O PASSADO. 01

1243 Words
CAPÍTULO 01: NARRAÇÃO DE CLARISSE: Pra entender como eu parei ali... Você precisaria passar o que eu passei, viver o que eu vivi e sentir... Toda dor que eu fui obrigada a carregar. Ninguém escolhe vender-se gratuitamente... Sempre há uma razão, seja ela pela dor ou por ambição. E muitas vezes... Como no meu caso, sobrevivência. E ver ele ali... De novo, trás a tona tudo que me fez ser o que eu sou hoje. Mas pra entender isso, é preciso passar pelo momento mais difícil de toda a minha vida... ANOS ATRÁS... .... Eu cresci em uma cidade pequena. Tão pequena que as pessoas sabiam quando alguém comprava uma cortina nova, ou se trocava a cor da porta da frente. Minha vida inteira parecia caber dentro de três ruas principais: a praça com a igreja, a escola onde eu estudei e a padaria do seu Armando, que já me vendia pão fiado desde que eu era criança. Sempre acreditei que meu futuro seria previsível. Eu me via trabalhando no comércio, talvez casando com algum rapaz da região, criando filhos que também correriam pelas mesmas ruas poeirentas. Até que uma reportagem mudou tudo. Um jornal da capital decidiu vir até aqui. Queriam mostrar como era a vida "tranquila" do interior, quase como se fôssemos um cenário esquecido no tempo. As câmeras mostraram nossas festas juninas, as crianças brincando descalças, e até entrevistaram alguns moradores. No começo, achei engraçado ver minha cidade na televisão, mas logo percebi o que ninguém esperava: aquela matéria trouxe movimento, trouxe olhos de fora. E, junto com eles... trouxe Marlon... Ele chegou pouco tempo depois, com um ar diferente de todos que eu já tinha visto. Alto, bem vestido, o tipo de homem que parecia pertencer a outro mundo, não ao nosso. Dizem que professores não deveriam mexer com os sentimentos das alunas. Mas eu não sabia dessas regras. Ou talvez soubesse e simplesmente não quisesse ouvir. Quando ele entrou na sala pela primeira vez, se apresentando como o novo professor de literatura, eu senti algo que nunca tinha experimentado. - Meu nome é Marlon. disse, com aquela voz grave e calma. - Espero que possamos aprender muito juntos. Ele não parecia se esforçar, mas cada olhar dele tinha um peso diferente. Não era só o que dizia, mas como dizia. Ele falava sobre livros como se estivesse revelando segredos guardados em cofres, e cada palavra dele parecia entrar em mim como uma chama que despertava algo novo. Eu, que sempre tinha me sentido pequena, invisível, comecei a querer ser vista. Por ele. Naquela época, eu era apenas uma menina ingênua, cheia de sonhos. Não entendia que o mundo podia ser c***l. Só sabia que havia encontrado uma espécie de sol em forma de homem. E eu queria me aquecer ali, sem pensar no risco de me queimar. voltava das aulas com o coração acelerado, revendo cada detalhe: a maneira como ele segurava o livro, como os olhos dele percorriam a turma, como, às vezes, se demoravam um pouco em mim. Bastava isso para eu acreditar que havia algo especial. Na minha cidade pequena, onde tudo parecia igual todos os dias, Marlon era a novidade que incendiava meu mundo. E, mesmo sem perceber, eu já estava me entregando a um destino do qual jamais conseguiria escapar. Eu não conseguia parar de observá-lo. E naquele primeiro dia de aula, ele nos fez uma pergunta que mudou tudo: - A cidade tem um belo exemplo de autores que saíram daqui para o mundo, foi por isso que vim dar aula aqui, eu escolhi isso, porque acredito que vocês tem potencial. Mesmo nessa cidade pequena, eu sei que você são grandes. Quantos de vocês já escreveram um livro? Minha mão subiu sozinha, quase sem eu