Expulsa, humilhada e abandonada.

1296 Words
Ouvir os passos da senhora que cuidava dali, se aproximar. Limpei os olhos antes que ela me visse. — O toque da escola já foi acionado, você não pode mais ficar aqui. Acenei fechando todas as abas e sair com o coração rasgado, sangrando. .... Passei pelos corredores com passos apressados, agarrada as minhas apostilhas. Mas então Marlon apareceu, com aquele olhar quase predatório, sorrindo de um jeito que me fez estremecer: — Então, já soube da novidade… seu namoradinho foi embora. Pediu até transferência. — Isso… isso não é verdade. disse, ainda tentando me convencer de que era mentira. — Não, Clarisse? Eu Soube pela diretora. Ele se aproximou, com aquela voz baixa, intensa. — Você escolheu o errado. Ele só te usou de diversão enquanto os pais cuidavam dos negócios. Mas ainda dá tempo de consertar, eu nunca iria embora assim. Não te faria de diversão. Senti raiva, raiva misturada com vergonha, e levantei a voz: — Você que usou a mim! Um escroto! Um babaca! Não tem direito de falar assim do Edgar! — Cala a boca! ele rugiu olhando em volta, preocupado com quem ouvia. mas eu continuei, sem perceber que havia aumentado o tom demais — E você? Ficava com outras alunas também! Acha que eu não sei? Você é um abusador! Usa do poder da sua profissão pra tá perto de meninas e usa elas! Você sim usa as alunas. A diretora, que passava pelo corredor, parou e olhou para nós. Meu rosto queimou de vergonha. — Que história é essa professor Marlon? Ele ficou furioso, me xingou baixinho: — Você vai pagar por isso. Me apressei em entrar na sala, todos me olhando com se eu fosse a maior v***a daquela cidade. Me sentia tão envergonhada. Algumas horas depois, descobri que ele tinha sido desligado da escola. O mundo parecia girar mais rápido, e eu não conseguia acompanhar. Mas todo sofrimento, parecia ser pouco. Quando estava saindo da escola, Melody veio até mim. Derrubou meus livros. — Ei!! Disse olhando pra ela incrédula. — Você viu o que você fez? Sua v********a! Estragou as nossas aulas, você vai pagar por isso! — Eu não fiz nada, ele quem foi até mim. — Ele nunca iria até você! Nós estamos juntos, ele me ama. — Eu também acreditava nisso, quando foi minha vez. Ela ficou furiosa. — Fica longe dele! ... Quando cheguei em casa, meu pai me esperava. Travei quando o vi sentado na varanda. — Porque você não contou que aquele rapaz foi embora! Eu sabia que essa liberdade que estava dando só traria vergonha! Ele me repreendeu. — A culpa é da sua mãe, que te mimou demais, vai agora pro seu quarto! Agora! Subi as escadas despedaçada. ... Os dias seguintes foram um pesadelo. Acordava sem vontade de ir para a escola, mas sabia que meu pai não perdoaria. Era meu último ano. Tinha que aguentar, tinha que sobreviver. Mas a saudade dele era insuportável. Eu sentia falta do Edgar a cada instante. Não entendia por que ele foi embora. Por que me deixou assim? Será que foi culpa minha? daquela briga? E se... Ele voltou aqui pra despedida. Pra ter uma ultima noite. Não... Não, ele não faria isso comigo. Não… não tinha feito nada de errado. Mesmo assim, caminhei até a escola, com o coração pesado, os olhos inchados, tentando me convencer de que estava tudo bem. E então… ouvi aqueles sussurros. Borbulhinhos de risadas, olhares que me penetravam. No começo eram só cochichos. Risadinhas abafadas no fundo da sala. Eu tentei ignorar, mas as gargalhadas iam aumentando, e os olhares caíam sobre mim, como facas invisíveis rasgando minha pele. — Que visão, hein? ouvi um garoto cochichar, arrancando gargalhadas dos outros. Meu coração disparou. O que estava acontecendo? Eu olhei em volta, confusa, tentando buscar alguma explicação. — O que foi? minha voz saiu