TREZE ANOS ANTES....
"Quando você se encontra perdido pelo caminho é fácil retornar, quando um grande amor te encontra. "
Por: Joshua
Cheguei em Morro agudo e parti para Trrta roxa, fui pedir abrigo para Ignácio, homem de bom coração que sempre me tratou bem, melhor do que meu pai.
Olho em meu relógio e são quase cinco da manhã, desço de veículo e abro a enorme porteira, tráfego pelo caminho até chegar a casa do homem.
Buzino conforme vou me aproximando. As luzes da casa que estavam apagadas, começam a ser acesas e agora, eu, me preparo para receber um não ou um acolhimento. Tudo é possível vindo do nosso próximo.
Ignácio surge na porta com uma expressão abatida e bem cansada.
_ Boa noite!- saudo, sentindo meu maxilar doer a cada palavra proferida.
_ Joshua?!O quê aconteceu rapaz, para você aparecer por aqui a essa hora?- indaga alarmado.
Percebo, então, que meu pai não ligou para seu funcionário para expor nada sobre o meu sumiço. Talvez, meus pais pensem que a minha paixão é uma mulher da cidade, melhor assim.
_ Briguei com meus pais, sai de casa e estou precisando da sua ajuda.- sou honesto, falo a verdade de uma vez.
_ Caramba, rapaz! O que ocasionou isso tudo?
_ História longa, meu amigo.- profiro abaixando a cabeça e lembrando de todas às cenas.
_ Tá um frio dos diabos,vamos entrar. Irei passar um café e si, você se sentir à vontade, pode me contar sobre.
_ Estou precisando mesmo desabafar, dividir isso com alguém.
Entramos na residência campestre, sigo o homem que caminha em direção a cozinha.
Quando chegamos no cômodo amplo, Ignácio puxa uma cadeira e me oferce, para que eu sente.
Prontamente aceito, olho para minha blusa azul clara e só agora percebo as manchas de sangue.
_ Seu pai ficou chateado por você se meter em briga e lhe fez ásperas repreenções? - profere de costas para mim, mexendo na cafeteira elétrica.
_ Antes fosse, ser repreendido por coisas que os rapazes da minha idade fazem, por serem inconsequentes ou por qualquer outro motivo. Esse hematoma em meu rosto, esse inchaço, foi o senhor João Carlos que fez com o próprio punho.- esclareço.
Ignácio, vira o seu corpo na minha direção e me olha como se não acreditasse nas minhas palavras.
_ Pai amado, então o assunto é sério ?
_ Muito, meu caro. Resolvi comandar as rédeas da minha vida e isso deixou meu pai em fúria.
Ignácio franze o cenho e me olha com uma interrogação gigante flutuando acima de sua cabeça.
_ Meu pai quer me casar com uma mulher que não amo. Tudo para alavancar seu nome no exterior. Fui contra, me rebelei, acabamos discutindo e ele me bateu.
O homem senta-se, sua ação sendo executada em câmera lenta, absorvendo os fatos que acabei de narrar e ponderando tudo.
_ Nunca imaginei que o senhor Barreto, fosse capaz de algo assim. Ele é bem severo com os funcionários, entendo que como dono e patrão ele tem de mostrar autoridade e impor respeito. No entanto, querer obrigar o filho a casar? Em que século ele parou?- indaga lívido.
_ Eu abri mão da minha herança, Ignácio, ele me ameaçou, disse que se eu saísse de casa não herdaria nada. Prezo por minha liberdade e essa não tem preço.
_ Isso é verdade, rapaz. Mas pense para não se arrepender depois, tem coisas que não dá para voltar no tempo.
_ Não tenho o que pensar, tudo já está decido. Bom quero saber se posso passar a noite aqui? Amanhã darei um rumo na vida e definirei de vez a minha situação.- profiro, pensando em Olívia.
_ Claro, Joshua, se quiser tomar um banho, fique à vontade.
_ Quero sim, meu amigo, agradeço.
O homem, faz menção de sair da sala e seguir em direção a um corredor.
_ Ignácio, se meu pai te ligar ou algo do tipo...
_ Não se preocupe, ele não saberá que está por aqui.
