EDGAR:
Saí pra fora da casa, atrás dela depois de quebrar a garrafa na parede, mas quando cheguei na porta da casa, o carro dela já sumia na rua.
Cadu apareceu atrás de mim, o rosto cheio de preocupação.
— Edgar… que merda você fez? Por que ela saiu assim?
Olhei pra ele, indignado, a raiva ainda correndo quente pelas veias.
— Onde você encontrou ela?
perguntei, quase arfando.
— Eu… eu achei num site. Mas, cara, que p***a tá pegando com você? Por que tá assim? Os caras saíram sem entender nada. Acabou com a festa.
Que se f**a!
Sem pensar muito, agarrei meu celular, limpei os olhos de um jeito bruto, tentando engolir o nó na garganta.
— Qual o site!?
soltei, direto.
Ele me olhou, sem entender nada.
— Um site… Edgar, o que tá acontecendo?
— Qual o site, p***a!?
— Espera, cara! Dá pra falar comigo!
Ele me conteu, na tentativa de entender.
— Você conhece ela é isso?
Levei alguns segundos pra responder.
— Ela é alguém do meu passado.
O olhar dele mudou imediatamente, ficou sério, tenso.
— Eu preciso saber esse site. Onde eu posso encontrá-la de novo!
— Cara… nem era pra ser ela.
Olhei pra ele sem entender nada, e então ele suspirou pesado:
— Eu contratei outra, Edgar. Eu não sabia que seria ela que viria aqui.
Ele negou me olhando, como se ele fosse uma vítima do meu ataque.
— Você ficou louco se acha que eu traria alguém do seu passado pra tua despedida de solteiro, cara!
ele completou, meio desesperado.
— Me dá o site!
Insisti. Ele suspirou de novo, pesado, derrotado.
— Eu te ajudo… p***a, eu te ajudo a achar ela. Só fica de boa!
Acenei concordando, a ansiedade me consumindo, e entramos.
Ele pegou o notebook e ficou olhando pro estrago que eu tinha feito, os cacos no chão, o rastro de vidro e bebida.
Aos poucos, parecia entender a grande merda que tinha rolado ali.
Digitou o endereço do site e virou a tela pra mim.
A foto que surgiu, não era ela..
O perfil: Donna
acompanhante de luxo
35 anos. Cabelos castanhos, olhos claros, vestindo uma roupa sensual.
— Essa não é ela…
murmurei, mais pra mim mesmo do que pra ele.
— Eu sei, essa foi a garota que eu contratei. Não sei porque essa outra veio no lugar dela… Eu não fiz isso, cara.
Pouco me importa o que ele fez, eu quero saber é dela.
Ainda estava atordoado, incapaz de processar tudo.
Cadu me olhou, curioso, preocupado.
— Quem é ela?
— Clarisse…
falei, olhando bem pra ele.
Sei que aquele nome não dizia nada pra ele. Nem eramos amigos quando tudo aconteceu.
Mas pra mim… falar dela era como enfiar uma estaca no peito.
— A garota que eu me apaixonei há muito tempo…
Ele ficou atônito, sem saber o que dizer. E eu só conseguia pensar em uma coisa: precisava encontrá-la de novo.
Ele me olhou com aquele questionamento silencioso.
— Ela é uma acompanhante de luxo, Edgar… E a Liana? Falta duas semanas pro teu casamento, cara.
Eu não fazia ideia de como ia resolver isso. Mas tinha uma certeza absoluta:
O passado não tinha morrido.
Muito menos tinha sido esclarecido.
E eu precisava disso pra seguir em frente, ou, dessa vez… fazer o que devia ter feito há muitos anos.
(...)
Fuçamos o site inteiro. Cada arquivo antigo, cada galeria esquecida…
— Não tem nada dela.
Carlos Eduardo disse desistente, mas eu não. Sempre tive o bom hábito de insistir em tudo que tenho interesse, e esse assunto... Há, ele é do meu interesse por uma porrada de tempo.
— Procura mais!
até que finalmente encontramos.
Lá estava o perfil dela.
Bianca…
29 anos
Cabelos negros, olhos escuros, rosto angelical.
As fotos do book dela na tela… cada clique fazia meu sangue ferver. Cada pose, cada olhar, me lembrava do que eu tinha perdido, do que não podia tocar.
As fotos não eram de exposição s****l, mas me fez travar a mandíbula, vê-la ali apresentada como um produto erótico, sexual..
— Nossa…
Carlos Eduardo murmurou, mais satisfeito do que eu queria admitir.
— Eu nem consegui ver ela direito…
disse, como se lamentasse ter perdido algo precioso.
Eu me senti incomodado, apertando ainda mais mandíbula.
— Abre o contato!
ordenei, com o peito apertado.
Mas não dava. O perfil estava desativado. Não funcionava há dois anos. A última atualização mostrava o tempo congelado.
— Não dá…
disse Cadu, resignado.
Não aceitei. Procurei pelo nome de guerra que ela usava de novo… e lá estava. Bianca, com o sobrenome que nunca soube usar.
