Ela ainda continuava olhando para aquela chave, como se ela fosse sua salvação.
Mas não era, nunca seria uma solução fugir. E eu não permitiria que ela cometesse de novo esse maldito erro.
— É sempre assim? Covarde?
Provoquei, seu olhar queimou quando ela fixou aqueles olhos negros em mim.
— Você fez tudo isso?
cuspiu, indignada.
— Me atraiu pra essa armadilha? Fingiu ser outra pessoa!
— Uma culpa que não vou me arrepender de cometer.
— O que você quer?!
o tom dela era de guerra, levei as mãos ao bolso, controlando tudo que ardia em mim.
— A verdade.
Ela riu sem humor, negando como se tivesse ouvido o maior absurdo.
— Você veio até aqui… me achou é isso? Parou naquela despedida de solteiro?
— Você ficou louco, está com mania de perseguição?!
— Então me responde, como você foi parar ali? Porque eu sei que não foi você a contratada!
— Eu não te devo satisfação!
Me aproximei e ela recuou negando.
— Fica longe!
Aquela aproximação era perigosa, ela sabe disso, e eu não tinha domínio. Não mesmo.
— O que você pretendia?
— Nada! Eu já disse... Eu não tava atrás de você, nunca estive!
Mentirosa!!
— Eu sei que foi atrás de mim naquela maldita casa, a funcionária me disse!
— O que você quer saber? Fala de uma vez.
Minha mandíbula estava tensa, tinha tantas malditas perguntas, do passado, do agora. Do que perdi.
— Como você foi parar ali...
— Eu substitui uma amiga, não fazia ideia que você estava lá! Satisfeito?
Neguei.
— Porque disse que me olhar tanto, te fez chegar aqui? você me culpa?
— Eu não vou tocar nesse assunto, não vim aqui pra isso!
Meu sangue ferveu.
— Porque você foge? Você me culpa! Joga palavras mentirosas na minha cara e agora, não quer falar?
Ela negou furiosa, olhos negros flamejantes.
— Não… Sabe porque? porquê você me deixou lá!
ela explodiu, antes que eu pudesse responder.
O peito dela arfava, o rosto vermelho, a fúria transbordando. Bianca tinha caído. Era Clarisse ali, nua de máscaras.
— Eu não te deixei!
avancei, grave.
— Eu só fiquei longe um mês. UM mês! E você sumiu. Eu fui atrás de você!
explodi também.
— Mas a minha mãe teria acabado com qualquer chance nossa. Teria infernizando sua vida. E Seu pai, do jeito que era, iria me proibir de te ver. Eu não queria isso pra você! Não queria isso pra nós!
— Eu não quero saber!
ela gritou, recuando.
Segurei o braço dela, firme, sem machucar.
— Eu sei que você mentiu Clarisse. Que não voltou praquele maldito depois que eu fui embora.
— Você ficou louco!
ela cuspiu, mas a voz falhou.
Aproximei meu rosto, sentindo a respiração dela misturada à minha.
— Eu te conheço, Clarisse. Pode fingir o quanto quiser, pode se esconder nessa máscara de Bianca, mas eu sei…
apertei os dentes.
— Eu sei que ainda é você aqui.
A respiração dela estava irregular. O corpo, em guerra com as palavras.
E dessa vez… não teria fuga.
Ela me empurrou com força, e por um segundo pensei que fosse me afastar.
Mas não... não depois de tudo. Segurei o braço dela antes que conseguisse fugir.
Ela se debateu, tentou me arranhar, empurrar, me tirar do caminho, mas cada movimento só me deixava mais próximo, mais preso ao corpo dela.
Era uma luta, mas ao mesmo tempo era desejo.
— Para!
Murmurei entre os dentes.
— Me larga Edgar!
O choque, a raiva, o calor.
Até que ela parou de resistir e eu a senti, finalmente, ali. O corpo colado ao meu, a respiração dela se confundindo com a minha, quente, urgente.
— Você vai casar...
ela soltou, áspera, como se fosse uma acusação.
Minha voz saiu mais grave do que eu esperava, baixa, como um trovão que só ela podia ouvir.
— Pergunta isso a todos, Clarisse?
Os olhos dela brilharam de fúria, mas havia algo mais, algo que queimava junto.
