Gabi Narrando
Uma semana depois…
Bagulho doido essa treta que a Clara tá se enfiando, hein. Fico só na contenção, boladona, mas fazer o quê? Faz parte do corre. E fala tu… quem vai desconfiar de duas novinhas mó gostosas igual a gente? Por isso que esses safados querem a gente sempre por perto… Eles fazem a fita e nós dá aquela acobertada na moral. Só que, papo reto… fico com o pé atrás. Sou cria, nova, tenho meu pivete pra criar. Não posso vacilar. O pai dele é mó cricri, mas deixa quieto… outro papo.
Sou a Gabriela, mais conhecida como Gabi na quebrada. Mãe solteira, 17 anos, 1,60, corpão de modelo — mesmo depois de ter parido. Cês acham que eu ia deixar a raba cair? Jamais! Meu filhote é o Théo, razão da minha vida. Amo demais aquele moleque, é ele que me dá força pra levantar todo dia e fazer o corre.
Théo — Mamãe, cê me leva na pracinha pra brincar? — pediu fazendo bico.
— Oi, meu príncipe! Como você tá, neném? Claro que levo, bora lá! — falei e peguei a mãozinha dele, aquele calorzinho bom, e fomos na tranquilidade pra pracinha. A comunidade tava suave, tá ligado? Desde que o Joca assumiu o comando, o clima tá outro… geral respeitando, sem caô, só agradecendo.
Estávamos andando de boa… até que dou de cara com a vagaba da Clara e a Michele vindo na nossa direção, mó marra.
— Iae, piranhas! — falei assim que me aproximo delas.
Michele — Oi, amiga! Sumida, hein? Aquele homem quase me deixou de cadeira de rodas! Cê tá doida! Não é homem, é cavalo… mas confesso: sentaria de novo! — ela foi logo falando do Joca e eu soltei mó gargalhada, mas me assustei na hora que o Joca colou do nada, falando baixinho no meu ouvido, daquele jeito que arrepia até o osso.
Joca — Já sei que o assunto sou eu… Tô me convidando pra conversa. Não me esqueceu não, né, novinha? Sei que o pai aqui é marcante…— O safado foi direto pra cadeira, sentou todo cheio de marra… logo chegou a atendente com um balde gelado na mesa. O pagodinho comendo solto no fundo, Thiaguinho cantando:
"Todo mundo um dia já sonhou acordado… Um dia já foi desacreditado…"
Michele — Nem sabia que bandidø sonhava… — Michele soltou logo essa, zoando o Joca. É doida! Sorte que ele curte ela… se fosse outro, já era, bala e bomba.
Ficamos mó tempão ali, resenha boa, risada solta. Depois levei meu pequeno pra casa, pra ele comer e descansar. Eu também precisava dar aquele descanso, porque o bagulho vai engrossar… tem uns esquemas que o Muriçoca e o restante tão armando pra levantar uma grana, e parece que vão querer minha ajuda e a da Clara.
— Tchau, piranhas da minha vida! — levantei me despedindo deles.
Michele: — Tchau, amiga! Beijoooo!
Clara — Pera aí, amiga! Eu também tô indo… Joca, tu pode levar a Michele pra casa?
Joca — Pronto… agora virei motorista nessa pørra! — falou todo marrento.
Michele: — Relaxa, gostoso… me viro, pego um Uber na entrada do morro.
Joca — Vai levar pro coração, morena? Só tô brincando… não custa nada te deixar em casa. Assim já aprendo o caminho, né… — Ele soltou essa mó sacana, perto do ouvido dela… vi na hora que ela se arrepiou toda. safadä!
Clara — Obrigada, meu amigo! — ela agradeceu.
Dei um beijo na bochecha dele, mas ele ficou me olhando daquele jeito… sobrancelha cerrada, aquele olhar que bota moral.
Joca — Vai logo, filha da putä! — meteu aquele esculacho, sabe meter.
Michele — Obrigada, gatinho… — ela agradeceu e eu e clara metemos o pé pra casa.
Já era início da noite… Dei logo aquele banho no meu pequeno, já tratei de botar a janta dele e caprichar pra ele dormir tranquilo. Assim que coloquei ele na cama, fui pro meu banho também, lavei a alma…
Nem deu tempo de muita coisa, só engoli a janta, escovei os dentes na pressa… e, quando vi, já tava capotada também. O corpo não aguentou, pique pedra, direto pra cama.
DIA SEGUINTE
Levantei cedo, pique responsa, já pulei da cama e taquei o dedão no celular, ligando pra Clara colar. Fui pro banheiro, tomei aquele banho gostoso, taquei os kits da Natura, passei aquele hidratante cheiroso… Saí com a toalha enrolada no cabelo, outra no corpo. Fui até o guarda-roupa, escolhi logo uma roupa levinha, bem verão… me vesti, penteei o cabelo, taquei leave-in, passei desodorante da Giovanna Baby — sou dessas, né — e desci com o celular na mão.
Quando a campainha tocou, já sabia…
Clara — Toda cheirosa logo cedo, hein… — já chegou daquele jeito dela todo alegre.
— Ó o dever chamando, amiga! Cola aí… — falei e sentamos no sofá, nem dois minutos e meu celular já vibrou…
WhatsApp On
Grupo dos Esquemas
Xxx: — Estão aí, meninas?
Gabi: — Sim. Pode falar.
Clara — Estamos só aguardando o sinal.
Xxx — Vou marcar uma treta com o Beto daqui a 30 minutos, lá perto do barraco do pai da Clara. Fechou?
Gabi — Sério isso, mano? Olha lá, hein! Não vai meter a gente numa enrascada não… tenho meu filho aqui, c*****o!
Xxx — Fica sussa, mina. Vai dar tudo certo.
Gabi — Vou confiar… mas cê tá ligado, né? Eu não brinco com essas paradas.
Clara — Certo… Só espero que não sobre pra nós nessa p***a.
Xxx — Falou, já é.
WhatsApp Off
30 minutos depois…
Do nada, uma buzina estralou cortando o silêncio seco da rua.
A gente se levantou pra ver qual era… mas nem deu tempo. Só escutei a rajada. Firme, alta… daquela que arrepia até a alma.
— Putä que pariu! — gritei, com o coração já na garganta. — Não acredito… fizeram uma casinha bem na frente do pai da Clara… e eu com meu filho em casa, pørra!
Clara — Amiga, se esconde! Que pørra é essa? — ela grito e eu já tava com o coração na mão.
— Não é invasão, não ouvi fogos… Só se for na trairagem… — respondi, já correndo pra fechar as janelas, o peito explodindo de medo.
Clara — Vou ligar pro Joca… nem vou sair daqui, tô bolada… o bagulho tá ficando feio demais! — ela falou e eu já me preparando pro pior.
Corri pras câmeras, mão tremendo, e vi… O carro do Beto parado, largado, e duas motos vazando na disparada.
Meu coração gelou, parecia que tinha sido arrancado do peito.
— Caraca… velho… mataram o Beto! — falei, quase sem ar, com a mão na boca, tentando segurar o pânico.
Continua......