Tinta no Papel

1524 Words
Após a afirmativa de Ravi, eu escolhi apenas escutar o que ele disse sem agregar nada relevante ou indagar mais sobre o assunto,eu já estava devastada de mais com meu interior e naquele momento percebi que mesmo mantendo minha palavra de ajudar no que eu pudesse, não queria me envolver pessoalmente mais do que já estava envolvida, sempre tive minhas prioridades muito claras e não as mudaria agora, Margo é tudo o que importa, não importa se para eles a minha vida na Terra deveria ser apenas uma passagem, eu prefiro pensar que tem um motivo e eu não vou descansar até ter certeza que Margo está bem e segura, Ravi e eu entramos e sentamos um pouco na sala ouvindo as recomendações do Zhìzhě sobre onde cada um deve dormir, ele tinha apenas mais um quarto e disse que seria meu por questões de que eu sou a rainha, Anánke entra na sala ao final de suas recomendações os cabelos pretos compridos estavam em um coque e a parte de cima de sua roupa já não estava mais onde deveria estar. —Ravi e eu dormimos na sala, muito obrigado pela hospitalidade grande-sábio. —Diz Anánke com os braços cruzados, Zhìzhě coloca algumas cobertas em cima do sofá e me leva até o quarto. —Menina, não parece ter gostado do quarto. —Ele fala percebendo meu semblante, sabíamos os dois que o quarto não era o motivo. —Onde posso tomar um banho? —Já sabia que não ficava com o banheiro de fora da casa o qual eu percebi o motivo no momento em que entrei. Ele passa pela cama de madeira até uma portinha me levando a outro cômodo onde tinha uma banheira redonda, um armário e uma pia. —Obrigada. —Não precisa de mais nada? —Não, obrigada. —Deixei dentro do armário no quarto alguns livros, se tiver insônia, eu posso preparar um chá. —Eu agradeço, mas deixo para amanhã. —Ele sorri e dá as costas, mas antes de sair sem se virar para mim ele diz: — Não se subestime até na sua ignorância a sabedoria, até na sua fraqueza a força, e na sua dor há amor. Ele fecha a porta do quarto e segue o caminho até seu próprio quarto, eu fico ali parada pensando em o quão brega e adorável foram as palavras dele Zhìzhě, sem dúvida sabia ser insuportável quando era da sua vontade mas com a mesma intensidade sabia ser protetor e gentil. Preparo um banho na banheira com tudo o que encontrei, a água era morna e forte e a vontade de não sair era incrivelmente grande, até que pensamentos ruins começaram a assombrar minha mente e quase em um pulo saiu da banheiro indo em direção ao robe que se encontrava em cima do pequeno armário do banheiro, começo a cheirar os cremes e passar alguns nas pernas e braços, e sigo em direção ao quarto me sento na cama de madeira onde o colchão era perfeito, vou até o armário para ver os livros que Zhìzhě havia separado para mim, todos falavam sobre as histórias de Kundale, abro um que parecia ter saído da biblioteca secreta do castelo pela capa azul e quando começo a folhear procurando algum vestígio percebo estar certa, era a minha letra não tão bonita quanto eu gostava fingir que era em letras que se não fosse pelo cérebro da rainha eu não entenderia a anotação, era em um trecho que dizia: "Sine Ores, espécie nativa de Kundale, caracterizados pela ausência de boca, e coloração verde de sua pele, possuem uma força bruta que vai a cinco vezes mais que o seu próprio peso dado pela elasticidade de seus músculos e dureza de seu exoesqueleto, entretanto são muito atrasados em questões de comunicação escrita e tecnologia utilizam apenas lanças e arco e flecha. " Na anotação que estava quase apagada falava:" Como podemos ter só essas informações? Onde eles estão? O que aconteceu? " Era estranho ver minha letra em palavras que eu nunca escrevi, passo meus dedos tentando sentir a textura da tinta no papel, eu sempre coloco a caneta contra o papel de forma que deixe relevo na minha escrita, escuto a porta abrir vagarosamente estava pronta a dizer a Zhìzhě, que já havia recusado o chá e ele não precisava se incomodar, mas não era ele na porta. —Desculpe não bater... —Diz Anánke olhando para o chão com uma mão ainda na maçaneta e a outra demonstrando