8 - Príncipe e predador

1768 Words
Katherine Lutar. Correr. Congelar. Os impulsos conflitantes de fazer todas essas três coisas ricocheteiam dentro de mim quando meus olhos encontram os dele. Deus, como eu queria estar armada. Eu seria uma i****a se usasse minhas armas aqui, claro. Mas só o peso do aço frio pressionado contra minhas coxas já me faria sentir melhor. Meu coração está disparado. Droga. Preciso respirar, preciso desacelerar, mas o vampiro moreno e bonito na mesa principal ainda está me encarando. Ele desliza as presas para fora da garganta da mulher em seu colo, e ela solta um gemido agudo — do tipo que se ouviria depois de um orgasmo. Ele lambe o sangue que escorre pelo pescoço dela, e sua língua... fecha as feridas. Eles podem fazer isso? Filho da p**a. Aqueles desgraçados de rua nunca fazem isso. Eles só sugam e deixam pra morrer. Ele lança um olhar sensual para ela e a empurra com delicadeza para fora do colo. Ela o encara como se estivesse apaixonada, o peito arfando com a respiração pesada, e então se vira, tropeçando alegremente para longe. Mas ele não a observa ir embora. Não. Seus olhos voltam para mim, fixos como lâminas atravessando carne. É como se ele me enxergasse por dentro. Um arrepio escorre pela minha espinha enquanto ele lambe as últimas gotas de sangue dos lábios. Ele parece predador. Possessivo. Aterrorizante. Então por que, c*****o, ele também parece... sexy? — Meu Deus. Você acha que ela é a parceira dele? — murmura a loira corpulenta ao meu lado, perguntando a ninguém em particular. Uma ruiva de olhos brilhantes, corpo escultural, pele impecável e um rosto simetricamente irritante gira um garfo entre os dedos, rindo baixinho enquanto encara a loira: — p***a, não. Você não escutou? — Ela revirou os olhos. — O Príncipe Klaus não mantém humanos vinculados. Ele prefere... experimentar o bufê inteiro, por assim dizer. Franzo a testa. — Isso não faz sentido. Ele é o príncipe, não é? Ele poderia ter quem quisesse. Quantas quisesse. A ruiva franze os lábios para mim e levanta uma mão com unhas impecavelmente cuidadas, carregadas de desprezo. — Você sabe como os homens são, né? Pelo que ouvi, ele é selvagem. Não quer se prender a ninguém. Não quer se vincular a um tributo por muito tempo. — Ela sorri, mas é o tipo de sorriso que mostra mais dente do que afeto. — Acho que não entendi seu nome, querida. Quem é você? — Dayse. — respondo, firme. — Claire. — ela diz arrastado, estendendo a mão. Aperto brevemente. Meus calos tocam os dedos delicados dela com firmeza. Tenho força o suficiente para esmagar sua mão sem esforço. Um lampejo de desgosto cruza seu rosto, mas ela logo o apaga atrás da máscara de simpatia polida. — E você? — pergunta à loira ao meu lado. — Helena — diz ela num tom desinteressado, como se nem valesse a pena lembrar. — Meu nome é Sophie — a garota com quem falei no corredor se intromete. Ela parece desesperada por alguma conexão. Claire a dispensa com um olhar afiado. — Ninguém se importa, querida. Você obviamente não quer estar aqui. Os vampiros vão perceber isso em você. E você vai acabar presa no limbo dos tributos gerais para sempre. Apenas aceite. O rosto de Sophie se contrai. Ela parece prestes a chorar de novo. Pigarreio e me inclino para a frente... mas me lembro de que estou lidando com mulheres, não monstros ou homens. A linguagem corporal aqui é outra. Endireito a postura e falo: — Tributo geral parece uma posição melhor a longo prazo. Estar vinculada a um vampiro parece… meio r**m. Os olhos de Claire se arregalam. — O quê? Seja realista. Você realmente prefere ser o alimento coletivo? Ter qualquer vampiro enfiando os dentes em você quando quiser? Ser passada de mão em mão como uma prostituta? Dou de ombros. — Prefiro ser uma prostituta do que um cachorrinho. Sophie me olha com curiosidade. Helena se remexe na cadeira, desconfortável. O sorriso de Claire agora é gelo puro. — Um cachorrinho? — ela repete com uma risadinha tensa. — É assim que você chama? Ser permanentemente ligada a um vampiro poderoso — alguém como o príncipe, ou mesmo um m****o menor da corte — te daria poder. Nunca ouviu o ditado, querida? “Por trás de todo grande homem, há uma mulher puxando os cordões?” Você seria essa mulher. Uma puxadora de cordões. Como tributo geral, você é só... carne. Não consigo conter a risada. — Você acha mesmo que seria você quem puxaria os cordões? Fala sério, Claire. Dá pra ver que você pesquisou bastante. Me responde uma coisa: o que acontece com um tributo depois que ele é vinculado a um vampiro? O rubor cora suas bochechas. Os olhos se estreitam, quase imperceptivelmente. — Acho que todas nesta mesa sabem tanto quanto eu. Algumas meninas balançam a cabeça. Outras apenas desviam o olhar. — Por favor, me digam — implora uma garota franzina de olhos verdes, olhando de mim para Claire. — Eu achei que... sei lá... o vínculo fosse tipo uma promessa. De que você seria exclusiva de um vampiro