— Ela deve ter redes sociais com esse nome…
murmurei, e imediatamente comecei a vasculhar o celular.
Passei por dezenas de perfis até achar.
Meu peito deu uma fisgada.
Depois de tantos anos… finalmente a encontrei.
Ela não usava o nome real, talvez nunca tivesse usado.
Mas agora, ali, estava diante de mim de novo, ainda que apenas em imagens.
Fotos dela, sensuais, provocantes.
Vídeos, perfis de acompanhante de luxo. Cada detalhe queimava em mim.
— Edgar… o que você tá fazendo, cara?
Cadu me repreendeu, a voz misturando preocupação e incredulidade.
— Quer mesmo procurar essa garota?
continuou vendo o meu pecado mais profano.
Mas... Droga! Ela estava ali diante dos meus olhos, estava na minha frente.
Qualquer tipo de razão, juízo ou sanidade escapava do meu total controle.
— É gata… em outra situação até eu iria atrás, mas você…
Olhei pra ele com olhos firmes.
Porra... Ele tinha total razão, mas quem disse que o meu corpo, meu peito e minha alma respondia a sua repreensão. Não. Estava sedento por mais.
Mas não podia ousar dizer isso.
Ele era amigo da Liana. Foi ela quem me apresentou ele, foi assim que essa amizade começou, falar do meu mais sujo interno agora, só pioraria tudo.
Então miseravelmente disse:
— Eu não sei o que levou ela a entrar nessa vida, mas essa não é a garota que eu conheci anos atrás. E se for tudo culpa minha?
cortei seco, sem conseguir engolir.
— Culpa sua?
ele riu nervoso.
— Rsrs… o quê? Ela se prostituir?
Fechei a cara.
— Repete isso e eu quebro a p***a dos teus dentes!
falei, firme.
— Cara… mulheres assim são gananciosas, não estão nem ai pra homem nenhum… só pra dinheiro, luxo. E a culpa não é sua se ela entrou nisso. Você tá pirando!
ele tentou argumentar.
Mas eu sabia. Clarisse não entraria nisso sem motivos. Ela não era assim.
Decidi não explicar nada pra Cadu. Ele nunca entenderia.
— Você não a conhece.
disse, simplesmente.
Me levantei e caminhei pra porta. Cadu foi atrás.
— O que vai fazer?
perguntou.
— Preciso de mais informações.
— Que tipo de informações?
— Tudo.
Ele me olhou perplexo, incrédulo.
— Vai mesmo fazer isso?
Não respondi. Apenas olhei pra ele com a seriedade que não deixava margem pra dúvida.
— Ok… isso é loucura…
murmurou, incrédulo.
Já ia sair quando ele parou, quase me implorando:
— Espera… o que você sabe dela?
suspirei pesado, decidindo se iria mais afundo nisso com ele.
Não sabia se dava pra confiar.
— Ela saiu da cidade por causa de um vídeo.
Ele estreitou os olhos.
— Um vídeo? Que tipo de vídeo? Vídeo público?
Assenti.
— Calma… dá pra pesquisar. Onde era a cidade? Tenho um amigo que pode ajudar.
Voltei pro notebook. Cadu pesquisou o vídeo, mas ele tinha sido removido. Restaram apenas matérias antigas.
O texto não citava o nome da vítima, mas mostrava que ela denunciou Marlon, que estava preso por assédio a anos, inclusive contra menores. Crime de stalker, perseguição…
Ela o denunciou.
Havia data, detalhes… e na data do vídeo, nós nem estávamos juntos.
Ela mentiu. Disse que voltou com ele logo após minha partida, mas era mentira. Só quis me ferir. Eu sabia!
Isso me trouxe algum alívio, mas não tirou a carga de tudo que ela disse, nem a forma como me olhou.
— O cara ainda tá preso… você chegou a ver esse vídeo?
Cadu perguntou.
Assenti, passando a mão na barba.
— Acha que foi por isso que ela entrou nisso?
ele insistiu.
Neguei.
— Eu não sei… Procurei por ela todos esses anos depois que saí da cidade. Nunca encontrei nada.
— Talvez porque ela não queria ser encontrada…
sugeriu.
Neguei de novo.
— Ela me procurou, na minha antiga casa. A cidade era pobre… ela nem tinha celular.
Cadu passou a mão no rosto, fechou o notebook, exasperado.
— Cara… isso é muita loucura. Era pra ser uma noite de farra, e estamos aqui procurando uma garota de luxo que você teve lance no passado. Pouco antes do seu casamento. Vamos deixar isso pra lá, Edgar. Isso só vai complicar tudo.
Levantei, firme, negando com a cabeça.
— Ninguém pode saber disso, ouviu?
Cadu suspirou, ainda contrariado.
— Você vai atrás dela?
— Tenho contas a prestar com o passado… e não vou parar até colocar tudo na mesa.
— Edgar…
disse, em tom repreensivo.
— Vou contar com você ou não?
Ele só acena.
— Sempre, cara.
Era isso. Agora eu sabia onde encontrá-la, onde vê-la.
E dessa vez… nada iria me impedir.