BETINA O dia da doação chegou rápido, e eu tava nervosa pra caramba. Acordei cedo, o hospital ainda meio vazio, o cheiro de desinfetante me deixando tonta. A dona Maria tava comigo, segurando minha mão, rezando baixo, enquanto meu pai ficou com o Ben na UTI pediátrica, falando com ele, contando histórias pra manter ele calmo. Eu vesti a roupa esterilizada, aquele avental verde que parecia de filme, e deitei na maca, o coração batendo tão forte que parecia que ia sair pela boca. A médica, uma mulher de cabelo curto e voz calma, explicou tudo de novo: iam tirar a medula do meu osso do quadril, com uma agulha, sob anestesia local. — Vai doer um pouco, Betina, mas tu é forte, e o Ben precisa de ti. — ela disse, e eu assenti, engolindo o medo. Quando a agulha entrou, senti uma pressão, uma