trêmula, quase infantil. Melody se aproximou com aquele sorrisinho venenoso. Estendeu o celular bem na minha frente. — Ué, você não viu? Olha só… você devia virar atriz, Clarisse. Ia ganhar muito dinheiro. E então eu vi. Minha imagem… nua. No carro. O dia em que Marlon me usou. O rosto dele estava embaçado, mas o meu não. Eu estava exposta, inteira, sem defesa. O ar me faltou. O coração parou. Senti as pernas bambas, como se o chão fosse sumir sob meus pés. As gargalhadas aumentaram. Celulares apontados para mim. Dedos acusadores, olhares nojentos. — Senta aqui pra mim também, Clarisse! gritou um dos garotos, arrancando mais risadas cruéis. Eu não aguentei. O mundo girou, minha cabeça latejou. Melody me olhava não só com raiva, mas com satisfação de me destruir. Eu não aguentei, se ela achava que iria ficar escondida com ele, ela também pagaria junto comigo! — O DELA TAMBÉM SAIU? EIHH!? PORQUE VOCÊ NÃO TÁ COM ELE MELODY!? FALA PRA ELES. Só ouvir eles gritarem "Hiiii". Em zombaria, ela me olhou furiosa. — Sua desgraçada! As risadas me deixaram tonta e antes que caísse no chão, corri. Corri sem direção, com as lágrimas cegando meus olhos, os gritos zombeteiros ecoando atrás de mim: — Vem cá, não foge não! Ei.. Melody, senta pra nós também. As gargalhadas ficaram distantes, mas dentro de mim elas continuavam. Eu corri até não ter mais fôlego, até minhas pernas falharem. Me escondi pelas ruas, sentindo a vergonha e a dor me esmagarem. Era como se todos já tivessem visto. Como se todo mundo soubesse. Quando finalmente voltei pra casa, achando que encontraria algum refúgio, encontrei o inferno. Meu pai gritava com minha mãe na sala: — Essa menina é uma vergonha! Desonrou nossa família! Todos já estão falando de nós! Quando me viu, seus olhos queimaram de ódio. Ele avançou, a mão levantada, mas minha mãe se colocou na frente. Minha irmã também, chorando, tentando me proteger. — Não!!! Antônio... Não faz isso com a nossa filha! Ele estava furioso. — Vai embora daqui! ele rugiu, jogando uma mochila contra mim. — Some da minha frente! Você não é mais parte desta família! — Pai… por favor! implorei, caindo de joelhos. — Eu não tenho pra onde ir… me escuta… — Foi por isso que aquele rapaz foi embora! Pela vergonha! ele cuspiu as palavras como veneno. — Até eu teria ido! Você só é mais uma sem-vergonha! Aqui você não fica mais! — Pai… mãe… por favor! olhei para minha mãe, buscando alguma compaixão. Mas ela não conseguia. A vida dela dependia dele. Seus olhos choravam, mas não havia gesto, não havia mãos estendidas. — Some daqui, Clarisse! ele gritou mais uma vez. — Não vai dar esse exemplo pra sua irmã! Some dessa cidade! Nós também vamos sumir, por sua causa! Sua vergonha! Chorando, juntei algumas coisas às pressas, sem saber o que fazer. No portão, já sendo expulsa, senti os braços da minha irmã me segurando. Ela chorava tanto quanto eu. — A mãe mandou te dar isso… ela me entregou algumas notas amassadas. — É tudo o que temos… Eu a abracei com força, tremendo. — Você tem que voltar… um dia… promete? Implorou com os olhos vermelhos. — Eu prometo. sussurrei, com a garganta fechada. — Eu vou te encontrar de novo. E então fui. Expulsa. Humilhada. Na rua, as pessoas já me olhavam de lado, algumas cochichavam. Outras perguntavam em voz alta: — Não é ela? Aquela do vídeo? A vergonha queimava minha pele. Puxei o capuz sobre o rosto e corri, tentando me esconder. Peguei um ônibus qualquer. Depois outro. Depois outro, só pra ir o mais longe possível, onde ninguém me conhecesse. Eu só queria sumir... Sumir de tudo. Foram 22 dias naquela cidade, após a partida do Edy... E foram os dias mais infernais de toda a minha vida. ....
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