tentativa falha de te esquecer.

1379 Words
Carlos Eduardo continuava me olhando incrédulo pelo que ouviu, continuei: — Ouvi ela falando… que vai me contar no casamento. Ele passou a mão pela barba, nervoso. — Você não vai fazer isso, vai? Balancei a cabeça, um misto de negação e desespero. — Grávida… ele repetiu, incrédulo. — De quanto tempo? — Não sei. Ela não sabe que eu sei. — p**a que pariu. Ele praguejou negando. Olhei o relógio. As horas não paravam de me esmagar. — Preciso ir. Te encontro na empresa. Não se atrasa. Ele só ficou parado, ainda atordoado, enquanto eu entrava no carro. Pelo retrovisor, vi Cadu me observando de uma forma que eu não conseguia decifrar. Talvez ele me julgasse, por tamanha loucura, pra quem sempre tentava manter a reputação limpa, estava sendo um dos piores exemplos de homem. E ele ficou ali, me observando até eu sumir da entrada da mansão. .... Entrei no escritório como o habitual, funcionários sempre correndo pra entregar dentro dos prazos o que lhe foi destinado a fazer. Fui até a mesa da secretaria que já me recebeu com uma pilha de documentação. — Bom dia senhor Sturdart... — Bom dia Célia, o Gusmão já chegou? — Já sim, está na sala dele... Chegou bem humorado hoje. — algum motivo especial? Ela se inclinou com um sorriso travesso como se guardasse o maior segredo. — Não sei direito mas ele me pediu pra agendar uma viajem pra ele, pra dois na verdade. Franzi o cenho, ele não era muito de viajar, só quando já resolver negócios. — Serio? Alguma reunião? — Pelo destino, não teria reunião nenhuma ali... Acho que vai fazer um agrado a dona Luiza. Acenei com um sorriso pequeno. — Vou até ele, tenha um bom dia. — Pro senhor também. Passei por seu balcão indo até a sala dele. Bati na porta do escritório. — Entre! ouvi a voz firme de sempre. Abri e o encontrei sentado atrás da mesa de mogno, rodeado por pilhas de papéis e a vista panorâmica da cidade. Ele abriu um sorriso quando me viu. Fez um sinal com a mão. — Combinado então, passo pra te pegar, você vai gostar da surpresa. Ele desliga a ligação. É realmente, ele estava de bom humor. — Olha se não é o homem que vai levar minha filha pro altar dentro de alguns dias. Fechei a porta atrás de mim. — O que faz aqui? ele continuou. — Não deveria estar tocando ternos e escrevendo votos? — Os negócios não esperam. respondi, forçando leveza. Ele riu. — Justo. E como vai seu pai? — Bem. Me sentei de frente a ele. — Soube que vai viajar. Afirmei com um tom amigável. — A secretária me contou agora há pouco. — Vou sim. confirmou. O sorriso dele mudou. Menos profissional, mais… íntimo. — Não temos nenhuma reunião ou convenção marcada. Seria a negócios? Ele balançou a cabeça. — Não dessa vez. Estou velho, rapaz. Os negócios ficaram por sua conta em breve. Pretendo viver agora. Franzi o cenho, confuso. — Viver? Ele se recostou na cadeira, quase satisfeito com o próprio segredo. — Ainda não conversei com ninguém sobre isso, mas… depois do seu casamento, irei pedir o divórcio à Luiza. Senti o chão escapar sob meus pés. Uma confusão sem tamanho. — Divórcio!? — Nosso casamento, por longos anos, foi fachada. Ele falava como se contasse uma piada que já perdeu a graça. — Uma fachada pro crescimento da Liana. Luiza sempre disse que precisávamos manter a família estável pra ela. — Eu… eu não sabia disso. — Poucos sabem. ele sorriu, negando com a cabeça. — Mas minha filha já cresceu. Agora, finalmente, eu posso viver algo novo. Levei tempo demais para admitir o que eu queria. As palavras dele caíam sobre mim como pedras. Ironia maldita… era como se estivesse descrevendo exatamente o que eu estava vivendo, ou o que eu pretendia fazer. — Quando… engasguei, olhando para ele de novo. — Quando você viu que cometeu um erro ao aceitar continuar esse casamento? A pergunta o