Matteo
Conheço a família Aguilar desde que era um menino e sempre me intrigou o fato de nunca ter se quer visto a integrante mais nova. Minha amizade com o filho mais velho também é algo intrigante. Foram precisos dezoito anos para que eu me aproximasse realmente dele e o tornasse meu irmão.
Nós nos conhecemos realmente quando o vi entrar na sala que seria nossa durante todo um semestre na faculdade. Por obra do destino, escolhemos o mesmo curso. Eu fui o responsável pela aproximação, perguntando se ele era o irmão mais velho da afilhada de meu pai. Não era preciso esperar pela resposta para saber que era verdade, os dois eram bem parecidos, até mesmo os cachos escuros do cabelo dele lembravam o da irmã. Desde então estamos juntos.
A princípio, apenas em festas e trabalhos da faculdade. Naquela época, eu estava oficializando meu único relacionamento amoroso, por isso era retraído nas festas. O oposto de meu amigo; o conquistador. Ajudei-o em diversas situações, acobertando-o enquanto ficava com outra mulher, usando meu próprio charme para controlar a ira das demais mulheres que acreditavam ter algum relacionamento com ele. Pietro também estava morando com sua irmã mais nova naquela época, foi assim que eu a conheci. Ainda lembro a forma como ele me apresentou a ela.
_ Hei, Math? – Ele me chamou do pátio da faculdade.
Havíamos acabado de sair de nossa primeira prova de cálculo, ele primeiro do que eu. Quando ouvi meu nome, fui até ele, sentado sob a sombra de uma das árvores dali.
_ O que quer, cara? – Estava um pouco estressado.
_ Foi m*l na prova? – Ele ainda estava descontraído.
_ Eu acho que sim, e você?
_ Óbvio que fui péssimo, mas não me importo. Tenho tempo de recuperar, mas, para isso, preciso de sua ajuda hoje à noite.
_ Tem mulher no meio? – Já sabia que ia dar merda.
_ Sim. Sabe aquela caloura bonita de economia?
_ Aquela que você está saindo?
_ Sim. Eu combinei de sair com ela, mas esqueci que também havia combinado de sair com minha irmã. Ela está um pouco nervosa por conta de um trabalho que ela fez.
_ A Rubi? Ela não está estudando em outro lugar? – Achei estranho ele mencionar sua irmã.
_ Não essa, a outra. – Perspicaz, ele pegou seu telefone e procurou por uma foto. – Essa! – Ele praticamente enfiou o telefone em minha cara.
Balancei a cabeça. Não conseguia acreditar na falta de senso de meu amigo. Rindo, afastei o aparelho de meu rosto e então vi o que ele queria me mostrar. c*****o! Aquela criança era linda!
A menina estava em um maiô rosa não muito ousado, mas que mostrava apenas o ideal para atiçar a imaginação de um homem. Seu corpo pequeno era delicado em suas curvas de mulher: s***s redondos e delicados, cintura fina e quadris largos com uma b***a tão redonda e empinada quanto à parte de cima. Seu sorriso largo era cativante e seus olhos embriagadores. Seu cabelo, assim como dos irmãos, era castanho escuro, mas ao contrario, seus cachos longos não eram nada contidos, quase selvagens, dando a ela um ar elegantemente sexy. Confesso que engoli seco antes de devolver o aparelho a meu amigo.
_ Linda, não? – Pietro percebeu minha reação.
Olhei para ele, seus olhos revelando o orgulho que sentia dela.
_ Com todo o respeito, ela é gata pra c*****o! – Não escondi minha reação.
_ Eu sei! – Novamente o orgulho em sua voz. – E é com ela que eu vou sair, ela está precisando se distrair depois do que aconteceu.
_ Você disse que ela trabalha. – Ele fez que sim. – Em que?
_ Ela é o que eu deveria ser. O que você faz por debaixo dos panos quando seu pai pede. – Ele foi direto, sendo mais sério do que eu esperava dele.
_ Ela mata pessoas?! – Falei baixo meu espanto, preocupado com as pessoas ao nosso redor.
_ Começou agora e não foi muito bem sucedida na sua primeira missão. Eu vou consolá-la.
_ Uau! Sua família é mesmo estranha.
_ Não tanto quanto a sua, amigo. – Ele bateu em meu ombro.
Ele estava certo. Ele poderia até ser filho de um assassino aposentado, mas eu era filho de um dos lideres da máfia. Nós dois não éramos comuns, talvez por isso nossa amizade tenha crescido tão rápido.
_ Eu tenho que consolar sua pretendente, então? – Falei desanimado. Confesso que preferiria sair com a irmã dele.
_ Isso mesmo! Você distrai Vanessa e eu cuido de minha irmã. Quando precisar, eu faço o mesmo por você. – Ele deu seu sorriso sínico que me irritava às vezes.