seu nervosismo pela situação. —Eu não quis acordar os outros. Olho para o robe para confirmar que ele está bem fechado, e me levanto com um olhar curioso sobre o que ele queria. —Tudo bem, posso te ajudar em algo? —Eu tinha medo que ele tocasse no assunto de hoje mais cedo. —Eu estava deitado e lembrei que você dormiu na biblioteca junto o… —Ed. —Falo o interrompendo. —Sim, isso… eu pensei que talvez você não gostasse de dormir sozinha… Eu apenas o observo tentando decidir entre confiar ou não nele. —Eu entendo se sentir desconfortável… obviamente pretendo dormir no chão. Eu já havia lido livros o suficiente para saber o que situações como essa poderiam causar, mas não era como se fosse algo obrigatório e de qualquer forma ele estava certo eu ocupava meu dia com o máximo de atividades e só de saber da presença de Tabata e suas músicas altas me fazia sentir segura e confortável. —Tudo bem, mas não precisa dormir no chão… A cama é grande e… —Eu subo na cama e arrumo os travesseiros como uma barreira. —Viu… Eu vou colocar uma roupa. Ele vai até o guarda roupa e tira uma camisola. —Meraki, costumava ficar na adolescência. —Ele diz me entregando a peça longa de um tecido que eu não saberia dizer qual é. —Obrigada. —Respondo sorrindo envergonhada, era estranho para nós por motivos diferentes,quando volto do banheiro ele está sentado com um livro nas mãos com a parte da cintura para baixo coberta com o cobertor, eu pego o livro que havia deixado em cima da estante e me sento junto a ele, ao abrir o livro eu dou um pequeno sorriso de alguma maneira essa cena específica fazia parte de algum sonho ou vislumbre do meu futuro, claro que era na terra, o homem ao meu lado era meu marido e não havia a barricada entre nós. —O que foi? —Pergunta ele sem desviar os olhos do livro. —Nada em especial. —Repondo me atendo em achar onde eu havia encontrado as primeiras anotações de Meraki, eu estava encurvada o que o levou a me levar um olhar de reprovação. —O que foi? Uma rainha não pode ficar assim? —É péssimo para a postura e pode prejudicar a sua luta. —Ele fala voltando os olhos para o livro. —Fala sério, vocês tem naves e são super avançados nas tecnologias… não acha que é ultrapassado lutar com espadas, arco e flecha e lanças. —Nem sempre você vai ter uma arma à sua disposição, precisa saber se defender com o que tem em mãos, além do mais um duelo de espada pode evitar muitas mortes desnecessárias. —Ele falava com firmeza. —Certo! Me diz uma coisa: você e Meraki foram casados por 50 anos? —Sim. —E não quiseram ter filhos? Não temos né? —Não… não temos, quando nos casamos começamos uma guerra sem ao menos saber, e não queríamos que um filho nascesse nessas condições. —Nossa 50 anos é muito tempo. —Eu tenho 300 anos, retirando o tempo que fiquei hibernando, 50 anos é pouco, muito pouco tempo. —Nos olhos dele era possível ver o sentimento aceso como que tivesse se apaixonado ontem, me sentia culpada por interromper a história deles. —Eu conheço suas expressões principalmente as de culpa, não foi culpa sua você é um presente para Kundale. Apenas balanço a cabeça confirmando ter escutado e foco novamente no livro, sinto seus olhos admirando meu rosto e depois os fechando se punindo por cogitar observar meu corpo, ficamos em silêncio cada um lendo seu livro apenas escutando o folhear das páginas e de vez em quando um espiã a leitura do outro. —Boa noite. —Diz Anánke fechando o livro e deitando-se. —Espera! Eu tenho uma pergunta… —Eu ainda não estava a vontade para dormir e precisava pensar rápido. —Estou escutando. —Vocês tem programas de TV e auditório por aqui? —Surgit, não é uma cúpula que se importe muito com isso, somos focados nas ciências e conhecimento, exceto por Alhilium que é mais voltada à cultura, moda e comércio, é onde ficam a grande mídia, Õpla agora é muito mais interessada na indústria midiática para ganhar o afeto do povo. Continuamos conversando coisas supérfluas, pergunto sobre o livro que ele estava lendo e por fim pergunto sobre a tal jornada para se tornar um gran-mestre.
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