Aquela voz fez Linda sentir um arrepio, ao se virar e se deparar com aquele par de olhos azuis, ela congelou no lugar.
Não dá para acreditar que aquele Deus era o tal irmão chato de Sandy, eles não tinham nada em comum.
Sandy era ruiva, pele ligeiramente avermelhada e tinha olhos castanhos. Já Theo era moreno claro, cabelos negros e os olhos azuis de um tom marcante. Ninguém diria que eram parentes.
- Eu ...
- Por favor, Srta. Não vai me atrapalhar em nada levar você.
Sandy empurrou Linda para o banco atrás e entrou em seguida ao seu lado.
- Não me apresentou sua amiga Sandy.
- Ah sim, Linda Meireles, meu irmão Dominic Peluso.
- É um prazer Sr Peluso.
- Por favor Linda, Dominic. Ou Dom como todos me chamam. - Deu uma piscada para ela pelo espelho. - Para onde vamos?
- Para o restante, por favor.
- Certo! Eu nunca iria imaginar que você conhecia minha irmã.
- Vocês se conhecem?
- Seu irmão é cliente no restaurante que trabalho.
- Eu devia ter imaginado.
Após um breve silêncio Dom pergunta:
- Então você também faz administração?
- Não, eu faço letras. Na verdade, queria fazer medicina.
- Porque não fez ?
- A mensalidade é muito cara.
Dom ficou sem palavras. Afinal, dinheiro nunca foi problema para ele. E, por ela ser garçonete, ele já devia ter deduzido que ela tinha uma renda apertada.
- Pronto Linda, está entregue.
- Muito obrigada Sr Dominic.
- San, se você quiser, podemos jantar aqui mais tarde.
Sandy o olhou desconfiada e Linda sentiu seu coração acelerado. Se afastou do carro sem ouvir a resposta dela.
- Você está bem Dom!
- Estou ótimo, porque?
- Você se oferecer para me trazer para jantar é novidade.
- Deixa de exagero. O que tem demais em jantar comigo?
- Não teria nada demais se você tivesse o hábito. Já perdi as contas de quantas vezes implorei para sair com você!
- Os locais que vou com Theo não é ideal para você.
- Ou seria por causa de uma ruivinha que eu conheço?
Sandy não era boba, e Dominic estava muito doce hoje.
- É pegar ou largar sua pentelha.
- Está bom, eu pego. Não tem nada interessante para fazer sozinha trancada no seu apartamento.
- Você reclama demais!
Dom entrou no condomínio, estacionou e para a surpresa de Sandy, pegou sua mochila e andou para o elevador.
- Vou enviar uns email's. Esteja pronta as oito.
- Sim capitão!
Ela bateu continência juntando as pernas.
- San, para de ser infantil. No jantar, se comporta por favor.
- Você está muito estranho Dom. O que está acontecendo?
- O papai e a mamãe me ligam quase todos os dias e reclamam de você estar ficando no alojamento da faculdade.
- Bom que eu faço companhia para a Linda. Morro de pena dela, nos finais de semana aquele lugar fica praticamente deserto.
- Porque? Ela não vai para casa no final de semana?
- Não! Ela não tem ninguém. Os pais adotivos foram para a Europa e ela não tem notícias deles mais.
- Pais adotivos?
- Sim. Desde que ela começou a faculdade, mora no alojamento em tempo integral.
Os olhos de Dom escureceram ligeiramente. Não sabe dizer por que, mas seu coração doeu ao saber disso.
- Você pode convidar ela para vir nos finais de semana. Assim terá companhia.
Sandy ficou surpresa com o que ele disse. Desde que veio de Boston para NY, há dois anos, Dom deixou claro que não queria estranhos no seu AP. Era uma mudança e tanto.
Eram oito e meia quando os irmãos chegaram no Good nutrition.
Dom correu os olhos pelo salão, ansioso em busca de Linda.
- Vamos para aquele canto ali.
San o tirou do seu devaneio.
- Porque lá?
- Porque Linda está com as mesas do canto à direita.
- Como você sabe disso?
- Eu mandei mensagem perguntando.
Sem questionar, ele a seguiu e se sentou. Não demorou para Linda aparecer e deixar os pedidos na mesa um pouco à frente.
Sandy fez um aceno e a seguir ela se dirigiu à mesa deles, retirando do bolso o bloco e a caneta.
- Boa noite! Que bom que vieram. O que vão querer?
- Eu vou aceitar sua sugestão.
Dom falou deixando a irmã de queixo caído.
- Não tenho a mínima ideia do que o senhor gosta.
- Como de tudo, não sou exigente!
Sandy se segurou para não rir. Quando foi que seu irmão se tornou tão dependente?
- O pato ao molho picante tem uma excelente saída.
- Ótimo! Pode ser.
- E você, San?
- Bife, fritas, salada, arroz feijão branco e vinho tinto seco.
Linda sorriu, mas não disse nada. Era isso que elas mais comiam na cantina da escola.
Dom estava cativado pelo sorriso dela. A boca era pequena e os lábios carnudos. Dentes bem alinhados em um sorriso perfeito. Um convite silencioso para seus lábios ávidos por experimentar seu beijo .
Jantaram lentamente e as colegas de trabalho de Linda não deixaram de notar Dominic.
- Olha que casal lindo!
- Nossa, o homem parece que saiu da capa das revista masculina. Perfeito em tudo.
E os elogios seguiam cheios de suposição.
Linda parou para beber água e pegou parte da conversa.
- Eles vão ter lindos filhos. Ambos são de beleza distintas.
Ao seguir a direção do olhar delas, Linda não pode deixar de sorrir.
- Eles não vão ter filhos.
- Virou vidente Linda?
- Não! Eles são irmãos.
As duas mulheres ficaram admiradas.
- Você os atendeu e já sabe isso tudo?
- Não Loren, eu estudo com a moça ao lado. Hoje os dois até me deram uma carona até aqui
- Sério? Eu vi que você chegou em um Bugatti Celeron special.
- O Fred até disse que você devia ter arrumado um amante milionário.
- Vocês não valem nada!
- A gente não tem nada com isso. Eles estão até fazendo aposta de quanto tempo você vai levar para pedir as contas.
A cor fugiu do rosto dela. Estava acostumada com a língua de quiabo dos colegas. Mas eram sobre os clientes, agora estavam falando dela. Como podem?
Da mesa, Dom viu que algo não estava bem com Linda. Isso o deixou inquieto. Ansioso a chamou para fechar a conta e aproveitou para sondar.
- Está tudo bem com você?
O rosto dela ficou vermelho e sua voz saiu diferente.
- Está sim.
- Você sai que horas? Se estiver para ir, levo você.
- Hoje não tenho horário. Vou sair quando fechar.
- Então nós vamos indo. Boa noite!
- Boa noite! Te vejo na segunda San!
- Bom fim de semana Linda!