até o contrato terminar. Um sorriso se espalha pelo meu rosto. E não é gentil. Mantenho os olhos cravados em Claire quando respondo: — Você realmente acha que alguém sobrevive tempo suficiente pra ver o contrato expirar? Sério? — Ah, calem a boca vocês duas — rosna uma garota do outro lado da mesa. Ela alisa o cabelo e se apoia nos cotovelos, olhando para nós com um olhar de aço. — Quer saber o que acontece quando você é vinculada a um vampiro? Eu vou te contar. — Ah, é? — diz Claire com frieza, o nariz empinado. — E o que você sabe, querida? O sorriso irônico que ela tenta manter a deixa menos bonita. Na verdade, é quase feio. Ela sabe disso? A outra garota pisca lentamente e vira-se para a menina dos olhos verdes, que parece cada vez mais assustada. — O laço de sangue é um ritual. Ele te conecta a um único vampiro. Depois disso, você nunca mais quer ir embora. Você anseia por ele. Você se torna viciada. Viciada em alimentá-lo. Em tocá-lo. Ela faz uma pausa e então sorri. — Sabe aquele sexo que você teve uma vez que foi tão bom que você pensou nisso por dias? Que só de lembrar você já fica molhada? A garota dos olhos verdes engole em seco. Todos prendem a respiração. — É isso que você sente cada vez que seu vampiro te toca. Você faria qualquer coisa por ele. Qualquer coisa. Viraria o que ele quiser que você vire, só pra nunca mais ficar sem isso. Ela virou seu olhar frio para mim, o maxilar tenso de um jeito que eu reconheço. Acho que já usei essa mesma expressão antes, na verdade. — Alguns tributos sobrevivem aos seus contratos. Mas tributos vinculados... eles se matam antes de conseguir ir embora. Eu já vi isso. Claire zomba. — Você viu, viu? Chegou aqui na mesma hora que a gente. O que é agora, uma vidente mirim? Para de assustar as outras garotas. — Você sobreviveu ao seu contrato — murmuro, encontrando seu olhar de aço. — Seu primeiro contrato. — E ao meu segundo — ela retruca, com um tom de orgulho na voz. — Este será o meu terceiro, e eu também vou sobreviver a ele. Sabe por quê? — Estou mais interessada em como. Ela sorri para mim, sem se abalar. — Porque eu sou vulgar demais para esses idiotas clássicos. Eles querem provar o fruto proibido, mas que se danem se quiserem se apegar a ele. Sou boa no que faço. Cuido de mim. Tenho um gosto bom. Mas nunca peço alto demais todas as vezes, então nunca fico aqui tempo suficiente pra que algum deles tenha ideias idiotas. — Entendi — digo. — Então… por quê? Ela dá de ombros. — Eu gosto de dinheiro. Com essa resposta seca, sua expressão se fecha junto com a boca. Conversa encerrada. Eu gosto dessa garota. Me pergunto por que ela está mesmo fazendo isso — de verdade — mas não insisto. É uma distração da qual não preciso agora, não depois que a inquietante queimação de excitação na minha barriga passou. Ver o Príncipe Klaus fazer aquela garota gozar com os lábios no pescoço dela me deixou em alerta, mas já passou. O homem com o piercing no nariz no fundo do leilão, o loiro sexy no corredor, e o príncipe com os intensos olhos cinzentos — todos eles são monstros. Nada mais. Eles sugariam alegremente essas garotas até secá-las e cuspi-las. Foderiam suas cabeças até que não pudessem mais dar. E depois as matariam. É o que eles fazem. É o que todos eles fazem. Até os tributos mais fortes são vítimas do ciclo. A garota do olhar duro — que não revelou o nome e provavelmente não vai revelar — saiu duas vezes e voltou para uma terceira tentativa. Ela diz que é pelo dinheiro, mas eu sei que tem mais por trás disso. Provavelmente veio uma vez só para juntar o suficiente e tentar escapar, mas foi puxada de volta pra cidade. Uma cidade governada por vampiros — em todos os sentidos que isso significa. Sua única chance de quebrar o ciclo é receber o pagamento e dar o fora. E ela sabe disso. Está escrito no rosto dela. Algo a mantém aqui. Algo nos mantém aqui. Mentiras bonitas. Distrações. A realidade é brutal. Mas é a única coisa que importa. Mal ouço a conversa que continua na mesa. Claire está alisando o próprio ego, explicando como até mulheres codependentes podem puxar os cordões, ou algo assim. Sophie parece irritada. Ótimo. Melhor do que desistir e se entregar. Helena parece que acabou de perceber o quanto se ferrou ao assinar aquele maldito contrato, mas está tentando se convencer de que fez a escolha certa. Alguns minutos depois, há uma agitação perto da porta. Vampiros e humanos se viram para observar o grupo de homens sem camisa sendo conduzido para dentro por um trio de caras da mesma idade e palidez da Agatha. Os tributos masculinos estão todos untados da clavícula para baixo. Parecem um bando de frangos assados prontos para serem espetados. E de certa forma... acho que são mesmo. Eles começam a se mover em direção a um conjunto de mesas no lado oposto da sala. E é aí que meu coração salta no peito. Lá está ele. O segundo da última fila. Tyson.
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