ROSAS BRANCAS

1038 Words
Cultivar as rosas brancas do jardim, era o meu novo passatempo, era como eu me distraia dos problemas dentro da minha casa.  Cada botão de rosa que desabrocha, é como dar vida a um sentimento. Você se dedica, apara, rega e cuida. Quando o botão se sente protegido e pronto para isso, ele se abre pra mostrar que os cuidados valeram a pena, assim é como o amor. Caso contrário, ele morre sem nem abrir, você já viu um botão morrer sem desabrochar?  Eu acreditava nisso de quê sentimentos eram como botões de rosa, era o mais próximo que eu podia chegar de entender o que eram os sentimentos humanos, apenas uma dedução.  A rosa branca se tornou a minha inspiração, apesar de não sentir, eu conseguia reproduzir o que eu entendia. Era como minha mãe dizia, o amor precisa ser cultivado. E então elas se tornaram um grande exemplo para mim.  Quando vi Megan pela primeira vez, foi como olhar um botão que precisava ser cuidado, mas eu não sentia nada por ela que fosse tão específico, só sentia que eu podia proteger ela e talvez eu conseguisse sentir algo de verdade.  Eu era neutro, mas tinha meus problemas. Eu sabia que não era comum como qualquer outra pessoa, porque minha maldade ia além de jogar água em formigueiro.  Um tempo depois voltando à minha realidade. Eu notava que estávamos passando por situações ruins por conta de minha mãe. Seus remédios eram caros e como nem eu e nem Nicolas podíamos cuidar dela, meu pai faltava muito ao trabalho.  Minhas aulas de piano estavam atrasadas e eu acreditava que poderia arrumar um emprego sem que meu pai soubesse. Era arriscado, pois ele sempre prezava por nossos estudos e repudiava jovens que trabalhassem antes da maioridade, mas a música era o que mantinha meus demônios trancafiados.  Foi quando eu consegui um emprego temporário em um açougue. Não era nada muito complicado, mas eu aprendi muito sobre pontos estratégicos e as maneiras erradas de matar um animal, maneiras que poderiam lhes causar sofrimento e morte lenta, era útil para mim, em questão de autodefesa.  O emprego me motivou muito e agora além da música, fatiar filés e arrancar vísceras era a minha nova técnica relaxante.  Eu estava um pouco mais distante das pessoas, mas parecia que isso não era problema para as garotas que acabavam de descobrir sua puberdade.  Assim que retomei minhas aulas de piano, notei como Megan estava ficando habilidosa. Seus dedos permeavam pelas teclas e o som doce que ecoava era um pouco melhor.  Lembro-me como se fosse ontem, a instrutora havia se atrasado e coincidentemente eu e Megan fomos os únicos alunos da sala.  Sentamos no chão de madeira liso e meio amarelado e fitamos os espelhos usados geralmente nas aulas de dança, que também aconteciam ali. Volta e meia eu a via me encarando através do reflexo.  ⇀O que foi? - Ela falou séria, como se olhar pra ela fosse como arrancar um pedaço.  ⇀Nada, só estou te admirando. - Sorri indefeso.  ⇀Mas, não há nada para ser admirado. - Ela corou envergonhada, eu não sabia se era por ter sido grosseira, ou se foi por conta do "elogio".  ⇀Realmente não há. - A irritei.  Ela se levantou e se sentou ao piano, começou a tocar uma linda melodia.  ⇀Essa eu não conheço. - Falei me aproximando e encostando no piano.  ⇀Não é muito famosa, eu só gosto. - Ela sorriu fraco.  ⇀Pelo menos bom gosto você tem. - Sorri de volta.  ⇀É, pelo menos isso.  Eu a admirei por longos minutos e notei que hoje era o dia da audição da nossa professora, e ela não apareceria na aula.   Eu não me lembrar fazia sentido, eu tinha tantos problemas na cabeça que era impossível manter tudo em ordem, mas ela não se lembrar, era uma surpresa.   Me sentei ao lado dela, e começamos a tocar juntos, era engraçado como tínhamos uma boa sintonia.  ⇀Sabe John, hoje não tem aula. - Ela falou em tom baixo.  ⇀E porque só me diz isso agora? - A encarei.  ⇀Porque, eu queria ficar um pouco com você. - Ela fingiu que dizer aquilo não foi nada de mais, porém seus dedos ficaram trêmulos.  Segurei sua mão acima do piano e a olhei com riso fraco.  ⇀Eu já sabia que não teria aula. - Ela sorriu ao ouvir minhas palavras.  ⇀Bom, então podemos tomar um sorvete? - Ela sugeriu.  ⇀Podemos.  Respondi calmamente enquanto recolhia as pautas e as guardava em uma pasta própria.  Caminhamos para a sorveteria e eu não sabia disso na época, mas dali em diante, essa seria uma das coisas que sempre faríamos juntos.  ↬ Algum tempo depois ...  Minha mãe piorou, o que me fez perder os horários das aulas de piano, agora eu passava boa parte dos meus dias em casa, assim que saia do trabalho, ia direto para casa. Meu pai voltou a trabalhar e Nicolas começou a frequentar as aulas em meu lugar, afinal de contas, eu não ia ficar pagando atoa.  Um dia, cheguei em casa e vi que meu pai havia chegado mais cedo, mas como Nicolas já havia saído para a aula de piano, eu resolvi dar uma volta para descontrair.  Ao passar pelo centro da cidade, notei que Megan estava parada em frente a uma vitrine, admirando uma pulseira de rosinhas brancas, e anteriormente me lembrei de já tê-la visto ali outras vezes.  Sorri forte e me aproximei, mas ela saiu antes que eu pudesse chegar até ela, então resolvi gastar um pouco de minhas economias com um presente para ela.  Entrei na loja e comprei a pulseira, não sentia que deveria existir um momento certo para entregar, então fui atrás dela, e o primeiro lugar no qual pensei foi na sorveteria.  Corri até lá, era a primeira vez que eu havia comprado algo para alguém, então aquilo me deixou com uma estranha sensação de ansiedade.  Assim que olhei, vi que ela estava com Nicolas. E que eles tomavam sorvete no mesmo lugar que eu e ela, e que Nick segurava sua mão com um grande sorriso.  Não tenho como descrever a sensação que envolvia meu ser. Algo como desapontamento e ciúmes, achei melhor voltar para casa. 
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