Gusmão beijava cada parte da minha boca como se fosse sagrada, como se temesse que eu desaparecesse de novo.
Senti sua mão deslizar pela lateral do meu rosto, descendo devagar pelo meu pescoço até encontrar o contorno do meu ombro.
Meu corpo reagiu a sua ternura, eu queria me sentir amada.
Desejava tanto que alguém me tocasse diferente, com amor...
Mas não era aquelas mãos ou aqueles lábios que meu coração queria...
A noite poderia ter sido diferente, e eu poderia ter ganhado, mesmo que migalhas do Edy... O Edy que eu tanto amei.
Mas não conseguiria.
Eu só senti as mãos de Gusmão como se fosse as dele..
Mesmo que na ilusão... Mesmo que só no meu profundo interno, era ele ali comigo.
— Deixa eu te amar...
Ele sussurrou contra minha pele.
Quando dei por mim, estávamos deitados na cama, os lençóis amassados sob nossos corpos.
Os beijos ficaram mais intensos, as carícias mais firmes.
Suas mãos eram quentes, grandes. Carinhosas.
Eu gostava de como ele me fazia sentir, de como me fazia ter valor além do sexo.
Além de um desejo carnal. A tantos anos não sei o que é isso.
Não precisar se esforçar pra ser desejada, amada.
E ele fez, da sua maneira ser a mais perfeita pra minha ilusão.
Mas não era com ele que eu estava completamente... Era com o Edgar.
....
Quando tudo terminou, fiquei alguns instantes em silêncio, sentindo sua respiração quente contra minha pele.
E então me levantei.
Minhas mãos tremiam enquanto eu vestia minhas roupas, cada peça voltando ao meu corpo como uma armadura que eu precisava erguer outra vez.
Ele me observava sentado na beira da cama, o cabelo desgrenhado, o peito nu ainda subindo e descendo acelerado. E sorriu, aquele sorriso terno, devastador.
— Eu posso te dar tudo que você merece, Clarisse. Essa não é a vida que você merece. Você pode ter muito mais.
fez uma pausa, os olhos suplicando.
— Posso te fazer feliz.
Me aproximei devagar, ainda sentindo o peso do que tínhamos acabado de viver.
Encostei meus lábios nos dele, um beijo breve, carregado de carinho e despedida.
— Eu vou pensar sobre tudo isso, Gusmão…
murmurei, antes de me afastar.
Ele assentiu e eu saí.
(...)
No carro, a solidão me abraçou de forma sufocante.
Peguei o celular e escrevi uma mensagem para Donna:
“— Está em casa? Preciso tanto conversar.”
Não esperei resposta, apenas dirigi de volta para o meu apartamento.
Assim que entrei, tirei os sapatos como se eles pesassem toneladas.
Meu coração parecia querer explodir dentro do peito, tão apertado que doía.
Caminhei pela sala, perdida, até que as lágrimas começaram a cair silenciosas, quentes, teimosas.
Era uma mulher quebrada.
E agora, não restava nada além do vazio… e da lembrança de quando ainda podia sonhar.
....
EDGAR:
Quando a porta do quarto se abriu, me virei devagar, e vi Liana parada ali, surpresa.
— Eu não sabia que você já tinha chegado…
disse com aquele sorriso enorme, iluminando o rosto.
Antes que eu pudesse reagir, ela avançou, engatinhando sobre a cama até mim.
— Não vejo a hora de ser totalmente sua. A senhora Sturdat…
murmurou, selando os lábios nos meus.
Eu correspondi, mas ela sentiu. Sentiu que algo estava errado. Ao se afastar, me fitou com a testa franzida.
— Está tudo bem?
Assenti, forçando um sorriso que não chegava aos olhos. Toquei o rosto dela, tentando suavizar a culpa que me corroía.
— Eu não mereço você, Liana…
Ela logo rebateu, quase indignada:
— Claro que merece!
Engoli em seco.
