Capítulo 17

1884 Words
SEGUIMOS PARA FORA da sala e me pergunto mentalmente se eu fiz algo que fez a loira me odiar, e como se lesse mentes, Alex se pronuncia: — Não se preocupe, ela é assim sempre. Lhe mostro um meio sorriso e continuamos juntos, caminhando até chegar no local em que eu estava anteriormente, quando ele e Romênia apareceram em minha frente. — Obrigada, você foi muito gentil comigo. O nervosismo que eu tinha até sumiu do meu imo. — Ergo meu olhar para seu rosto e estendo minha mão para ele. — Você foi incrível com as crianças, Maitê. Aposto que elas te amaram, e não precisa agradecer. — Ele segura em minha mão em forma de cumprimento. — Logo haverá retorno, por e-mail ou ligação. Espero que consiga e boa sorte. — Obrigada. "E vou precisar, de bastante sorte para aguentar a loira e a Romênia", penso em falar mas apenas abro um sorriso e me despeço de Alex. Seria bom ser contratada, e torço para que isso ocorra. Em minha mente vem a intenção de ligar para minha mãe, mas Agnes surtaria ao saber que sua filha poderia vir a ser professora ajudante em uma escola, mesmo que a escola seja privada. Não mudaria muita coisa e ela sentiria mais desgosto ainda, pelo menos, agora com ela achando que faço administração, um pouco de orgulho ela sente da filha. Por mais que seja mentira e quando ela souber disso, sei nem o que pode acontecer comigo. Mas nada que me machuque, estou acostumada. Pego meu celular que estava em modo avião para que ninguém me interrompesse durante a entrevista e desligo o modo religando os dados. Vibrações de mensagens caem e vejo que são do grupo meu, de Isabel e Marcus, de Mia, do meu pai e de Marjorie. O último nome me faz ficar confusa, porquê ela iria querer me mandar mensagem?  Toco na conversa e leio a mensagem escrita. "Boa sorte na entrevista, quem sabe você encontra um amor perfeito e some das nossas vidas. :)" [13h 54mn] "Brincadeiras a parte, você sabe que eu te odeio. Estou no hospital, mamãe não para de falar de você." [ 13h 55mn ] Envia um emoji de vômito, como estivesse com nojo das palavras ditas por Pilar. Essa menina me ama e continua a negar de pé junto.   "Quando sair venha para o hospital, seu pai é insuportável, não aguento ele sozinha, preciso infelizmente de você." [ 14h 13mn] No final da mensagem há um emoji revirando os olhos e acabo rindo sozinha. Dígito algumas palavras e respondo-a em uma única mensagem. "Seu amor incubado por mim está querendo sair do armário. Estou chegando daqui quinze minutos, sobreviva enquanto isso. :')" [ 15h 12mn] Toco na tela enviar e saio do w******p, mas antes que eu pudesse bloquear o celular, Mia me liga. Acho que notou que eu estava online e não respondi suas mensagens. Garota ansiosa. — Oi, amiga. — Atendo a vídeo chamada. Do outro lado há uma Mia de pijama e com o rosto amassado. Alguém acabou de acordar. — Eiii, como foi a entrevista? — Foi legal, tirando o fato de uma professora loira ter me tratado com nojo, foi muito bom. Adorei as crianças e elas também me adoraram, pelo visto. Digo animada e abro o portão do colégio, passando para o lado externo. Olho para os lados e logo vejo um táxi vindo, dou a mão na esperança que ele pare. — Credo. Sua irmã, uma professora... — Ela diz pensativa. — O povo brasileiro normalmente é assim? — Não, amiga. Eles são educados, alguns somente fogem desta lista — dou de ombros e abro a porta do passageiro entrando no táxi quando ele para. — Boa tarde. Cumprimento-o e lhe falo o endereço. — Garota, aí já é tarde? Incrível, eu acabei de acordar e você praticamente já viveu seu dia todo. — Não é. Muito bom — rio da sua forma de dizer. — Mais tarde a gente se fala, preciso me organizar pra faculdade, beijos, te amo. — Também te amo, tô com saudades. — Faço bico. — Ah, me lembre de te falar algo depois, antes que eu esqueça. — Tá bom, vou me despedir aqui completamente curiosa. Odeio você! — Que bipolaridade é essa, menina? — Tchau, Maitê. — Tchau, amor. — Me despeço e para zombar dela, lhe mando um beijo no ar. Desligo a vídeo chamada e bloqueio a tela do celular guardando-o na bolsa. Irei responder as outras mensagens mais tarde, quando eu estiver no hospital. Mantenho a pasta em meu colo e deito minha cabeça sobre o vidro do carro enquanto o motorista dirige até meu destino final. [...] — Pra alegria de todos, até da Marjorie, EU CHEGUEI!!! — Abro a porta do quarto e vejo Pilar em sua sessão de quimioterapia, Marjorie sentada em sua cama com uma feição nada agradável e meu pai, sentado em uma cadeira próximo a porta. — Oi, filha. Como foi? — Meu pai, é o primeiro a falar. — Foi tudo tranquilo, pai, não se preocupe. — Lhe mostro um fraco sorriso e me aproximo de Pilar, mas antes, passo álcool que estava disponilizado no quarto em minhas mãos. Pilar está muito fraca por conta das medicações, e quaisquer prevenção para bactérias é bom. — Oi, como a senhora tá se sentindo? Deposito um beijo sobre sua pele na testa e seguro em sua mão que não há agulha. Hoje, a medicação tá sendo na mão esquerda, por conta dos furos anteriores, eles estão intercalando. — Estou bem... — tosse. — filha. — Mentira, mãe. Ela não tá conseguindo comer e tem vomitado tudo que coloca na boca, inclusive água — Marjorie diz. — Ela tá péssima, Maitê, e a culpa é sua. Reviro os olhos e tento me manter calma, mas meu sangue tava quente por conta da rotina e acabo por explodir. — Sim, a culpa é minha. Mas eu tô aliviada, sabia? Porque eu, pelo menos estou lutando por ela, e eu sequer convivi muito tempo com Pilar, enquanto a filha s*******o que passou os dezenove anos com a mãe, desistiu sem tentar. — Extravaso. Eu não aguento mais Marjorie sempre jogando na minha cara na primeira oportunidade sobre a culpa de nossa mãe está passando por tudo isso, ser minha.  