O puxei para um beijo.
Um beijo cheio de suspiros, de raiva, de entrega.
Ele me esmagou contra si, como se pudesse me prender ali para sempre.
E por um segundo eu quis. Mas fui eu quem o largou, rompendo o ar, arrancando minha boca da dele como se queimasse.
— Adeus... Edy.
Corri até a porta, enfiei a chave na fechadura e abri em disparada.
Não olhei para trás.
Mas, mesmo do lado de fora, podia sentir o fogo dele queimando no meu corpo.
Era tudo que eu podia ter... Porque eu nunca o tive de verdade.
....
EDGAR:
Fiquei parado.
Duro.
Como se meus pés estivessem colados no chão.
Ela saiu daquela sala deixando o furacão levando tudo dentro da p***a do meu peito.
Adeus...
Essa merda de palavra não saía da minha cabeça.
Não… não era um adeus.
Ela jogou isso na minha cara como se fosse simples. “Acabou, Edy.” Não. p***a nenhuma acabou.
Ela foi arrancada de mim. Arrancaram a gente. E agora nós não éramos mais dois moleques amarrados à coleira dos pais. Agora tínhamos escolhas.
Arrancaram isso de mim. c*****o, arrancaram de dentro do meu peito.
Não era um caso qualquer, talvez fosse... No passado, talvez se tivesse voltado para aquela maldita cidade e a sua escolha fosse ficar.
Sua escolha fosse terminar, talvez não passaria de um relacionamento qualquer, juvenil. Mas não foi.
Ela foi arrancada de mim, arrancaram o que poderíamos ter vivido por pura manipulação.
Passei as mãos pelo rosto, nervoso, os dedos tremeram. O ar entrava e saía pesado, curto, como se eu tivesse corrido quilômetros.
Eu não era mais aquele garoto. A gente não era.
Nós tínhamos escolhas agora. Éramos adultos. Mas Clarisse… ela olhava pra mim como se eu tivesse fugido. Como se eu tivesse deixado ela sozinha.
E aquela frase dela…
“Você não estava lá.”
Porra, ecoava dentro da minha cabeça como um tiro repetido.
Bati a mão no volante com força. O som seco ecoou no carro vazio.
— Droga!
Ela esfregou na minha cara a p***a da ausência.
E ela tinha razão.
Tudo que fiz foi pra protegê-la, pra livrar ela do inferno que minha própria família a colocaria, mas no fim... Ela o viveu.
Sem mim, e que droga, eu não faço ideia do que ela passou.
Ela não fala. Só esconde, Desvia o olhar quando a dor ameaçava escapar.
Mas eu sentia.
Sentia no jeito que ela endureceu, no peso das palavras dela.
E ainda tinha essa merda de casamento.
Uma semana.
Só uma semana.
Respirava descompassado, o peito subindo e descendo como se estivesse afogado.
Me mexia no banco, inquieto, tamborilando os dedos no volante sem perceber.
Eu tinha que pensar.
Eu tinha que decidir.
Fechei os olhos, puxei o ar fundo, mas nada adiantava.
Liguei o carro sem saber nem por quê. O motor roncou, mas o barulho que eu ouvia era outro: a voz dela.
Você não estava lá.
Eu não estava.
Porque confiei. Porque fui i****a.
Acreditei no meu pai quando disse que ia me ajudar, que ia achar Clarisse.
Mentira.
Tudo mentira.
No fim, só fizeram o que a p***a da Lívia queria.
Aquela mulher nem merecia ser chamada de mãe. Porque uma mãe de verdade nunca faria isso com o filho que tanto diz amar.
Senti o sangue ferver, os dedos brancos no volante de tanta força.
Eu odiava.
Eu odiava aqueles dois. Não havia perdão. Nunca houve.
Pisei fundo.
O carro disparou pela avenida. As luzes passavam borradas, mas eu só via Clarisse. O rosto dela. A mágoa dela. O adeus dela que não era dela.
Quando parei em frente à mansão, desliguei o carro devagar.
Apoiei as mãos no volante por alguns segundos, tentando respirar.
Eu tinha que falar com Liana.
Abrir o jogo. Adiar, cancelar, f**a-se.
Não podia seguir nessa farsa com metade da alma destruída.
Saí do carro com passos duros.