Trair ela naquela noite. E não conseguia me arrepender
— Eu nunca vou poder te dar o que você espera, tem certeza que quer mesmo isso?
— Não fala isso.
pediu, acariciando meu peito.
— Eu tenho certeza desse casamento. Claro que tenho, amor… faltam só dias. Eu tô ansiosa, isso é tudo que eu sempre quis.
Assenti de novo, incapaz de dizer a verdade: que eu amava outra.
Que minha vontade era largar tudo e correr para ela. Mas como eu poderia ser tão covarde?
Liana me abraçou, me beijou com devoção.
— Você sempre foi o que eu quis… desde menina.
— Eu sei.
murmurei.
Ela sorriu, esperançosa.
— Não vai me dizer o mesmo?
Beijei sua cabeça. Era o máximo que conseguia fazer, porque a mentira não passaria pela minha boca.
---
Na manhã seguinte, ela ainda dormia. O cabelo espalhado pelo travesseiro, a respiração calma. Olhei para ela por um instante antes de me levantar, vestir o terno e descer para mais um dia na empresa.
Mas quando atravessei o corredor, vi Cadu saindo apressado do quarto da minha irmã.
— Eduardo.
Ele me olhou, assustado.
— Ferrou…
Dei passos firmes até ele, pronto para arrancar explicações, mas então Julien apareceu atrás, ajeitando o cabelo.
— O que vocês estão fazendo!? Ficaram loucos?
questionei, a voz mais dura do que queria.
— Calma, não é nada disso que você está pensando.
Cadu disse, apressado, enquanto vestia a camisa.
— Estamos namorando, Edgar…
Julien assumiu, e eu olhei indignado para o meu amigo.
— Eu ia contar, mas ela preferiu esperar.
— Estava esperando o nosso pai melhorar… e depois seu casamento passar.
completou minha irmã.
Travei a mandíbula.
— Quando isso começou?
Eles quase riram.
— Não é como se fosse o pai dela, irmão. Quer que eu peça autorização também?
Cadu ironizou.
— Não brinca com a minha irmã!
rosnei para ele.
— Pelo amor de Deus, parece que não me conhece. Eu jamais faria nada com ela que não fosse sério!
— Há quanto tempo?
— Seis meses.
Me virei para ele, incrédulo.
— Seis meses!?
— Edgar… eu sou de maior, ele também. A gente sabe o que está fazendo!
A firmeza de Julien me cortou a raiva.
Respirei fundo.
— E quando vão assumir isso?
— Agora, se ela quiser.
Cadu disse, olhando para ela com um sorriso apaixonado.
Ela sorriu de volta, e eu só balancei a cabeça, empurrando meu amigo até o corredor.
Já do lado de fora, passei as mãos pelo rosto, exasperado.
— Eu tô apaixonado, Edgar…
Cadu confessou.
Olhei para ele com severidade.
— Espero que seja sério.
Continuamos andando até a saída.
— E então?
ele arriscou.
— Foi ver a garota?
Meu peito apertou.
— Ela me culpa por ter ido embora… por tê-la deixado lá.
— Cara… você tinha o quê, quinze anos?
— Dezenove. E não tive escolha.
— Se sabe disso, Então por que foi atrás?
Suspirei fundo, pesado.
Confessei a única verdade que ainda era latente em mim.
— Estava pronto para desistir de tudo.
Ele me encarou, perplexo.
— Tá falando sério?
Assenti com seriedade.
— Essa ideia martelou a noite inteira. Ontem eu voltei aqui pronto para isso.
Minha mandíbula se travou. A verdade era que ainda queria.
Não queria ser o homem que casava por dever, por obrigação. Mas largar tudo agora parecia impossível.
— E o que mudou?
Cadu insistiu.
Olhei para ele, cansado.
— Ela tá grávida.
O rosto dele se transformou.
— Quem? A Liana?
Assenti, sem forças.
Ainda não conseguia assimilar aquela informação e nem o que seria daqui pra frente agora.
...