Eu sei que a culpa é minha, e isso me dói a cada dia que passa quando a vejo mais fraca a cada sessão. Ela não precisa jogar sempre na minha cara, como se o hobbies dela fosse fazer isso. — Eu respeitei a decisão dela, isso é muito diferente. — Não, você desistiu. E ao contrário de você, irmã, eu não vou desistir. — Você é estúpida, garota, não tá pensando na nossa mãe, está pensando somente no próprio umbigo. — A única estúpida que eu tô vendo aqui, é você. — Chega, meninas. Pilar precisa de sossego e vocês não estão dando isso a ela. — Nosso pai se levanta de onde estava e caminha em nossa direção. — Maitê, vamos lá fora, precisamos conversar.  Respiro fundo e me afasto concordando. Não notei enquanto estava com o sangue quente com as palavras de Marjorie, mas, essa nossa discussão não faz nada bem a Pilar. E eu não preciso de mais algo para a ruiva jogar na minha cara. Acompanho meu pai para fora da sala e quando ele senta na fileira onde haviam algumas cadeiras eu já me preparo para a bronca. — Pai, olha, sei que eu fui infantil lá dentro, mas aquela garota me irrita. Ela faltou dizer que eu estou matando Pilar mais rápido que a doença. — Me sento ao seu lado e deito minha cabeça sobre seu ombro. Estou tão exausta com minha rotina, que imagino como esteja sendo para Otávio. — Não é sobre isso, filha. Precisamos conversar sobre o exame de compatibilidade. — Porque? — Pilar não quer que eu faça. — Como assim? Como ela soube que o senhor tá pensando em fazer? — desencosto minha cabeça de seu ombro e o encaro confusa.  Ela não deveria saber, ao menos que ele tenha contado. — Ela não soube, filha. Mas ela me pediu. Que se eu estivesse pensando em fazer exame de compatibilidade, ela não irá querer que eu faça, pois está cansada de ter esperanças e ela ser arrancada dela — ele diz com um olhar triste. A culpa é minha. — A culpa é minha, pai. A culpa é toda minha dela tá se sentindo assim. — Meus olhos ardem e encaro minha mão, mexendo em meus dedos. — Ei, como assim, querida? Ele segura em meu queixo, fazendo-me encarar seu rosto. Uma lágrima grossa escorre e as outras lhe acompanham segundos depois. — Marjorie havia feito o exame de compatibilidade e deu negativo, e quando eu descobri sobre ela ter desistido de lutar, de viver, eu lhe convenci a deixar eu fazer o exame, pra ver se eu era capaz — respiro e passo minha mão direita sobre minha bochecha, limpando. — Ela ficou esperançosa, mas... Travo, e meu pai me abraça. — Mas você não era compatível e acabou tirando a esperança dela. Eu entendo, filha, eu entendo. Choro abraçada ao meu pai. — Eu não queria...E-Eu torci pra ser compatível — soluço e me afasto do abraço quente de Otávio. — Eu não quero perder ela, papai. — Nem eu, querida. Ele limpa minhas lágrimas e segura em minhas mãos fazendo um leve carinho nelas, me trazendo conforto. Por mais que eu tenha ficado muito chateada com meu pai, ele é a pessoa que mais me entende, que me ajuda e que se orgulha da filha que tem. Mesmo ela não cursando administração. — Como faremos pra ela não descobrir sobre sua vontade de realizar o exame? — Irei dar um tempo a ela, querida. Esperar mais algumas sessões de quimioterapia e em breve eu farei o exame, e ela não desconfiará de nada. Vamos fingir que deixamos a idéia de compatibilidade pra lá, ok? — Ok. — Me levanto e ele faz o mesmo. Limpo minhas lágrimas para poder voltar para o quarto. — Pai, vai pra casa e toma um banho, descansa. Se alimente melhor lá, sei que as comidas do hospital são horríveis, e já tem dois dias que tá dormindo no hospital, precisa de um descanso.  — Mas você e a Marjorie... — Tá tudo bem, a gente briga mas sempre se resolve. Iremos ficar com ela até o senhor voltar — digo e abraço seu corpo novamente. — Obrigada por tudo isso que tá fazendo pela gente. Eu te amo. — Vocês são minha família, seu eu pudesse voltar para o dia que te liguei, faria tudo novamente. Eu também te amo, querida. E você e Marjorie, não se matem na frente da mãe de vocês. — Ele diz a última frase em tom de brincadeira. — Pode deixar. Lhe entrego a chave do apartamento e vejo-o sair. Fico ali parada tentando me recompor para poder voltar ao quarto sem resquícios de choro. Não queria que Pilar notasse que perguntasse o motivo, já estou mentindo demais pra ela. Mentindo não, omitindo. Saiba que é pro seu bem, mãe. Sempre vai ser pro seu bem.
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