Pressão

981 Words
A reunião acontecia no condomínio da máfia brasileira. O lugar era fechado, seguro, blindado por fora e por dentro., tinham melhorado a segurança nos últimos meses. Homens armados vigiavam os portões, e o subsolo abrigava as decisões mais sérias. Lá estavam: Salomão, Callebe, Albucacys, Augusto, Mostafá e Estevão. Todos sentados em volta da mesa. — Eu, Mostafá e Albucacys vamos até a base da Amazônia. Ficamos quatro dias — anunciou Augusto. Não que desejasse sair de casa, mas era necessário. — Eu não vou — disse Albucacys, ajeitando-se na cadeira. A mesa silenciou. Callebe parou de girar a caneta. Mostafá só observava. — Albucacys — Augusto tentou mais uma vez. — Eu disse que não vou. — Por quê? — insistiu Estevão. — Porque Estela precisa de mim. E eu não vou sair do lado dela agora. Não posso levá-la, e o pres não vai permitir. Então eu fico. — Precisamos de você. Aqueles documentos que achamos enterrados exigem leitura jurídica pesada — Augusto rebateu. — Tragam os documentos — disse Albucacys. — Não posso. O chefe americano proibiu que os documentos saiam da base. — Então ele fica sem leitura. Eu não vou. Albucacys balançou a cabeça., Estela ficou mais calada depois que o Fagner tentou beijá-la à força. E ia deixá-la sozinha. Não agora. — Se Salomão ordenar, você vai — ameaçou Augusto. — Aí eu levo suspensão. Levo uma surr.a. Fico fora do clube. Mas eu fico. E não saio da cidade. Augusto bufou, cruzou os braços e se levantou. Já iam organizar o que precisavam levar no avião.Albucacys também se levantou, saiu sem olhar para trás. Mas Salomão o parou na saída. — Não vou, pres. Respeito o senhor, mas não vou, Estela ela ainda está assustada. Eu sei. E não vou sair e deixá-la aqui. Não agora. Salomão o encarou por um momento… mas não disse nada. — Vou negociar com o chefe americano pra que os documentos sejam trazidos pra cá — disse Callebe. — Você vem pela e os documentos e eler, assim que acabar devolvemos tudo. __ Isso, eu posso fazer. E saiu, Callebe e Salomão foram para o clube.. Estava decidido. Ele ia ficar ali com Estela. Onde precisava estar, foi dar uma volta de moto, precisava pensar. Mesmo assim, atendeu quando o telefone tocou. Era Salomão, avisando: — O detetive Donald já está no clube. Estamos te esperando. — Tô chegando, pres. Tô chegando. Foi o que fez, no clube, Donald, Salomão e Callebe estavam sentados no fundo do salão principal. Os dois — Salomão e Calebe — eram os pais que ele nunca teve. Eram palavra e vida. Ensinaram ele a ser homem. Sentou-se. Donald tirou alguns papéis de uma pasta. Estava com olhar sério, direto. — Esses aqui são registros de nascimento do município onde você diz ter nascido. Conferi com a data que me forneceu. Não tem nada., no ano e dia , só nasceram meninas e gêmeos.. — Devo ter nascido em casa, como Corine nasceu… — Se você tivesse nascido em casa, sua mãe provavelmente teria morrido no parto — disse Donald, olhando fixo. — Sua estrutura é muito grande. Pra nascer em casa, sem assistência médica nenhuma, é quase impossível. Não acha? — virou-se para Salomão. Salomão balançou a cabeça. — Não. Mulheres dão à luz todo dia. Crianças nascem pequenas e crescem. Pode ser que ele tenha nascido em casa, sim. — Sabe o que eu acho mesmo? — Donald continuou. — Que você foi tirado de algum lugar. Que sua mãe vivia se escondendo. E por isso foi parar naquele fim de mundo. Albucacys... você não nasceu naquele interior. Donald colocou uma folha limpa diante dele. — Quero que anote de novo o nome e sobrenome da sua mãe. Tudo o que lembra, porque os seus registros estão alterados.. Albucacys ficou em silêncio. Donald o olhou firme. — Eu acho que você faz de conta que busca respostas. Mas no fundo, você não quer saber de onde veio e faz anotações com erros, Albucacys e assim, não consigo trabalhar, precisa colaborar e parar de fugir do passado. Albucacys baixou a cabeça. Salomão então chamou: — Albucacys. — Pres? — Isso não é um pedido. É uma ordem. Vai pro seu quarto. Leva esse papel. E dessa vez... escreve tudo direito. Tudo que lembrar. Até o que parece detalhe. Use sua inteligência. Pare de fingir que não sabe, estamos nos certificando que Corine e Estela nao corram riscos, e vamos juntar juntar forças com a máfia e com o homens de Zachary para garantir isso, então faça sua parte. Albucacys assentiu, pegou a folha, e saiu. Não era mais só sobre o passado. Era sobre parar de fugir, entrou no quarto e trancou a porta. Jogou o capacete no canto, deixou o papel sobre a escrivaninha. Ficou alguns segundos parado, só olhando. Depois sentou. Pegou a caneta, mas não escreveu de imediato. Passou a mão na nuca, respirou fundo. Olhou pro papel em branco. Escreveu a primeira letra de um nome: "J. Tinha essa letra desenhada nas paredes da casa que morou na infância.. A mãe estava sempre riscando essa letra.. Lembrou da voz dela, nao era amado e Corine também não foi.. Depois, ficou parado.Tentou lembrar do rosto dela. Às vezes vinha claro, outras vezes distorcido. Mas sempre triste ou feroz... A mão começou a escrever sozinha: "Ela usava lenço na cabeça, mesmo dentro de casa. Tinha medo de janela aberta. Não falava alto. Eu lembro que tremia quando pensava escutar passos. Parou. Piscou. Não queria lembrar. Ela usava vestido longo .. sempre, sempre e o padrasto era estranho, violento.. A caneta ficou parada sobre o papel. Albucacys apertou os olhos. Lembrou de uma frase que ela dizia sempre que ele perguntava sobre o pai: "Seu pai é o silêncio. Aprenda com ele." Guardou o papel.. precisava pensar com clareza para escrever..
Free reading for new users
Scan code to download app
Facebookexpand_more
  • author-avatar
    Writer
  • chap_listContents
  • likeADD