— CONTA TUDO. — É assim que as duas garotas se comportam quando eu chego próximo a mesa de bolo para abraçar Marcos.
— Shiu, o dia é do nosso amigo hoje, mais tarde a gente conversa sobre isso — resmungo e caminho até Marcos que tem um sorriso radiante em seus lábios. Sinal de que ele adorou a festa. — Parabéns, meu amor.
Abraço seu corpo e ele envolve seus braços em minha cintura tirando-me do chão.
— Obrigada pela festa, cachinhos. Você e as meninas arrasaram com tudo.
Ele me solta aos poucos e ao olhar para trás de suas costas, vejo os dois amigos de Marcos a nos encarar. Desvio o olhar do de Adrien, que captura o meu rápido como se estivesse me procurando. Eles se aproximam no mesmo instante que Isabel e Marjorie grudam atrás de mim.
— Eu quero bolo. — Me viro e faço um bico para a ruiva e a morena que estão na minha frente. Talvez seja apenas uma desculpa para não ter que encarar o loiro novamente, não por agora.
Elas puxam meu braço e me levam até o bolo, tiro um pedaço e coloco sobre um pratinho e pego um garfo. O álcool ainda está presente em minhas veias, mas não o suficiente para eu fazer besteira, e sim para me fazer sentir fome.
— Então, ele beija bem? Porque pelo o que eu vi, minha irmã, ele beija bem pra c4r4lho, vocês quase se comeram na pista de dança, adorei — Isabel diz animada dando pulinhos, enquanto coloca uma garfada de bolo na boca.
Finjo não ouvir nada que sai de sua boca, tampouco as gracinhas que minha gêmea joga para cima de mim. Eu estou cansada e quero ir para casa, já está quase amanhecendo e eu ainda vou para o hospital depois de me recompor da festa.
Converso com as meninas e aviso que quero ir pra casa, Marjorie reclama, mas quando cito nossa mãe, ela acaba me entendendo e concorda em irmos embora, me dando apenas a condição de ir até Marcos e seus amigos para me despedir deles. Ela sabe que eu não quero encarar Adrien novamente e fez isso de propósito.
Que vaca!
— Ei, Marcos. A festa estava maravilhosa. — Mar me interrompe dizendo que era graças a ela e eu dou risada, me voltando para os três homens à frente. — Mas eu já vou indo, tudo bem para você?
— Sim, meu bem. Adorei o esforço de vocês pela festa, vocês são as melhores. — Ele beija meu rosto e os das meninas. — Vocês ainda tem que ir ao hospital, então é bom descansar — diz, se referindo a mim e minha irmã.
— Hospital? — Carlos e Adrien perguntam juntos em confusão e Marjorie concorda, não fazendo nada mais que um simples manear de cabeça.
Como já havia me despedido de Marcos, vou até Adrien e me despeço abraçando seu corpo e ele não perde a oportunidade para apertar minha cintura para me provocar. Me afasto tocando em seus ombros e encaro bem seus olhos azuis, indo em seguida até Carlos.
— Foi um prazer lhe conhecer, Carlos.
Abraço-o também e ele retribui.
— O prazer foi todo meu, adorei a dança e foi uma pena não termos aproveitado mais — sussurra contra meu ouvido e eu respiro fundo. Me afasto do seu corpo e lhe ofereço um sorriso.
Os amigos de Marcos são extremamente provocadores. E não sei se ainda é o álcool agindo, mas a vontade de conhecer os lábios de Carlos está presente, minha sorte é o empurrão no meu corpo dado por minha irmã, que me fez voltar a terra.
Nos despedimos novamente com um "tchau" e juntas, nós três seguimos para fora da festa para podermos ir para casa de Pilar. Minha cabeça lateja e provavelmente acordarei com ressaca pelo álcool ingerido por mim.
Antes que possamos chamar um táxi por conta do horário, a voz de Carlos se faz presente atrás de nossos corpos.
— Que susto! Não chega assim, garoto. — Isabel coloca a mão no coração, virando-se para o homem com tatuagens.
— Perdão, garotas. Marcos disse que estão sem carona, se quiserem levo vocês até o local que estão indo.
Tão gentil que me faz querer sentar no colo dele.
Balanço minha cabeça tentando afastar tais pensamentos, o álcool chega para acabar com qualquer santidade que a pessoa tem. Antes que eu pudesse negar sua gentileza, Isabel aceita e eu apenas mostro um fraco sorriso, tentando mostrar que estou bem pela carona, apesar de eu não querer lhe incomodar para apenas nos levar, sendo que poderíamos pedir um táxi facilmente.
A festa realmente foi excelente. Fez com que eu perdesse meu ponto de boa garota, para dar lugar a uma Maitê que quase ninguém conhece, mas Adrien conheceu. Não sei se já havia o visto, mas a sensação que tive quando ele apareceu em minha frente foi que ele não era desconhecido por mim e que seu rosto não me era estranho.
Carlos dirige calmamente pela estrada, talvez por ter ingerido álcool, o que não era nada recomendado enquanto estava dirigindo. Não era uma boa combinação. Minha cabeça encosta no vidro do carro, enquanto tudo que aconteceu na festa vai se passando por minha mente; desde a minha chegada até o meu beijo com o homem loiro e tatuado. Sequer percebo quando adormeço.
