Porque logo agora?

768 Words
CLARISSE: Entrei no carro sem olhar para trás. Meus dedos tremiam tanto que m*l consegui ligar a ignição, mas quando o motor roncou, pisei fundo. Quanto mais rápido, melhor. Eu precisava fugir. Fugir dele. Fugir de mim mesma. O coração parecia que ia explodir no peito, cada batida ecoando raiva, ódio, desespero. Por que logo agora? Por que ele tinha que aparecer justo agora, quando eu finalmente acreditava que tinha enterrado o passado? Meu coração batia descontrolado, um tambor insuportável no peito. Anos tentando apagar, reconstruir, sobreviver… e bastou um olhar, um toque, para tudo voltar. Como se eu nunca tivesse me levantado da queda. Ele ia casar. Essa palavra girava na minha mente como uma faca, repetindo, cortando, sangrando. A dor me consumia. Uma dor imensa, sufocante, como se fosse me matar. Senti a ansiedade tomar conta, o peito apertado, a respiração curta. Eu que passei anos tentando esquecer? Eu que construí muros, que ergui defesas, que aprendi a viver sem precisar de ninguém… agora me via implodindo. Porque bastou um toque dele. Meu Deus... Um único toque, e tudo em mim tremeu. Tudo. Aquela Clarisse que eu lutei tanto para silenciar… gritou dentro de mim. Implorou por ele. Por seus braços. Por seus beijos. Mas ele me abandonou. Disse que voltou… mas eu o procurei, diversas vezes, naquela maldita mansão. E ele nunca esteve lá. Ele me prometeu amor. Prometeu que não me deixaria. E no entanto, foi embora sem dizer nada. Se ele tivesse ficado… talvez o vídeo não tivesse me destruído. Talvez meu pai não tivesse me jogado pra fora de casa feito lixo. Sim, teria sido uma vergonha. Mas meu pai teria obrigado Edgar a se casar comigo. É droga.. que fosse por obrigação, que fosse por teste! Se ele me amava mesmo... Ele faria! só para salvar a honra da família. Mas não. Ele não estava lá. Não estava lá quando eu precisei, não era ele que estava lá quando eu precisei de abrigo. fui marcada como desonrada. Uma vergonha. Expulsa, sozinha, sem chão. Parte de tudo o que eu vivi foi culpa dele. E tudo o que eu precisei fazer depois para sobreviver? Para apagar o gosto dele? Para calar a dor? Tudo parece inútil agora. Porque bastou vê-lo de novo para que tudo viesse abaixo. Todos os muros. Todos os remendos. Tudo estraçalhado. Acelerei até chegar em casa. Tranquei a porta atrás de mim e desabei no chão da sala, perto do sofá. Me encolhi, agarrei as próprias pernas e chorei como não chorava há anos. Um choro incansável, sufocado, que me rasgava por dentro. Donna ainda estava no serviço. Eu não tinha ninguém ali. Só o eco da minha dor. E eu disse coisas que não queria. Palavras cruéis. Eu queria machucá-lo. Queria que Ele sentisse a mesma dor que me consumia ao saber que ele seguiu em frente. Que ele viveu como se nada tivesse acontecido. Enquanto eu precisei sobreviver a uma ferida que nunca cicatrizou. Enquanto eu precisei aprender a respirar de novo, a sorrir de novo… sem nunca conseguir de verdade. E agora… parecia que nada disso tinha adiantado. Ele estava ali... Bem na minha frente. Porquê... Porquê!!? — Clarisse? a voz da Donna me atingiu de longe. — Meu Deus, o que aconteceu? Ela largou tudo no sofá, bolsa, sobretudo, nem ligou. Veio direto pra mim. E eu... eu só consegui olhar. Olhar e me jogar nos braços dela, me agarrar como se fosse a última coisa que eu tinha no mundo. Apertei tanto que parecia que meu coração ia sair do peito. — Ei... Calma! O que... eles fizeram? Neguei freneticamente. Qualquer outra coisa que houvesse acontecido a quela noite, doeria bem menos do que vê-lo de novo. — Era ele, Donna... minha voz saiu falhada, quase sem ar. — O noivo... é o Edgar. Senti ela travar. O silêncio dela doeu mais do que qualquer palavra. Porque ela sabia. Ela sabia o quanto eu carregava dele aqui dentro. Ela passou a mão na minha cabeça, me abraçando forte, e disse baixinho, com a voz embargada: — Você tem certeza? Só acenei freneticamente sem forças. solucei, sem lágrimas, só aquele som sufocado da dor que não passa. Eu nunca deixei ninguém entrar. Nunca consegui tirar ele daqui. E agora... agora é tarde. Ela me apertou ainda mais, como se quisesse segurar meus pedaços pra eu não desmoronar de vez. E eu sabia, pelo jeito que ela tremia comigo, que doía nela também me ver assim. Porque não tinha palavra certas a galar. Só sentir... Sentir aquela dor imensurável que não passa. Não passa... (...)
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