Aquele olhar, parecia me cortar como lamina.
Imaginei diversas vezes encontrar ela, e nenhuma das hipóteses me passou pela cabeça isso. Caramba, eu procurei.
Mas ela aprecia ter evaporado, sumido do mapa. Nada tinha seu nome, redes sociais, endereços. Eu procurei por longos 5 anos...
5 anos de frustração, decepção e a p***a de uma impotência que não tinha tamanho.
E agora ela aparece aqui, em uma despedida de solteiro, armada por meus amigos imbecis como um teste c***l do destino.
Não, não podia ser coincidência, iria enlouquecer se ela permanecesse com essa frieza, essa indiferença.
— Fala, Clarisse!
minha voz ecoou pesada no salão vazio.
— Por que tá fazendo isso comigo?!
Ela pousou o copo com calma na mesa, como se cada gesto fosse calculado para me envenenar por dentro. Depois me olhou de cima a baixo, fria, intocável.
— Eu não sei do que está falando.
Me olhou firme.
— Não faço ideia do que os seus amigos sabem do seu passado, mas de mim, eles não devem saber, e é melhor assim, O passado já morreu há muito tempo.
Algo em mim estalou.
Dez anos de distância, dez anos de silêncio, dez anos carregando um fantasma… e ela, ali, me tratando como um cliente qualquer.
Quando ela tentou passar por mim, indo em direção à porta, meu corpo se moveu antes da razão. Segurei o braço dela.
— Não!
— rosnei, sentindo a pele dela contra a minha. Era quente, viva… tão real que me atravessou como uma descarga elétrica.
— Você não vai sair daqui fingindo que eu nunca existi!
Ela congelou. O peito dela subia e descia rápido, mas o olhar… ah, aquele olhar era uma muralha.
— Me solta, Edgar.
falou baixo, firme, quase sussurrando veneno.
— Eu não sou mais aquela garota que você conheceu!
— Não fala isso…
apertei mais, incapaz de soltar.
— Não morreu p***a nenhuma, eu tô olhando pra ela agora.
— Se engana.
os lábios dela se ergueram num sorriso de desprezo.
Minha mandíbula travou. O peito doía.
Ela puxou o braço, tentando se soltar, mas eu segurei firme.
Aquele choque de forças, aquela proximidade, me enlouquecia.
O cheiro dela, p***a, o mesmo perfume, tão específico, eu tinha me esquecido dele.
Sua a respiração acelerada… tudo me lembrava da nossa última noite, tudo me lembrava da p***a da falta que ela me fez.
— Olha pra mim.
exigi, minha voz grave, quase um comando.
— Só olha pra mim, c*****o!
E, pela primeira vez, ela cedeu.
O olhar dela encontrou o meu. Mas o que vi… não era a Clarisse que eu lembrava.
Era uma mulher feita de cinzas, de dor, de fúria. Uma fênix, mas que queimava no fogo errado.
Eu não sei como ela foi parar ali, naquela vida. Mas ela não ia continuar! Não mesmo.
— Eu já olhei demais pra você, Edgar.
disse, com um tremor que tentou esconder.
— E olha onde isso me deixou.
As palavras dela me atingiram como socos.
E mesmo assim… mesmo com toda a rejeição, tudo dentro de mim gritava que eu não ia deixá-la escapar de novo.
— Eu te procurei.
minha voz saiu grave, cortante.
— Voltei naquela maldita cidade pouco mais de um mês depois… e você não estava lá!
Ela riu, mas foi um riso sem alegria, um corte frio.
— Jura? Engraçado… porque eu não me lembro nem de você dizer que ia a algum lugar.
A facada me atravessou. Mas antes que eu conseguisse responder, ela se recompôs, ereta, arrogante, como se me tivesse sob domínio.
— Isso não vai nos levar a nada, Edgar!
A voz dela foi afiada como uma lâmina.
— Por que não finge que nunca me conheceu e me deixa trabalhar? Você faz isso muito bem!
— Eu não tive escolha!
avancei um passo, o peito ardendo.
— Eu queria falar com você antes, eu iria voltar.
— Não importa!
ela cortou, ríspida, como se minhas palavras não tivessem peso algum.
— Nada vai mudar o passado, Edgar. Nada vai apagar o que eu vivi!
Respirou fundo, firme, e completou:
— Se quiser o dinheiro de volta, eu pago. Mas eu não fico mais nem um segundo aqui.
Ela se afastou, decidida, cada passo uma punhalada.
Meu peito se contraiu, aflito, desesperado.
Disse a primeira coisa que soube quando voltei lá, atrás dela.
— Eu soube do vídeo.
deixei escapar, quase num sussurro, mas pesado como chumbo.
A mão dela parou na porta. O corpo travou. Lentamente, ela olhou por cima do ombro, os olhos duros, quase faiscando.
— Que bom…
o veneno escorreu da voz dela.
— Espero que tenha gostado.
Virou o corpo por completo, firme, c***l:
— E é bom que saiba… eu só esperei você ir embora e corri pros braços dele. O vídeo acabou vazando...
Ácida, suas palavras saíram derretendo o resto do pouco controle que eu tinha.
— Não me procura mais!
E bateu a porta com violência, me deixando sozinho, quebrado, em pedaços.
Meu corpo inteiro tremeu. Levei a mão ao rosto, tentando respirar, tentando conter a raiva que queimava por dentro. Mas falhei miseravelmente.
A garrafa de bebida foi a primeira coisa que vi, e a joguei contra a parede.
O estilhaço explodiu como a p***a do meu peito naquele instante.
— Não…
murmurei, ofegante.
— Isso não é verdade.
Não podia ser.
Ela falou aquilo pra me ferir, só podia. Ela não teria feito isso. Não em tão pouco tempo.
Eu sei que ela me procurou. Soube quando voltei naquela cidade atrás dela.
Ela mente. Mente muito m*l.
E uma coisa eu tinha certeza…
Eu não vou desistir.
Agora… eu vou mais fundo do que nunca.
...