[...]
— Ma… — Sinto alguém balançar meu corpo, enquanto sussurra baixinho. Solto um resmungo, sem abrir os olhos. — Maitê, já chegamos.
Chegamos onde? Não me lembro de ter que ir a algum lugar. Afasto sua mão do meu corpo, tentando voltar a dormir de forma inconsciente.
— Maitê, porr4, acorda! — Alguém segura meus braços, sacudindo-me e obrigando-me a abrir os olhos contra minha vontade.
Faço uma careta quando enquadrilho o rosto de Marjorie. Ao seu lado, Isabel me olha como quem pede desculpas e com um sorriso amarelo desenhando seus lábios.
— Onde estamos? — pergunto, arrumando minha postura e passando as mãos pelos olhos. Uma dor de cabeça insuportavelmente forte me atinge. — Tá tudo doendo.
Minha voz sai falhada e baixa, m*l escuto a mim mesma.
— Estamos no carro ainda, chegamos no hospital — explica Isabel.
— Carro? — Há confusão em meu tom de voz, enquanto corro o olhar pelo ambiente. Como eu vim parar aqui?
— Chega, vamos — é Mar quem perde a paciência, segurando minha mão ao me puxar para fora do carro. — Obrigada pela carona, Carlos, nos viramos a partir daqui.
O frio nos beija com uma forte ventania e eu me encolho, tocando meus braços para me aquecer.
— Imagina, qualquer coisa é só ligar.
Isabel fecha a porta e o carro dá partida para longe daqui. Caminhamos em direção ao hospital e durante nosso trajeto as cenas da noite correm por minha mente. A organização, o momento em que nos arrumando, o início da festa, a dança, o bar, o beijo, a desp… o beijo?
— Eu beijei um estranho — murmuro, assustada. — Isabel, eu beijei um completo estanho. Você não podia ter me deixado fazer isso!
— Ah, você tá recobrando a sanidade. — Ela solta uma risada breve nasalada. — Te ajuda a se sentir melhor se eu te disser que pelo menos te impedi de sentar em um segundo desconhecido? — Arregalo os olhos. Que merda eu fiz? — Pelo visto, não. Desculpa, não tá mais aqui quem falou.
É como já dizia o ditado popular: o álcool antes de derrubar, ele te humilha.
Não tenho tempo de racionalizar como seguirei com minha imagem suja daqui em diante, porque chegamos ao quarto de Pilar. De repente, envergonho-me por estar aqui com tamanha falta de roupa, principalmente na presença de meu pai. Quando ele me vê, sinto minhas bochechas esquentarem e ignoro-o, aproximando-me da ruiva de cabeça baixa.
Sento-me na cadeira ao seu lado, pegando em sua mão sobre a cama. Sua pele está gélida e pálida, há marcas arroxeadas abaixo de seus olhos e seus lábios estão bastante ressecados.
— Como você está?
— Não muito diferente do que você está vendo — responde com a voz falha e com um sorriso fraco nos lábios. Ela começa a tossir e isso parte meu coração, olho-a com preocupação, prontificando-me a ajuda-la, mas ela ergue a mão para me impedir. — Tudo bem. Como foi a festa? Se divertiu bastante?
Na minha garganta, forma-se um nó, e preciso lembrar-me de que eu não tenho o direito de chorar quando quem está passando pelo pior continua sorrindo — por menor que seja esse sorriso. Então o engulo com dificuldade, mas quando vou abrir a boca para lhe responder, papai se pronuncia:
— Filha, desculpa atrapalhar vocês, mas podemos conversar?
Olho em sua direção e apenas assinto, deixando a mão de Pilar sobre seu colo e levantando-me do assento.
— Eu já volto — aviso e levo o olhar para Marjorie e Isabel logo em seguida. — Vocês podem ficar com ela por enquanto?
Elas assentem e vejo minha irmã caminhar em minha direção, trocando de lugar comigo. Papai já está na porta, segurando na maçaneta da mesma, então sigo até ele, ultrapassando-o para ficar no corredor.
— E então?
— Sua mãe tem tentado falar com você, Maitê — é tudo o que diz quando fecha a porta atrás de si e se encosta na parede.
Arqueio uma de minhas sobrancelhas.
— Você me chamou aqui para conversarmos sobre a mamãe? — Nenhuma resposta, apenas seu silêncio e seus olhos fixos em mim com um semblante sério por longos minutos. Dou-me por vencida após um suspiro. — Eu conversei com ela alguns dias atrás, mas ela só sabe comentar sobre como está feliz por eu estar dando continuidade a empresa; não posso continuar mentindo para ela.
— Então não minta, não é justo com você, muito menos com ela. De início pode ser difícil, mas eu a conheço tempo o suficiente para dizer que no fim ela vai acabar entendendo. Apenas conte a verdade e lhe dê um tempo, ok?
— Tudo bem, vou ligar para ela amanhã, eu prometo. — Ergo o dedo mindinho e ele entrelaça-o. — Agora eu posso voltar?
— Ainda não, você tinha razão, eu não te chamei aqui para isso. Te chamei para te contar que eu fiz o teste de compatibilidade.
O quê?