_ Muito obrigado.
Sigo para fora e pego a minha pequena mala, entro e assim que a deposito no chão, Ignácio surge com uma toalha de banho em mãos .
_ O banheiro e a última porta no final do corredor. Vá se lavar e depois venha tomar café comigo. Acho que te fará bem.
_ De certo que sim.
Pego algumas peças de roupas e sigo para o banho. Deixo a água morna cair sobre minhas costas, massageando meus músculos, levando embora, nem que seja por uma ínfima fração, a tensão em que me encontro.
Enxugo meu corpo, me troco e saio.
Sigo pelo corredor e alguns minutos depois chego na cozinha.
_ Tenho um bolo de laranja que comprei na padaria, não sei se é do seu conhecimento, mas me separei e sou péssimo com a cozinha. Vivo uma verdadeira guerra quando tenho que fritar um ovo, olha que na minha vida nunca comi uma omelete tão crocante quanto a que eu faço, meu rapaz, cheio de casca.
Suas palavras me fazem rir, embora o momento seja caótico para nós dois.
_ Que fase essa que estamos passando, hein?- pergunto para o homem que deposita uma xícara de café, fumegante, bem na minha frente.
_ Oh, nem me fale. Jamais pensei que teria de me afastar da minha menininha.- ele abaixa o olhar para a aliança que ainda continua em seu anelar esquerdo- Sinto falta delas, sabe, mas não posso destruir os sonhos da Valquiria. Se ela, em algum momento percebeu que não era mais feliz comigo, não tenho o direito de perturba-lá. - Ele me lança um olhar saudoso.
_ O senhor ainda a ama?- pergunto curioso.
_ E como! Valquiria é a mulher da minha vida, mas reconheço que fui negligente com as duas e abri espaço para que o sentimento dela por mim fraquejasse.
_ Se eu fosse o senhor iria trás das duas e às traria de volta.- expresso meu ponto de vista.
Ele dá um sorriso triste e me olha diretamente nos olhos.
_ Joshua, quem ama sabe a hora de parar, de deixar o outro partir e viver à vida que lhe tem direito. Quando a mágoa nasce e finca raízes, tudo é mais complicado. Não posso manter ao meu lado uma pessoa que não me quer mais, por puro capricho e égo masculino. É c***l demais.- ele se levanta com a xícara na mão e anda até a pia, apoiando o corpo nela.- Estou sofrendo, mas vai passar. O tempo cura muitas feridas.
Os minutos passaram voando e quando foi por volta das seis da manhã, Ignácio foi organizar-se para trabalhar e eu fui até Barreto, procurar uma agência de carros para vender o meu.
Ao chegar na cidade, foi até rápido encontrar uma loja que me ofereceu um valor razoável pelo veículo, uma quantia de oito milhões de reais. Acertei a venda, houve mais uma negociata, como pagamento pelo meu veículo peguei uma caminhonete e o restante em dinheiro. Eu necessito de um veículo para locomover-me, além de usá-lo no campo para o trabalho.
Assim que recebi a notificação do banco que a transferência foi feita com sucesso, comecei a procurar um pedacinho de terra para comparar.
Não demorou para eu me interessar por uma fazenda aqui em Terra Roxa e outra em Morro agudo.
Agendei as visitas e parti para o ponto principal: Olívia.
Preciso pedir a mão da garota, agilizar o casamento e retirar a familia da menina da propriedade do meu pai.
Quando o senhor João Carlos, tomar conhecimento que Olívia foi quem atravessou seu caminho, vai querer descontar em dona Joséfa e no senhor Valdivino.
Depois de tomar café numa padaria, sendo atração para os clientes que não deixavam de dar uma olhada furtiva para o homem sentado na mesa dos fundos do estabelecimentos, com um roxo enorme no rosto.
Segui para conversar com os pais da minha garota.
O nervoso me consome, transpiro tanto como jamais ocorreu. A saliva me falta e meus nervos tremem.
_ c****e, nunca pensei que algo assim fosse tão difícil. - falo comigo mesmo.
