Acordei com o som estridente do despertador gritando nos meus ouvidos. Eram exatamente 5h10 da manhã. Nem precisei de muito para despertar — a ansiedade já me mantinha alerta antes mesmo do primeiro toque.
— Bom dia, minha filha! Só passei aqui para te desejar boa sorte no seu primeiro dia de faculdade. Tenho certeza que você vai arrasar! — disse a minha mãe, parada entre a porta e a parede do meu quarto, com um sorriso cansado.
— Bom dia! Obrigada. — Me espreguicei e me sentei na cama. — Chegou agora do trabalho?
— Sim! Vou tomar um banho e me deitar. Ah, o café já tá pronto na mesa. Não demora muito, viu?
Assenti com a cabeça e a vi desaparecer no corredor.
Lucas passaria aqui às 6h30 para me levar até a faculdade antes de seguir para o escritório do pai dele.
Levantei e fui direto para o banho. Um rápido. Contava os minutos para finalmente pisar no campus e mergulhar nos livros.
Vesti uma roupa discreta, nada chamativo. Não queria atrair atenção logo no primeiro dia. Na semana passada, fui ao salão e, em um surto de coragem, cortei o cabelo num chanel. Antes ele quase batia na cintura, agora m*l tocava o pescoço.
Com as coisas prontas, desci até a cozinha. Tomei o café que a minha mãe deixou e peguei o celular para checar as mensagens. Uma do Leo, com um simples “Boa sorte”. E outra do Lucas, de dez minutos atrás:
“Quando estiver pronta, me avisa.”
Respondi:
“Estou tomando café, mas se quiser, já pode vir.”
Enquanto escovava os dentes no banheiro de visitas, não conseguia evitar um sorriso no rosto. Uma nova fase da minha vida estava prestes a começar. Cinco anos dedicados ao que eu mais amava. Não seria fácil, mas estava pronta para o desafio.
O celular vibrou de novo:
“Abre a porta, estou aqui!”
Corri até a entrada.
— Bom dia, meu girassol! — disse Lucas, com um buquê de girassóis nas mãos.
Sorri encantada e pulei direto nos braços dele.
— Nossa, eu jamais esperaria isso de você. — Beijei os seus lábios, surpresa e emocionada.
— Não sei se isso foi um elogio ou uma ofensa — ele brincou, rindo entre um beijo e outro.
— Foi elogio, eu só... me expressei m*l. — Recomecei o beijo e o puxei para dentro de casa.
— Quer tomar um café? — perguntei indo até a cozinha. — Já estou pronta.
— Não, tô de boa. Vamos? — E saímos.
No carro, o papo fluiu fácil. Lucas me contou como tinha sido o primeiro ano dele: festas em fraternidades, baladas, loucuras e muito s**o.
— Tá, pode parar! — interrompi, revirando os olhos. — Não gosto de imaginar você com outras mulheres.
Ele riu, me provocando.
— Nenhuma delas namorou comigo. Só você tem esse privilégio. — Disse, pousando a mão sobre a minha perna.
A curiosidade falou mais alto.
— Você e a... — hesitei — a Natalie?
— Foi no começo do segundo ano — respondeu, direto, sem se alongar.
Não sabia o quanto ele tinha gostado dela, mas sei que ninguém esquece fácil uma traição — principalmente vinda de quem se ama.
— Malu, a Natalie é passado. Eu gostei dela, sim. Foi minha primeira namorada, então tudo era muito intenso. Mas nunca amei como amo você.
Fiquei em silêncio. Não queria me aprofundar. Natalie era passado, tanto para ele quanto para mim.
Chegamos ao estacionamento da faculdade e Lucas me acompanhou até a diretoria para eu pegar a minha permissão de entrada. Já tinha combinado com o Leo que voltaríamos juntos — ele me mostraria o prédio onde eu ficaria com a Milena.
— Bom, não vou te desejar boa sorte, nem disciplina... porque isso você tem de sobra. — Ele me puxou para um beijo. — Mas se algum cara ousar dar em cima de você, eu juro que parto para p*****a.
Caí na risada.
Fomos até a entrada do prédio onde eu teria aula. Lucas não podia entrar, então nos despedimos ali, com mais um beijo demorado.
Respirei fundo e dei o primeiro passo pelo corredor com o pé direito. Aquilo era o início de tudo. Os próximos cinco anos prometiam amizades novas, experiências intensas e lembranças eternas.
Olhei o papel da diretoria: sala 1258. Segui pelo corredor até encontrar a porta. Já havia um garoto lá, tentando abri-la.
— Ah, eu já tentei! — disse ele, sorrindo, ao me ver.
— É, acho que chegamos cedo demais. — Sorri de volta, um pouco sem graça.
Ele balançou a cabeça, concordando.
Um homem alto passou por nós, pegou um molho de chaves e destrancou a porta.
— Apressadinhos, hein? — brincou, antes de seguir o seu caminho.
Rimos.
— Antes cedo do que atrasado. — comentei, tentando quebrar o gelo.
— Concordo plenamente. — Ele sorriu. — Sou Rafael, prazer! — estendeu a mão.
Apertei a sua mão e retribuí o sorriso.
O primeiro dia de faculdade estava apenas começando. E, no fundo, eu sentia que aquele dia ia mudar a minha vida para sempre.