Ciúmes doentio.
1135 Words
Quis me encolher. Mas antes que eu pudesse responder, Edy falou, firme:
- A culpa não foi dela. Eu perguntei algo da matéria.
Marlon não se abalou.
- Não justifica. Clarisse, pega suas coisas e senta do outro lado da sala.
Meu coração afundou.
- Não vai mais acontecer, professor...
- Não vai mesmo.
ele cortou.
- Nas próximas aulas, seu lugar é na lateral.
Olhei pro Edy e baixei a cabeça.
Não podia fazer nada.
Obedeci, com as pernas tremendo. Mas dentro de mim, eu sabia: aquilo não era sobre disciplina. Era ciúme. Marlon não aceitava me ver sorrindo para outro.
E era muito bem feito, esse babaca.
...
Quando a aula terminou, Edy veio até mim. Saímos juntos depois da aula, e o ar parecia mais pesado que o normal. Eu sabia que Edy ia falar alguma coisa, e meu coração já se preparava para isso.
Ele parou do meu lado, sério.
- Isso já está saindo dos limites, Clarisse. O que aconteceu entre vocês?
sua voz era firme, mas não dura.
- Isso é abuso, você sabe, não é?
Engoli em seco, desviando o olhar.
- A gente pode falar disso em outro lugar?
pedi quase num sussurro.
- Eu conto pra você.
Minutos depois estávamos sentados numa mesa de canto da lanchonete, o cheiro de café e fritura misturado com a música baixa no rádio. Eu mexia nervosa no guardanapo, até que resolvi abrir a boca de uma vez.
- Eu me envolvi com ele, Edy...
confessei, sentindo o peso daquelas palavras caindo como pedras.
- Eu achava que era especial. Acabei... Usando você quando vi aquela foto dele com outra aluna. Eu não queria sentir isso, mas senti.
Ele me olhou sem julgamento, os olhos calmos demais para o turbilhão que eu estava. Então, sem rodeios, disse:
- Se você quiser me usar mais vezes... pode.
Levantei o rosto surpresa, soltando um riso incrédulo.
- Fala sério...
Mas ele não riu.
- Eu estou falando sério. Mas me diz... você sente algo por ele?
Suspirei, sentindo a garganta arder.
- Eu senti. Mas ele só me usou. Nunca me senti tão suja na vida, Edy.
Foi então que ele estendeu a mão e tocou meu rosto. O gesto me pegou de surpresa, e instintivamente levei minha mão por cima da dele, segurando como se não quisesse perder aquele calor.
- Eu não sou assim.
confessei, sentindo o nó na garganta crescer.
- Eu não sei o que aconteceu comigo.
Ele balançou a cabeça, firme.
- Você não devia ficar se maltratando desse jeito. Você é livre, Clarisse.
Ri de nervoso.
- Você não vai entender... O que eu fiz vai contra tudo que eu queria. Tudo que sempre sonhei em fazer certo.
Ele me encarou sério, inclinando-se um pouco.
- Então me fala... o que é o certo pra você?
As palavras escaparam num fio de voz, cheias de vergonha e de esperança ao mesmo tempo:
- Sei lá... namorar, ter alguém leal, fiel a mim, se conhecer... talvez um dia casar... ter filhos. E agora... tudo parece sujo.
Ele levou a mão dele sobre a minha, entrelaçando os dedos.
- Então namora comigo.
Meu coração disparou, e eu o encarei em choque.
- Edy... eu tô falando sério.
- Eu também tô. Você não queria fazer certo? Então vamos fazer certo.
Sorri nervosa, balançando a cabeça, como se fosse só mais uma brincadeira dele. Mas ele segurou firme minha mão, e levou até a boca, beijando a devagar.
- Ele vai ser só uma lembrança r**m.
Tentei negar sorrindo, mas no fundo aquelas palavras mexeram comigo mais do que eu queria admitir.
- Você é louco sabia...
No fim das aulas, quando o corredor estava cheio de gente, ele simplesmente pegou minha mão.
- Edy!
sussurrei assustada.
- O que você tá fazendo? A cidade inteira vai falar.
Ele sorriu daquele jeito leve e decidido.
- Deixa falar. Eu vou levar minha namorada em casa.
E antes que eu pudesse retrucar, passou o braço pelos meus ombros com naturalidade, me guiando até o carro. Abriu a porta e esperou, como um cavalheiro, enquanto eu entrava ainda sem acreditar no que estava acontecendo.
Não sabia se aquilo ia durar, se ele realmente tinha noção da bagunça que era estar comigo. Mas... naquele instante, sentado ao lado dele, eu só conseguia pensar em como Edy era especial. Tão leve. Tão diferente.
Em frente a minha casa, meu pai saiu pra fora, desceu as escadas com um olhar tão sério.
- Edy... Meu pai.
Ele não esboçou receio algum, parou o carro e desceu na frente.
- Edgar!
Olhei pra frente, ele falando com meu pai, levando a mão pra frente.
Desci do carro sentindo o coração pular na boca, e então o ouvir:
- Eu quero a permissão pra namorar sua filha, senhor.
Meu coração deu um salto forte, meu pai me olhou me deixando ainda mais nervosa.
Minha mãe desceu as escadas me olhando confusa.
Sua expectativa era o professor, ela mesmo já tinha me dito isso.
- E quem é você rapaz? Eu nunca lhe vi antes na cidade.
- Edgar Studart.
Meu pai voltou a olhar pra ele, segundos depois pegou sua mão.
Eu não sei, o olhar dele mudou. Era como se o Edy antes fosse uma ameaça, mas foi só ele dizer seu nome que a feição do meu pai mudou.
Minha mãe levou a mão a boca, isso me deixou intrigada. Mas não era suficiente pra tirar minha atenção do que o Edgar estava fazendo...
Mesmo que fosse a coisa mais estranha que já os vi fazer.
O olhar do meu pai, voltado pra mim, como uma cobrança de "diga alguma coisa garota" me fez soltar o ar preso, mas ele falou primeiro, como se aquilo que o Edy disse, não fosse loucura.
Eu.. nunca nem trouxe ele aqui em casa, como meu pai aprovaria algo assim, mas me surpreendi quando ouvir:
- Se for o que minha filha quer..
Eu não estava acreditando em tudo que estava acontecendo... Ele... Ele deixou?
Edy me olhou com um sorriso ladino.
E veio até mim, meu coração entrou em colapso.
Era... Como ver tudo que eu sonhava se materializando naquele homem tão perfeito.
De tanta atitude, mesmo que impulsivo...
- Você quer Clarisse, namorar comigo?
Olhei pra meu pai que estava aguardando, acenou levemente como se me mandasse aceitar, minha mãe acenando sem pudor.
- o que está fazendo Edy?
- A resposta é sim ou não..
Tudo estava tão bagunçado... Maluco.. tão intenso.
- Namora comigo, deixa eu fazer do jeito certo.
Meu coração deu um salto, então acenei.
Suave e a voz saiu fraca.
- Tá...
Ele sorriu se aproximando e me beijando.
Eu não sabia reagir a tudo aquilo, mas eu gostava tanto.
....
- Writer