— Então por quê? Por que está fazendo isso?
Fechei os olhos por um instante, sentindo o cheiro dela, o perfume que nunca saiu da minha pele. Quando abri, não fugi da verdade.
— Eu não sei.
Engoli seco, e minha voz saiu rouca.
— Mas vive isso comigo... Vive isso agora.
Ela tremeu nos meus braços, e p***a, aquilo me consumiu. A pressão do corpo dela contra o meu, o calor que parecia incendiar cada parte de mim.
Encostei a testa na dela, sentindo a respiração dela se chocar contra a minha.
— Eu tenho cada lembrança sua viva em mim. Gravada. Marcada na pele, na alma...
Ela apertou os olhos, tentando resistir, tentando levantar um muro que eu já tinha derrubado.
— Qualquer um diria isso pra ter o que quer...
Sorri torto, sem desviar os olhos dela, sem me afastar um milímetro sequer.
— Não eu.
Passei a mão por sua nuca, adentrando seus cabelos, os olhos dela se fecharam, sentindo, provando.
Sua mão se espalhando em meu quadril apertando como se pudesse resistir.
— Você ainda tem o mesmo cheiro.
Praguejei levando o rosto até a curva do seu pescoço.
— Edgar...
A voz dela saiu suplicante, implorando pra fugir, mas não dava!
Porra.. eu não vou parar.
....
CLARISSE:
Por mais que eu me debatesse contra ele, meu corpo já não obedecia mais à minha razão.
A respiração dele colada na minha, o cheiro, o calor, era tudo tão cruelmente familiar.
E aquela proposta c***l, de viver aquele momento.
Eu cedi. Não por um beijo, não por palavras, mas com o toque, com a forma como deixei que ele me apertasse contra si.
Por alguns segundos, eu quis provar de novo o gosto do que nunca foi meu de verdade.
Mas não… eu não podia me perder assim.
Eu não era aquela menina, e muito menos uma mulher disposta a se sujar tão profanamente, não com ele.
— Edy ..
Suspirei segurado sua mão, que ainda agarrava minha nunca, como se nunca tivesse deixado de ser dele.
— O que passou, passou… não tem como voltar atrás..
sussurrei, tentando criar distância, me afastando por um instante.
Ele negou na hora, firme, com aquela voz que sempre me desmontava.
— Não pode dizer isso. Isso aqui… isso que a gente está sentindo… é real.
Meus olhos queimaram, mas segurei.
— Real? Você não estava lá quando eu precisei. Agora não preciso mais. Principalmente agora… que você está noivo.
Estendi a mão, exigindo a chave. Ele apenas balançou a cabeça.
— Não vou entregar.
Respirei fundo, firme.
— Você tem uma vida agora, Edy. E soube bem seguir com ela. Então… continue.
Ele avançou, olhos em brasa.
— Você está sendo injusta. Não sabe o que eu passei todos esses anos.
Minha voz saiu cortante:
— E você sabe o que eu passei?
O silêncio dele pesou, até que veio rápido, como um golpe:
— Eu quero saber!
Suspirei, pesada, sentindo o peito esmagar.
O passado latejou em mim, e antes que eu pudesse controlar, a pergunta saiu, venenosa como erva daninha.
— A sua noiva… não é a garota que sua mãe queria, é?
Ele suspirou fundo, e o jeito que pronunciou meu nome foi resposta suficiente.
— Clarisse…
Meu coração partiu mais um pouco. Eu já tinha a resposta.
— Então… ela sempre esteve certa. A vulgar no fim fui eu e ela a sua escolhida que te esperava.
— Não faz isso, vamos conversar.
Estendi a mão outra vez, negando.
— O que a gente teve foi especial pra mim, foi tudo que eu tive… mas acabou, Edy. Eu não quero sujar a pouca memória boa que me resta de toda a minha vida.
Aproximei, enfiei a mão no bolso dele. Ele tentou segurar, mas não para me ferir, só para me reter.
Senti os dedos dele tremerem quando arranquei a chave.
E então, antes que a coragem fugisse de mim.
Eu dei tudo que minha eu do passado queria.. o resto do que ela podia ter.
O que foi arrancado de mim, mesmo que por um momento, mesmo que na ilusão que eu mesmo criei.
Eu o teria...