A mansão estava estranhamente silenciosa. Sem burburinho, sem gente correndo de um lado pro outro com arranjos, detalhes, ajustes. Nada.
Um vazio esquisito.
Subi as escadas devagar, cada degrau ecoando. O coração martelava.
Foi aí que ouvi vozes.
Vozes femininas.
— Não tá fechando, mãe… E agora? Como eu vou usar esse vestido faltando dias pro meu casamento?
Eu travei.
— Calma, Liana, vamos dar um jeito.
A voz da mãe dela, tentando apaziguar.
E logo depois, a voz dela… da minha mãe:
— Você devia ter mandado fazer maior, já que sabia que ela ia crescer.
Franzi a testa, atônito, sem entender p***a nenhuma.
— Você devia ter me ouvido, filha…
continuou a mãe dela, suave.
— Diz isso em outro momento, só vocês dois.
E então, a voz de Liana, embargada, ansiosa:
— Eu quero que seja no casamento mãe. Quero que gravem. É nosso primeiro filho. Tem que ser especial.
Senti o ar sumir dos pulmões. Encostei na porta, abri devagar.
Vi.
A mãe dela puxando o zíper do vestido branco. Liana de frente ao espelho, as mãos na barriga.
Filho...
Meu corpo inteiro gelou.
A cabeça latejou.
Meu coração explodia dentro do peito, cada batida mais forte que a anterior.
Grávida.
Liana estava grávida.
Me afastei da porta como se tivesse levado um soco no estômago.
As palavras ainda ecoavam lá dentro.
Aquele vestido branco, o zíper que não fechava… e a mão dela sobre a barriga.
Uma bomba.
Foi isso que caiu sobre mim.
Não que mudasse a p***a dos sentimentos que estavam me corroendo, mas mudava a realidade que eu estava vivendo.
Estava prestes a casar.
A mulher grávida.
E um amor proibido me rasgando por dentro.
Estava divido por a merda de um relacionamento sólido, mas fadado ao fracasso e uma paixão proibida que me rejeita como se eu fosse o grande vilão da sua própria história.
Passei as mãos pelo rosto, puxei o ar, mas o peito só apertava mais.
O tempo corria como uma tortura, e Clarisse… c*****o, Clarisse não me deixava espaço pra nada.
Nenhum acerto. Nenhuma chance de recomeçar.
Ela só se fechava.
Me jogava pra longe.
E quanto mais ela se fechava, mais confuso eu ficava. Mais sedento.
Eu sabia.
Sabia que ela ainda sentia.
Aquele beijo… não foi em vão. Não podia ter sido.
Era ela. Sempre foi ela.
A garota que eu deixei pra trás porque manipularam cada passo meu.
E agora ela me dizia que queria ficar só com as memórias boas que restaram…
...
Desci os degraus tentando organizar o caos que se formava na minha cabeça.
Foi quando vi a luz dos faróis atravessando a garagem.
Instintivamente, me aproximei da janela.
Julien.
Minha irmã mais nova, fruto de uma traição do meu pai. Que fingiram que nunca aconteceu.
Que só descobrimos anos depois quando ela o procurou.
Saía do carro sorrindo.
E o Cadu… meu amigo, Cadu… estava abrindo a porta pra ela.
Fiquei paralisado por um segundo.
Julien… e Cadu?
Que merda era essa?
Meu cérebro até tentou processar, mas não tinha espaço pra mais nada.
A cabeça já estava uma zona.
Eu tinha problemas maiores.
Me afastei da janela, subi pro quarto.
Joguei o paletó em cima da poltrona, desabei na beira da cama.
Apoiei os cotovelos nos joelhos, a cabeça entre as mãos.
Respirava fundo, mas nada acalmava.
Eu estava pronto pra abrir mão de algo sólido, algo certo, estável, uma vida inteira construída por uma incerteza do passado.
Por alguém que me rejeitava.
Que me olhava como se eu fosse o inimigo.
E mesmo assim queimava comigo.
Essa p***a toda não fazia sentido.
Era uma merda sem tamanho.
E agora… uma gravidez.
Uma criança envolvida nessa p***a toda.
Como eu ia carregar isso?
Fechei os olhos, mas só vi ela.
E a palavra dela me despedaçando de novo:
"Adeus."
....