RENAN/BRUTOS
A semana passou no vapo.
Muito corre, muita cobrança, muito vacilão achando que pode dar mole no morro e sair de boa.
Mas no meio de tanto caos, tanta treta, um bagulho não saiu da minha mente…
Ela.
A mina da laje.
Cê acredita, mermão? Uma dança. Uma risada. Um olhar.
Essa mina me bugou de um jeito que nem o pó que eu cheirei sábado fez.
Ficava lembrando daquele jeitão dela…
Solta. Provocante. Sem medo de ser feliz.
E o olhar? Atrevido pra p***a. Me encarou e virou de costas, como se dissesse:
“Tu olha, mas não toca.”
Fiquei bolado comigo mesmo por não ter ido atrás.
Quem era? De onde veio? Por que brotou no meu morro sem passar pelo meu radar?
Mas segurei. Papo reto… deixei quieto.
Por enquanto.
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Sexta-feira brotou com sol rachando.
Cheguei cedo em casa, já amassado do corre. Tava achando que ia descansar, mas minha coroa tava animadona, tagarelando na cozinha.
Achei estranho. Quando tô virado, ela geralmente respeita e me dá paz.
— Filho, tu vai tá aqui no domingão, né?
— Domingo? Que que tem?
— O Joaquim vai almoçar com a gente. Disse que quer te conhecer melhor.
— Ah…
Revirei os olhos na cara dura.
— Pô, mãe... domingo é meu único dia de descanso, tá ligado?
— Ele tá tentando, filho… Cê podia tentar também.
— Tá. Eu vou ver se consigo brotar.
Pura caô. Já sabia que não ia aparecer.
Tava zero na vibe de trocar ideia com namorado da minha mãe. Ainda mais coroa pagodeiro que parece mais tio da feira.
Mas também não queria magoar minha véia. Ela merece sossego. E o tal do Joaquim, até agora, não tinha dado mole.
Formou.
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Sabadão... esquece.
O baile tava sinistro.
Chão batido, paredão estourando, mina descendo até o chão, luz piscando mais que a mente de quem cheirou demais.
Eu tava no camarote do chefe, com o copo na mão, a pistola na cintura e duas gatas se esfregando em mim como se tivesse prêmio no final. E tem né, leitinho pra elas.
Uma loira com peito de silicone e b***a de acrílico, e uma morena de cabelo liso e olhar de “te destruo no sigilo”.
Bebi tudo. Fumei, cheirei. Esqueci do mundo.
A madrugada virou um borrão de coxa, peito, beijo quente e gemido abafado.
Dormi num barraco aleatório, jogado num colchão torto, com uma mina de cada lado e o corpo pedindo arrego.
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Acordei no domingo com o dia clareando, fui pra casa e só acordei passando do meio-dia, boca seca, cabeça embaralhada, corpo moído.
Meu quarto fedendo a maconha e perfume barato das p**a de ontem que peguei no barraco.
Levantei só de bermuda, sem camisa, e fui direto pra cozinha buscar uma água. Mas aí...
Ouvi vozes na sala.
Na moral, achei que fosse a TV. Mas não…
Era gente mesmo.
Fui no sapatinho, ainda com o zumbido do som no ouvido…
Quando virei o corredor…
Pá.
Era ela.
A p***a da mina da laje.
Sentada no sofá da minha casa.
De vestido florido, curtinho, alça fina no ombro, cabelão molhado, cruzando a perna de um jeito que fazia o tecido subir só o suficiente pra enlouquecer qualquer homem.
O coração bateu torto.
O tempo travou.
Fiquei estático.
Ela me viu. Os olhos dela arregalaram por um segundo, mas logo disfarçou.
— Oi… bom dia. Quer dizer… boa tarde — disse ela, tentando não rir da minha cara de sono.
— E aí… — respondi seco, coçando a nuca, tentando entender a p***a do que tava acontecendo.
A deusa do baile, a que me tirou o juízo, agora tava ali…
Na minha sala.
Segurando um copo de refrigerante da minha mãe. Comendo biscoito de polvilho.
Fiquei sem chão.
— Betina, esse é meu filho, Renan — apareceu minha mãe toda feliz, com o pano de prato no ombro.
— Oi, prazer — disse ela, sorrindo.
— Prazer...
Betina.
O nome dela era Betina.
Quase ri. Ou chorei. Nem sei.
Juntei as peças rápido. Joaquim, o namorado da coroa, tinha uma filha. Ele tinha falado, sim. Eu que não dei moral. Achei que fosse alguma novinha mimada. Pirralha que ia viver enchendo o saco na casa da minha véia.
Mas não...
Era ela.
A mulher que dançava na laje como se tivesse comandando o baile.
A que me travou com o olhar e rebolou como se fosse um recado.
Agora tava ali, de perna cruzada e sorriso calmo, como se nada tivesse acontecido.
Filha do namorado da minha mãe.
Mano… Deus tava de s*******m comigo.
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— Vou terminar o almoço — disse minha véia, saindo da sala.
Ficamos nós dois ali.
Silêncio brabo.
Tensão no ar dava pra cortar com faca cega.
Ela deu aquele sorrisinho leve, tipo quem sabe o poder que tem. Olhou de canto, se fazendo de sonsa, mas toda trabalhada no veneno.
— A gente se viu esses dias, né? — ela soltou, com a voz calma.
— É… tu tava dançando na laje.
— E você ficou me secando.
— Tu tava parecendo que era dona do morro.
Ela riu. Um riso gostoso, solto, que dava vontade de puxar pra perto e calar com beijo.
— E você tem cara de dono mesmo.
— Quase isso.
Ficamos assim. Naquele jogo mudo de quem diz tudo com o olho.
Ela não tava ali como "enteada".
Tava como mina que sabia o estrago que causava.
E eu? Eu sou o Brutos, c*****o. Não dou mole. Mas por dentro… o bagulho já tava me consumindo.
— Vou tomar um banho — falei, dando as costas. — Depois a gente troca ideia.
Ela assentiu com a cabeça. Mas o olhar dela me seguiu. Queimou minhas costas.
Passei na cozinha cumprimentei o pai dela e peguei água.
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Entrei no quarto e fechei a porta.
Me olhei no espelho.
Olho vermelho, barba por fazer, corpo suado, o cheiro da noite passada grudado na pele.
— p**a que pariu...
Falei baixinho.
Tomei o copão de água e encostei na parede, tentando respirar.
Ela é novinha. De perto parece mais moleca que mulher.
De longe, juro que tinha mais idade. Mais postura. Mais maturidade.
Mas agora ali, na minha sala, com vestidinho de florzinha e cara de anjo travesso…
Parecia que a vida tava me trolando.
A filha do namorado da minha mãe.
Na mesma casa que eu.
O bagulho ficou sério, mermão.
Isso não vai dar certo. Não pode dar certo.
Mas cê quer saber?
O corpo não quer saber de certo.
Ele só quer sentir.
E se eu não me cuidar…
Vai dar r**m.
Papo reto.
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