RENAN/BRUTOS
Saí do banho com o corpo mais leve, mas a mente… pesada pra c*****o.
Joguei água no corpo achando que ia apagar o fogo, mas foi ilusão.
A imagem dela não desgrudava. A p***a da Betina parecia tatuada por dentro da minha cabeça.
Cada movimento que ela fez na sala — o jeito que cruzou as pernas, o vestido colado, o cabelo molhado escorrendo no ombro — virou replay infinito dentro de mim.
Me vesti no automático: bermuda de tactel, camisa branca de usar em casa, chinelo de dedo.
Passei a mão na cara, respirei fundo e olhei no espelho antes de sair.
“Controle, Renan. Tu é o Brutos. Tu não dá mole.”
Mas quando abri a porta e voltei pra sala...
Vi ela de novo.
Sentada à mesa com minha mãe e o Joaquim, conversando baixo, sorrindo, batendo o garfo no prato como se fosse só mais um domingo qualquer.
Pra mim, era guerra.
Cada detalhe era arma.
O riso leve. O batom quase apagado. A alça do vestido caindo devagar no ombro fino.
A pele clara contra o tecido florido.
Sentei na cadeira de frente pra ela. O prato já montado na minha frente, arroz, feijão, carne assada, batata cozida com salsinha por cima.
— Come aí antes que esfrie — disse minha mãe, sorrindo.
— Valeu, coroa — murmurei, pegando o garfo.
A comida tava cheirosa, mas não descia.
Meu estômago só sabia virar quando eu sentia o perfume suave dela flutuar no ar.
Uma mistura de sabonete barato e shampoo de morango. Simples, mas me deixava tonto.
— Tava contando pro Joaquim que tu começou no pet shop essa semana, né, Betina? — minha mãe puxou papo.
Ela assentiu, limpando a boca com o guardanapo.
— É, comecei segunda. Tô quebrada, mas tô gostando. O pessoal lá é de boa.
— E tão te pagando direitinho? — minha mãe perguntou, preocupada.
— Sim… por enquanto tão certinho.
— Qual foi a função que te botaram? — perguntei, só pra ouvir ela falar de novo.
Ela levantou os olhos e respondeu:
— Mais parte da limpeza mesmo. Cuido da parte de trás, lavo gaiola, varro, passo pano… essas coisas.
Imaginei ela ajoelhada lavando gaiola, o cabelo preso num coque, com o uniforme colado no corpo, suando no calor do cômodo apertado…
Quase engasguei com a carne.
— Pesado — falei, limpando a garganta. — Mas é digno. E pelo menos cê não depende de ninguém.
— Essa é a ideia — respondeu, com aquele tom firme, quase desafiador.
Olhei pra ela mais tempo do que devia.
Aquele tipo de olhar que rasga, que despede a pessoa sem encostar.
Ela sentiu. Sei que sentiu.
Mas, de novo, desviou o olhar. Como se quisesse evitar.
Só que ali, irmão, já era tarde.
Tava virando obsessão.
Eu queria saber tudo. O que ela ouvia no fone, o que ela lia, o que ela escrevia no caderno da escola.
Queria ver como ela andava quando não tinha ninguém olhando.
Se tinha manias.
Se deixava a toalha jogada na cama.
Queria ver ela de pijama, de calcinha, de cara amassada de manhã.
O problema nem era mais só o desejo.
Era sede. Era fascínio.
Minha mãe riu de alguma piada do Joaquim. Tentei puxar o foco, mas era difícil.
— E aí, Renan — ele disse, levantando o copo de suco — tua mãe disse que tu é o homem da casa. A gente vê mesmo, viu? Cê segura tudo aí.
— Faço o que tem que fazer — respondi, encarando o copo.
— Tem cara de quem mete respeito — falou Betina, do nada.
Minha mão congelou no garfo. Olhei pra ela.
— Isso é elogio ou crítica?
Ela deu um sorriso de canto. Malandro. Daquele que atiça.
— Sei lá. Observação.
— Observação perigosa — soltei, direto.
Ela mordeu o canto do lábio.
Foi só um segundo. Mas foi o bastante.
Joaquim nem percebeu nada. Tava lá limpando o bigode com o guardanapo.
— A gente ainda vai organizar tudo certinho lá em casa — ele disse — mas qualquer dia desses eu trago umas coisas pra cá, viu, Maria? Não tô mais aguentando esse sobe e desce todo dia. E Betina trabalhando aqui perto agora…
Aí a ideia me atravessou como flecha.
Ela. Perto. Todo dia. Na mesma casa. Dividindo o mesmo teto.
Não consegui segurar.
— Já pensou em morar aqui direto?
Todos olharam pra mim.
— Como é? — perguntou minha mãe, surpresa.
— É isso mesmo. Traz as parada, fica logo. A casa é grande, cês dois tão sempre por aqui, não tem mais porquê ficar de vai e vem.
Joaquim coçou a cabeça, surpreso com a ideia.
— Ué… sei lá, né? A gente nunca conversou sério sobre isso.
— Pois é, tá na hora. Tu já tá na pista com a véia, a filha já tá trampando no morro. Só falta juntar as parada. Se é pra ter família, que tenha logo de vez.
Minha mãe me olhou com os olhos meio brilhando.
— Filho… você tá falando sério?
Assenti, firme.
— Tô. Quero ver tu feliz, mãe. Cê merece.
Mentira.
Mentira do c*****o.
Não era por ela. Era por mim. Era pra ter a Betina perto.
Queria ela perto.
Queria ouvir a risada dela vindo do banheiro.
Queria saber que ela ia tá ali quando eu chegasse do corre.
Queria acordar e ver ela andando pela casa, descalça, de cabelo bagunçado.
Queria ela como parte do meu mundo. Nem que fosse no erro.
— A gente pode conversar com calma — disse Joaquim, meio sem graça. — Ver como organizar as coisas.
— Claro — falei, largando o garfo. — Foi só uma ideia.
Levantei da mesa, dei um beijo rápido na testa da minha mãe, fui pegar outra breja na geladeira.
Mas antes de sair da cozinha, olhei pra Betina.
Ela tava me olhando.
Olhar reto.
Sem sorriso. Sem expressão.
Mas também… sem desviar.
Foi como se dissesse:
“Tu quer brincar, Brutos? Então desce.”
E eu?
Tô pronto.
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