Me lembro como se fosse hoje, a primeira vez que vi a garota, eu com os meus dezoito, hormônios explodindo para todos os lados, dado a libertinagem s****l. Até o dia em que me aproximei de Olívia, dois anos depois. Apartir daquele momento minha vida de " bagunça " terminou, passei a ser somente dela.
Chego na fazenda dos meus pais, perto do horário de almoço e sigo para a casa da garota.
Ansiedade purinha me mastiga devagar, meus nervos tremulam, quero logo resolver tudo e tomar Olívia para mim, acabar com essa distância entre nós.
Por coincidência ou não, apareço no momento em que o pai da menina está quase entrando em casa. Estaciono o meu carro e desço. Senhor Valdivino, assim que me ver fica assombrado.
_ Bom dia, Valdivino! Preciso conversar com o senhor e sua esposa.- falo ao me aproximar.
O homem foca no hematoma em minha face.
_ Bom dia, patrãozinho! Seu pai está na fazenda?- pergunta franzindo as sobrancelhas.
_ Não, o assunto é entre sua família e eu.- falo sem desviar o olhar.
Olívia surge na porta e tudo fica ainda mais complicado para mim, já não está sendo fácil falar com o seu pai e com ela estando por perto, piorou.
_ Me parece que é sério. Bom, queira entrar, por favor, vou chamar a minha esposa.- diz, retirando as botas dos pés.
Antes do Valdivino, adentrar; Olívia some para dentro da simplória construção.
Engulo somente ar e sigo o homem.
Assim que piso na sala, deparo-me com um ambiente simples sem luxo, porém limpo e organizado.
_ Não repara, senhor Joshua, somos pessoas simples.Como pode perceber.- reverbera e então percebo que, sim, eu estou reparando em tudo do sofá esgarsado e sem cor, até a cortina que era vermelha mas desbotou e se tornou algo entre rosa pálido e outra cor sem viço.
Olho para o senhor, mais baixo do que eu, de pele sulcada e cabelos salpicados de fios brancos.
_ Posso me sentar? - pergunto, uma vez que o nervoso me consome.
Nunca na vida pedi alguma mulher em namoro, quiçá em casamento como pretendo fazer agora.
_ Fique à vontade, não demoro.- profere se emburacando por um pequeno corredor.
Poucos minutos depois surge o casal, espantados e me olhando com temeridade.
_Quero falar algo muito sério com os senhores, algo que vai mudar à vida de todos nós. Mas antes, preciso pedir para ambos me escutaram até o fim.
_ Seremos mandados embora?- Joséfa, pergunta enxugando as mãos na roupa que possui várias partes molhadas.
Olho para meus futuros sogros, sabendo que sim. João Carlos deve estar mexendo seus pausinhos para descobrir quem é a garota que " virou" a minha cabeça.
_ Irei ser franco com os senhores, devido às circunstâncias que me trouxeram até aqui, sim.
Vejo o casal se entre-olharem, aflição pura vibra dos dois.
_ Antes de tudo preciso falar a razão de minha visita. Quero pedir à mão da filha de você em casamento.Estou apaixonado por Olívia e quero fazer dela minha esposa.- despejo de uma vez.
Os olhos de Valdivino crispam em minha direção, o maxilar do homem trinca.
_ Aqui não tem moça para o senhor brincar, não. Conheço bem essa história de casamento, não vai iludir a minha menina e bagunçar com ela.- explode, duvidando das minhas reais intenções.
Me ergo para falar de igual para igual.
_ Não sou um moleque e sim um homem.Quero sua filha para mim, enfrentei meus pais para tê-la como minha esposa. Acho que não preciso nem explicar como ganhei esse hematoma, não é mesmo?- inquiro ao pai que quer somente proteger a honra da filha.
_Por que à minha Olívia, o senhor tem porte, condições para arrumar uma moça condizente com o seu nível social? - Joséfa, indaga sem esconder a ponta de preocupação.
_ Me apaixonei pela filha de vocês e acredito que às coisas que vem do coração não tem explicação, apenas é e ponto.- sou verdadeiro.
Valdivino, me olha pensativo.
_ Seus pais sabem disso tudo, da minha Olívia? - pergunta sem desviar o olhar.
