: > “Se precisar de mais que provas, eu tenho. Áudios. Assinaturas. E o resto da história. Mas cuidado… ele não é o homem que finge ser.” Ana encarou a tela por um tempo. As palavras estavam ali, e o subentendido também. Gustavo podia se tornar perigoso. Ela se jogou no chuveiro, tentando lavar o dia da pele. A água quente caiu sobre seu corpo, mas não levou a tensão embora. Pelo contrário. Fechou os olhos e a imagem de Enzo reapareceu. Os olhos escuros. A voz rouca. A proximidade. O cheiro. A promessa. Uma onda de calor percorreu sua espinha. Não era só adrenalina. Era desejo. Ana Paula, a mulher contida, que pesava cada gesto, sentia-se prestes a atravessar um limite. E pela primeira vez… queria atravessar. --- Mais tarde naquela noite, desceu para jantar sozinha no restaurante do hotel. Trajava um vestido preto de seda que desenhava suas curvas com perfeição e deixava os ombros à mostra. Batom vermelho. Salto agulha. Cabelos soltos. Se Gustavo a visse assim, sabia que reagiria. Mas ela não se importava mais. Enquanto esperava o vinho, recebeu uma nova mensagem. Número desconhecido. > “Bon soir. Disseram que uma mulher hipnotizante estava aqui. Vim conferir.” Ela ergueu os olhos. Enzo estava parado na entrada, vestindo um terno cinza escuro e uma camisa preta sem gravata. A visão dele fez o ambiente parecer menor, mais quente. — O que está fazendo aqui? — ela perguntou quando ele se aproximou. — Paris é pequena. E além disso, fui convidado para o mesmo hotel. — Ele puxou a cadeira e sentou-se sem esperar permissão. Ana deu uma risada seca. — Coincidência demais. — Talvez. Ou talvez o destino esteja finalmente conspirando a nosso favor. Ela o estudou. O jeito como ele a olhava era diferente. Não era como Gustavo — que admirava o que ela representava. Enzo admirava o que ela escondia. — E o que mais você tem sobre ele? — ela perguntou, firme, tentando não se perder no magnetismo daquele olhar. — Provas de que ele tentou vender a sua linha de produtos para uma multinacional sem sua autorização. Ele queria te “blindar”, como ele disse nos e-mails. Na prática? Usar seu nome e sumir com o dinheiro. Ana quase engasgou. — Quando? — Durante o evento de lançamento em São Paulo. Ele negociava enquanto você discursava. Ela fechou os olhos, tentando conter o enjoo. Era demais. Era c***l. Era imperdoável. — Por que me contar tudo isso? O que você ganha com isso? — ela perguntou, num tom quase de acusação. Enzo se inclinou para a frente. Os olhos penetrantes, a voz baixa. — Eu ganhei sua confiança. Agora quero sua liberdade. — E o que mais? — ela provocou. Ele sorriu. Lento. Malicioso. — Talvez… tudo. Mas eu só vou pegar se você quiser me dar. Ana sentiu o calor subir pelo pescoço. Era desejo. Era raiva. Era poder. Ela se levantou devagar. — Boa noite, Enzo. — Boa noite, rainha. --- Na manhã seguinte, o mundo de Ana virou de vez. Ao abrir o jornal digital francês, uma manchete saltou aos olhos: “Noiva de magnata brasileiro envolvida em fraude milionária.” E abaixo: uma foto dela, sorrindo em um evento, com Gustavo ao fundo. O mundo ruía. Em público. Seu celular disparava notificações. Sócios, jornalistas, clientes. Todos querendo uma resposta. E então, Gustavo entrou no quarto. — Viu as notícias? — Você vazou isso? — ela perguntou, gelada. — Achei que precisávamos de um choque de realidade. Agora, todos sabem. Melhor você se manter ao meu lado, Ana. Porque sozinha… vão te destruir. Ela se levantou lentamente, sem pressa. O olhar cortante. — Errado, Gustavo. É você quem vai cair. Ele se aproximou com raiva nos olhos. — Você vai me trair por causa de um cafajeste italiano? — Não. Vou te expor por causa de quem você é. E antes que ele respondesse, o interfone tocou. — Madame Ana, o senhor Morelli está aqui. Gustavo virou o rosto, surpreso. Ana sorriu. — Manda subir. Gustavo tentou impedir, mas Ana o empurrou com calma. — O reinado acabou, Gustavo. E quando Enzo entrou, alto, elegante, confiante, ela sentiu que sua vida estava prestes a mudar… para sempre.
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