perceber. Era a única da sala que já tinha escrito algo, e senti o olhar dele sobre mim. Um olhar que parecia me desvendar por inteiro. - Posso ver o seu livro, se você permitir? ele perguntou, com aquela voz calma e firme. Eu senti minhas bochechas corarem. - Eu... não trouxe... mas posso trazer. As outras garotas riram, assanhadas, comentando que também fariam para ele ler. Eu só fiquei ali, tímida, tentando controlar o coração que acelerava. Os dias passaram, e ele começou a me notar mais. Em uma das aulas, duas vezes por semana, pediu para que eu ficasse na sala. - Clarisse... Fique, por um momento. Acenei e fiquei até a sala esvaziar. - Você trouxe o livro? perguntou, com aquele tom que misturava curiosidade e algo mais. - Achei que você não tivesse interesse mais... mas trouxe... respondi, nervosa. Tirei o livro da bolsa e entreguei a ele. A capa artesanal chamava atenção: imagens envolventes, sensuais, que refletiam cada emoção que eu tinha colocado nas páginas. - Um... romance. ele disse, com leve surpresa. Baixei o olhar. - Não se preocupe. ele continuou, - o livro fica comigo, não espalharei nada. Sorri, confiante, sentindo uma pontada de calor subir pelo corpo. Com o tempo, percebi que os olhares dele eram mais intensos, atentos, observando cada gesto meu. Não recebi meu livro de volta, mas tinha curiosidade se ele havia lido. O passeio anual da escola, o tão esperado chegou. Tivemos apresentações de teatro, passeios pelos rios... e em um desses momentos, ele se aproximou. - Você estava muito afastada hoje. comentou. - Eu não me enturmo muito com as outras. respondi, timidamente. - Já notei que você é diferente. disse ele, e um sorriso se formou no meu rosto, involuntário. - Eu li o seu livro. completou, me deixando sem fôlego. - Todo? perguntei, incrédula. - Não... disse ele, com um sorriso. - parei no momento em que Amélia revirou os olhos e suas pernas tremeram. Causaram reações físicas, tive que parar ... Você expressa muito bem os sentimentos, está de parabéns. Meu rosto queimou. Meu Deus... ele... se masturbou lendo meu livro? Olhei em volta; a maioria dos alunos já se afastava, restando apenas alguns próximos. - Não quer nadar? perguntou ele. - Não... menti, hesitante. - Eu não sei nadar. - Eu te seguro. Confia em mim. disse, aproximando-se. Seduzida, eu acenei e entrei na água, ao lado oposto dos outros. Assim que meus pés afundaram, tomei um susto. - aí meu deus... Vou afundar. Ele me puxou pela cintura, e o corpo colado ao dele fez meu coração disparar. - Não vai, calma. Fiquei tão nervosa, ele estava ali... Tão perto, podia sentir sua respiração, seu olhar intenso, quente. O silêncio que nos tomava, era mais cheio de palavras do que qualquer outro silêncio. - Só pensei em você enquanto lia aquilo. murmurou próximo ao meu ouvido. - Foi...? perguntei, tensa, ansiosa. Ele assentiu. - Queria saber se era tão bom quanto lendo. Meu corpo reagiu antes da razão. Cada gesto dele era intenso, provocativo... e eu não conseguia negar a atração. O medo de alguém ver aquilo era grande, me causava nervosismo mas eu não queria parar... Não queria perder aquela química. Eu nunca senti nada parecido. Senti seu beijo em meu ombro, seus dedos estavam na alça do meu biquíne. - posso? Meu coração acelerou, olhei dentro dos olhos dele e acenei que sim. Ele removeu uma alça e beijou meu ombro, meu corpo inteiro se arrepiou, joguei a cabeça pra trás sentindo meu corpo ferver. Ele subiu os beijos pro outro lado removendo a outra alça. Entorpecida, recebi seu beijo devorando o resto da minha sanidade. ....
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