_ Ainda não sabem quem é a garota com quem desejo casar, mas quando tomarem conhecimento, sinto muito em lhes ser franco, ele não vai deixar barato. Senhor Barreto é vingativo e para alcançar seus objetivos atropela qualquer um, pouco importa os escrupulosos para ele. Por isso, quero retirar vocês daqui o quanto antes. Estou comprando uma fazenda e quero que vocês morem lá, ficarão perto da filha de vocês, uma vez que pretendo residir na mesma com Olívia.
_ Isso pode dar muito errado, seu pai é um homem poderoso e não quero arrumar briga com ele.- Valdivino externa.
_ Querendo ou não, a confusão está arrumada.O senhor João Carlos só não tocará em vocês se tiverem comigo, ele teme escândalos e eu fui criado no meio dos seus negócios, muitos duvidosos e a bomba pode explodir se eu relatar algo a imprensa.- tento demove-los da resposta negativa impressas em ambas às faces.
_ Eu gosto dele, mamãe. Aceito me casar com o Joshua.- ouço a voz da minha gatota ecoar atrás dos seus pais.
Valdivino e Josefa, viram-se e encontram a filha apoiada no batende da porta, com metade do corpo escondido em outro cômodo, apenas a cabeça e uma das mãos, nos é visível.
Olívia sai do seu esconderijo e caminha até nós.
_ Se eu não obtiver a bênção dos senhores, irei embora com ele hoje mesmo. Não irei ficar longe do Joshua. - fala firme e uma alegria enorme transborda de mim.
Os pais ficam agoniados com os dizeres da menina.
_ Isso não vai terminar bem, filha. Olha para você e para ele, são de mundos completamente diferentes. Logo ele cansa da brincadeira e vai te chutar.- Valdivino fala como se eu não estivesse presente.
_ Saliento que não estou de brincadeiras. Sai de casa, meus pais me deserdaram por eu não aceitar me casar com uma noiva que eles escolheram para mim. Abri mão de tudo para ficar ao lado da sua filha.- exprimo.
_ Eu irei com você, onde você for Joshua. - Olivia diz ao passar pelos pais e ganho um abraço carinhoso da garota.
Acolho-a em meus braços.
_ Como estou vendo que não terá outro jeito, e minha filha gosta do senhor, vamos apioar esse relacionamento. Pra quando será o casório? - o homem pergunta a contragosto.
_ Breve, preciso dos documentos dela para dar entrada na papelada.- peço - Quero resolver isso logo, mas antes, irei tirá-los daqui. Amanhã visitarei dois imóveis e fechando negócio, dentro de dois no máximo três dias, vocês poderão se mudar.
_ E do que iremos viver? Sem emprego não tem dinheiro e precisamos dele para comer.- meu futuro sogro indaga preocupado.
_ Irei iniciar uma criação de gado, no entanto quero investir na reprodução de touros para rodeio. É uma veia nova esse negócio, requer tempo para retorno e investimentos. Antes, eu já estava estudando sobre isso e agora é o momento para por em prática.- revelo meus planos.
_ Touros de rodeios? Não sabia que gosta desse tipo de coisa.- Olívia fala abraçada a mim.
_ Gosto bastante, todas as festas em Barretos eu vou. Assiti competições até fora do Brasil. Me fascina.- confesso.
_ Já montou num touro rapaz?- Joséfa me pergunta curiosa.
_ Só mecânico, nunca um real.
_ Dizem que os peões de rodeios, os famosos cab...causbo...,eita palavra difícil da moléstia!- minha futura sogra, uma mulher de educação precária, se enrola na hora de falar e fica desconcertada.
_ Cawboy, mãe. A palavra é cawboy.- Olívia, diz com ternura.
_ Isso, minha filha, esses ai, ganham bem.- profere.
_ Alguns, mas não pretendo cometer suicídio.- digo em tom sério.
Conversamos os por menores de tudo, para que não reste dúvidas.
Sou convidado para almoçar e provo de uma comida muito simples, mas bem temperada.
Por volta de uma hora da tarde, retorno para a casa do Ignácio. Enfim, consigo dormir com um pouco de paz.
Continua...