pegou de surpresa. Mas ele não fugiu. — Quando me apaixonei de novo. a voz saiu rouca, carregada. — E não pude viver isso. Mas agora eu posso. Pelo pouco tempo que me resta… perdi tempo demais, rapaz. .... CLARISSE: A porta rangeu quando empurrei, e m*l botei o pé dentro de casa vi Donna entrando toda acabada, salto na mão, maquiagem borrada. — Eu tô cansada disso, Clarisse… ela jogou a bolsa no sofá, largando o corpo junto. — Eu quero me aposentar. Sorri de canto, cansada também, mas por outros motivos. — Eu recebi uma proposta pra isso. Ela ergueu os olhos, surpresa, quase assustada. — De quem? Não me diz que foi do gostosão de ontem. Balancei a cabeça. — Não era o homem da foto, era o Edgar. respirei fundo. — Ele fez um perfil falso, armou uma armadilha pra me encontrar. Donna se endireitou no sofá, perplexa. — Você tá brincando… — Não. desviei o olhar, como se falar fosse me rasgar por dentro. — Eu disse muita coisa que tava engasgada. Ele também. Foi intenso… pesado. E eu saí correndo de lá como uma covarde. Ela se aproximou devagar, com aquele olhar de quem já sabia a resposta. — Você ainda ama ele, não é? Sorri pequeno, mas triste. — Eu nunca deixei de amar. — Então por que não tenta? ela insistiu. — Faz ele desistir desse casamento, retoma esse amor! Neguei, a garganta travada. — Isso é impossível. Olha pra mim, Donna… olha o que eu sou. Ela me encarou como se quisesse me sacudir. — Ele não deve ser assim, ou não teria armado tudo só pra te ver. A não ser que só quisesse sexo. Balancei a cabeça rápido. — Não, não era isso. Ele parecia sincero. Disse que me procurou, que voltou lá pra me buscar… — Jura? os olhos dela brilharam. — Então se você tivesse ficado, teria ido com ele? Só consegui acenar. — E o que você tá esperando pra se jogar nos braços dele, Clarisse? Isso sempre foi o que você quis! — Ele vai casar, Donna! explodi, o peito queimando. — Com a garota que a mãe dele sempre disse que seria dele. Ela tava certa. Ele seguiu a vida. Respirei fundo, pesada. — A mãe dele me chamou de vulgar, de desrespeitosa. Disse que eu era só um passatempo. Eu não quis acreditar… mas olha só onde a gente chegou. Donna não respondeu. Só ficou ali, olhando pra mim, como se tentasse me consolar em silêncio. Engoli seco. — O Gusmão me ofereceu isso. Ele disse que se separaria se eu quisesse. Que me assumiria, me tiraria dessa vida. — Eu sabia! Donna bateu palmas, nervosa. — Eu sabia que ele ia acabar fazendo isso. — Eu aceitei a viagem de aniversário. Escolhi Maldivas… — Maldivas!? ela arregalou os olhos. — Menina, esperta! Sonho de consumo! Dei um sorriso frágil. — E então? Vai aceitar? Vai se aposentar e me abandonar? Balancei a cabeça. — Nunca te abandonaria. Ela sorriu, aliviada, mas o celular vibrou na minha mão. Olhei a tela. Gusmão. Mensagem: Chegou bem ontem? Quer almoçar comigo hoje? Tenho um presente pra você. Donna ergueu as sobrancelhas. — Pela sua cara… é ele. Assenti. — Tá me chamando pra almoçar. Diz que tem algo especial pra me dar. — E o que você tá esperando? Liga, faz charme! ela riu. — Um raio não cai duas vezes no mesmo lugar. Respirei fundo e liguei. A voz dele soou boa, quase quente. Perguntou se eu tava bem, confirmei. Quis me ver, eu aceitei. — A noite de ontem foi especial. disse ele. — Foi sim. respondi, baixinho. Uma pausa. Então ele disse algo com alguém do outro lado da linha. — Entre… Silêncio do outro lado. Respirei fundo. — Preciso desligar agora. Ele disse. — Tudo bem. ele suspirou. — Passo pra te pegar. Você vai gostar da surpresa. Desliguei. Donna jogada no sofá me encarava. — O que será? Ele sempre foi generoso. — Não sei… vou me arrumar. Ela ergueu o dedo. — Só não faz nada que vá se arrepender depois! — Pode deixar! gritei já do quarto. (....)
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