...
Na manhã seguinte, acordei com o sol entrando pela janela e encontrei Edgar olhando o celular.
Seus dedos deslizavam sobre a tela, seus olhos atentos.
— Muitas mensagens?
perguntei, ainda deitada, com a voz rouca pelo sono e pelo calor da noite.
Ele negou, soltando o aparelho, e me beijou com aquela calma e possessividade que me deixava sem ar.
— Você dormiu pouco.
disse, tentando mudar o assunto.
Mas eu não queria, eu precisava de mais. Ir mais afundo entender o que estava passando na cabeça dele. Entender se ainda precisava me proteger.
— Eu entendo você, Edgar… tem um bebê envolvido, e faltam poucos dias pro seu casamento, só toma cuidado com o que vai fazer, não quero ser o motivo pra destruir uma família...
continuei, tentando colocar ordem no turbilhão de pensamentos.
Ele respirou fundo e segurou meu rosto, os olhos queimando.
— Eu não vou te perder de novo.
— Você não vai.
garanti, sentindo meu coração acelerar.
— Podemos enfrentar isso juntos... Mas não me peça pra ser sua amante ou pra manter isso escondido. Eu não vou repetir os erros do passado.
— Ja tomei minha decisão, ela não mudou...
Ele me tomou novamente nos braços, e naquele instante, tudo parecia certo e errado ao mesmo tempo.
Mais tarde, enquanto ele se arrumava para voltar, disse:
— Você pode ficar o tempo que quiser aqui. Ninguém sabe desse lugar.
Sorri pequeno, sentindo um conforto estranho por estar ali.
Ele me beijou mais uma vez, e meu coração apertou, confuso.
Não sabia se havia feito a melhor escolha, mas queria tentar.
— Vou contar tudo pra Liana. Ela sabe de você, do meu passado… e vou resolver isso. Cancelar esse casamento, e sobre meu filho, eu não vou abandonar ele.
— Não esperaria menos de você.
Senti seus lábios pressionar os meus, com suspiros pesados. Contrariados a sair.
— Descansa...
Disse baixo, acenei que sim com um sorriso bobo.
Quando ele saiu, puxei o lençol com o cheiro dele.
Fechei os olhos e respirei fundo, tentando me convencer de que estava fazendo a escolha certa.
Mas dentro de mim, sabia que queria mais… queria tentar estar com ele, mesmo que o mundo inteiro conspirasse contra nós.
...
EDGAR:
As horas haviam se passado, já amanhecia quando entrei em casa novamente.
Os passos pesados, o peito apertado como se cada batida fosse um golpe.
Assim que empurrei a porta, encontrei Liana na sala. O rosto dela estava inchado, os olhos vermelhos, a respiração trêmula.
— Pra onde ele foi mãe? Consegui falar com ele? Eu.. eu não queria que ele saísse daquela forma.
A mãe dela estava sentada ao lado, como se fizesse guarda.
E então ela me viu.
— Edgar…
A voz dela quebrou.
— Onde você estava? Eu fiquei tão preocupada.
Disse vindo em minha direção.
Respirei fundo, tentando conter a confusão que queimava dentro de mim.
— Eu precisava de ar. De um tempo pra pensar.
Ela correu até mim e segurou meu rosto com as mãos frias. Antes que eu recuasse, ela me beijou como se aquele contato fosse a última esperança dela.
— Me desculpa… eu exagerei. Você tinha razão. Não era sobre as flores, nem sobre escolher nada… eu só queria você comigo.
Meu corpo endureceu.
A verdade me pesava demais para corresponder.
Virei o rosto na direção da mãe dela.
— Podemos ficar a sós?
Ela hesitou, mas assentiu e saiu em silêncio. A sala ficou carregada, como se o ar tivesse engrossado.
Liana me olhava com os olhos úmidos, implorando por uma resposta que eu não sabia dar.
Suspirei, sentindo a garganta seca.
— Eu não posso mais me casar com você, Liana.
O impacto tomou conta dela.
— O quê?
sussurrou, como se não tivesse entendido.
— O que você está dizendo?
Desviei o olhar, buscando coragem.
— Eu sei do filho.
O choque dela foi imediato.
— O quê?… Não, não pode ser… Era pra ser uma surpresa!
As lágrimas escorreram de imediato, manchando o rosto já cansado.
— Eu ouvi você e sua mãe conversando.
Passei a mão pelo cabelo, nervoso.
— Eu sabia, Liana. Mas… não esse não é o motivo, ele não tem nada haver com o que eu vou dizer agora.
Ela respirava rápido, tentando se recompor.
— Então por quê? Por que dizer isso agora? Falta poucos dias pro casamento, isso.. isso não pode está acontecendo!!
Engoli em seco, o peso da verdade me esmagando.
— Porque eu encontrei Clarisse.
As palavras saíram como uma sentença.
Liana recuou um passo, o rosto se transformando em pura incredulidade.
— Clarisse?… Aquela…
A voz dela se desfez em soluços.
— você não pode estar falando sério.
Fechei os olhos por um instante.
— Eu não posso me casar com você amando outra mulher. Não seria justo.
— Justo?
ela gritou, a voz embargada.
— Não! Não fala isso! Você não ama outra, Edgar! Ela! Sempre ela! Essa mulher só aparece pra te desestabilizar, pra me roubar o que é meu!
— Liana…
— Não!
ela o interrompeu, desesperada, batendo no próprio peito com força.
— Eu sei que nós não estamos bem, mas eu não posso continuar com esse casamento por causa da criança.
— Não!
a voz dela explodiu, embargada.
— Não fala isso! Não é por causa da criança… é por amor! Você me ama!
Engoli em seco.
— Eu sempre fui sincero com você, Liana. Sempre. Nunca escondi o que sentia.
O rosto dela mudou, os olhos se tornaram um poço de raiva e dor.
— Não! Você não deixa aquela fantasma ir embora! Anos, Edgar! Anos já se passaram!
Cada palavra dela me atingia como golpe. Eu não consegui responder.
Foi quando ela cuspiu a pergunta que cortou meu silêncio ao meio:
— Você a procurou?
Meu coração parou. Não disse nada.
Os olhos dela se encheram de lágrimas, tremendo.
— Meu Deus… você ainda espera por ela! Você encontrou com ela Edgar!
Ela não esperou resposta, negando, se afastando.
— Nós seríamos uma família agora! Você, eu e nosso filho. Eu não vou aceitar! Não de novo! Não vou deixar aquela mulher arrancar você de mim mais uma vez!
As lágrimas dela eram de dor e raiva misturadas, cada palavra me cortando por dentro.
— Isso... Isso não pode está acontecendo, não pode!
Seus passos antes firmes vacilaram, ela se apoiou na parede.
Dei um passo à frente para segurá-la, mas antes que pudesse, vi os olhos dela perderem o foco.
— Eu não... Vou deixar...
Seu corpo declinou a cair.
— Liana!
corri quando o corpo dela vacilou, os joelhos cederam e ela caiu contra mim, completamente sem forças.
— MERDA…
A segurei nos braços, sentindo o peso dela como uma âncora puxando meu peito para o fundo.
— Liana! Fala comigo!
O desespero me tomou inteiro. Minha voz ecoou pela casa, carregada de pânico e culpa.
— Alguém me ajuda!
.....