Segurando com força a alça de sua bolsa preta, Sara Montenegro saiu apressada do elevador, o salto alto ecoando pelo estacionamento da empresa de seu marido, Rodrigo, até chegar na vaga em que estacionara o carro esporte vermelho. Entrou batendo a porta com força, deu partida e dirigiu a toda velocidade pelas ruas molhadas pela chuva que caia naquele fim de tarde.
Com vinte sete anos, corpo delgado e incríveis olhos esverdeados, que naquele momento se encontravam úmidos, m*l conseguia enxergar a estrada a sua frente, tanto por causa da chuva quanto pelas lágrimas que embaçavam sua visão. Internamente estava chateada, com raiva e emoções fora de controle.
— Cretino... Como pode...? — balbuciou com dificuldade, a garganta dolorida.
Seu celular tocou de dentro da bolsa, jogada no banco ao seu lado quando entrara no carro. Sabia quem era e não atenderia de jeito nenhum.
— Safado... Quem ele pensa que é...?
Não merecia desrespeito, não pela pessoa que a fizera desistir de seus sonhos. Sentia que seu coração tinha sido cruelmente tirado do peito, pisoteado sem dó e jogado num triturador.
O toque do celular persistia, enfurecendo-a. O desgraçado sabia ser insistente quando queria.
Nervosa, segurou o volante com a mão esquerda e com a direita abriu a bolsa, vasculhando seu interior em busca do aparelho. Agarrou o objeto retangular, levando-o a sua frente para ver o nome na tela. As lágrimas prejudicavam sua visão, impedindo que enxergasse com clareza. Atendeu e reconheceu de imediato à voz grave.
— Sara, o porteiro avisou que você saiu em alta velocidade. O que pretende? Se m***r?
— Ah, vocês adorariam isso — zombou furiosa.
Com a vista totalmente encoberta e os sentidos descontrolados, pisou fundo no acelerador.
— Não seja inconsequente.
— Inconsequente... Eu...? — Apertou com força a mão no volante e acelerou mais. — Fiz de tudo por você... Para te agradar... E veja como me agradeceu... E eu que sou a inconsequente...? — gritava a plenos pulmões para que sua voz saísse em meio ao choro. — Você não presta...
— Gritar não resolverá as coisas entre nós, só me irrita, Sara.
Riu histérica.
— Tudo te irrita — retrucou irada. — Nada te deixa contente... Cansei de tentar... Queria nunca ter me apaixonado por um maldito egocêntrico sem sentimentos... Queria nunca ter te conhecido...
Mal terminara de descarregar toda sua raiva e frustração quando, ao passar sobre uma poça d"agua, o carro derrapou. Com somente uma mão no volante e em alta velocidade, Sara não conseguiu controlar o carro e bateu com força assustadora contra um murro.
Desmaiou instantaneamente, a cabeça caída para frente, o sangue escorrendo sobre sua face e o corpo preso entre as ferragens. Não ouviu os gritos das pessoas tentando acorda-la, não ouviu o barulho das sirenes da ambulância, mas, principalmente, não ouviu a voz grave e normalmente fria que saia do celular, lançado para embaixo do banco traseiro durante o impacto, ficar cada vez mais alta e preocupada.
— Sara que barulho foi esse? O que aconteceu? Sara...?