_ Elas não vão gostar nada disso. – Disse já prevendo o futuro.
_ Elas quem?
_ Minha namorada e a sua futura namorada.
_ Bem, Vanessa ainda não é minha namorada e ela vai entender quando eu explicar para ela que tive que ajudar minha irmã mais nova. Agora, quanto a sua, não sei por que você ainda está com ela. Ela não te merece.
_ Não fale assim dela. Eu amo aquela garota e eu sei que ela me ama também. – Me levantei nervoso como sempre ficava quando ele tocava nesse assunto.
Ele se levantou também.
_ Mas até quando ela vai te amar? – Seu comentário ácido me atingiu em cheio.
Fiquei sem palavras para responder. Deixei que ele caminhasse na frente, de volta a nossa sala de aula antes de eu mesmo fazer o mesmo. Passei o resto do dia pensando em minha própria namorada, no comportamento estranho dela, sendo uma péssima companhia para a pretendente de meu amigo. Eu fui sincero com ela quando nos encontramos e ficamos juntos apenas o tempo suficiente para ver que o filme que pretendíamos ver não iria nos agradar.
Consegui levar o meu relacionamento com minha namorada por mais alguns anos, mas a semente da dúvida já havia sido plantada, assim como a de uma outra “flor”. Pietro parecia fazer de propósito às vezes, me mostrando fotos de sua irmã mais nova em diversas situações, me contando histórias sobre ela, principalmente depois que fomos morar juntos. Ele e Vanessa faziam questão de exaltá-la em minha frente, dizendo o quanto ela era linda, meiga e doce, apontando o quão inteligente, forte e sagaz ela era. Deste modo, quando descobri as traições de minha namorada, não foi difícil terminar e pensar em quem seria a outra.
Até eu sofrer o atentado, fiquei sozinho por uns anos. Incapaz de me interessar por outra mulher que não fosse a intocável Safira. A minha doce Safira! Não que eu não flertasse, ou ficasse com uma mulher, mas não passava de beijos frívolos em comparação ao que eu já sentia por uma estranha. Tudo por conta de meu amigo e sua namorada.
Por isso, quando em pleno século vinte e um, meu pai impôs que eu deveria me casar com uma das Aguilar, eu dei total apoio à ideia, já sabendo quem seria a escolhida antes mesmo de ele me dizer. Devo acrescentar que fui contra o plano de ação dos três, Pietro, meu pai e Francisco Aguilar, o pai de minha futura esposa. Eu preferiria uma abordagem mais convencional. Porém ela não era uma mulher convencional e eu teria que aceitar aquela proposta.
Na noite combinada, Pietro e eu chegamos um pouco mais tarde ao local onde aconteceria a reunião. Meus olhos foram perspicazes enquanto eu a procurava em meio a tanta gente vestida da mesma maneira.
_ Ela está ali. – Pietro apontou no instante em que meus olhos a encontraram.
Meu coração deu um leve sobressalto ao, finalmente, ver seu principal objeto de adoração. Ela parecia um moleque naquelas roupas básicas, mas ainda sim era misteriosamente sensual com seus cabelos cacheados do jeito que eu aprendi a gostar.
_ Quem é aquela mulher que está com ela? – Havia uma indiscreta misera nota de ciúmes em minha voz.
As duas estavam tão próximas enquanto conversavam distraidamente.
_ A protegida e melhor amiga dela. – Pietro estava despreocupado, como sempre.
_ Ainda acho que eu deveria abordá-la do jeito normal.
_ Nem tente. Você não conhece aquela fera. Ela é arredia, já te disse isso.
_ Não consigo acreditar.
_ Não dá mesmo. Ela, com sua falta de tamanho e sua carinha de anjo deixa transparecer que é uma boneca de porcelana, mas se tem uma única coisa que ela não é, é uma boneca frágil.
_ Mas ela parece mesmo ser um anjo delicado.
_ Só parece, mas por trás daquela aparência delicada, existe um demônio que você nem eu gostaríamos de provocar.
_ E o que eu devo fazer? – Perguntei sem esperanças.
_ Esperar, fique aqui. Eu vou lá conversar com ela e tentar prepará-la para o que estar por vir. Sugiro que converse com as mulheres daqui, tem algumas maravilhosas que não hesitarão em ajudá-lo há passar o tempo. – Pietro bateu levemente em meu ombro.
Eu ri. Mesmo comprometido, ele não perdia seu jeito galante. Nem eu poderia perder o meu. Duas mulheres se aproximaram de mim assim que fiquei sozinho. Trocamos alguns flertes enquanto eu esperava, sempre discretamente olhando para onde eles estavam, a reunião ser iniciada. Poderia ter demorado uma eternidade se estivesse sozinho, mas logo fomos chamados e, em breve, meu destino seria selado.