Capítulo 5: A fuga do desejo
O ar no terraço parecia mais denso, carregado por uma eletricidade que fazia o coração de Clara disparar e os pensamentos se embaralharem. Os lábios de Rafael se moviam sobre os dela com uma mistura de urgência e suavidade, como se ele quisesse memorizar cada segundo daquele momento. As mãos dele percorriam sua cintura com firmeza, mas sem invadir, enquanto os dedos dela se enroscavam em seus cabelos, puxando-o para mais perto.
Ela m*l conseguia pensar. Tudo nela gritava para se entregar, para esquecer o mundo e deixar que aquele homem a consumisse ali mesmo, sob o céu estrelado e longe de qualquer olhar. Ele a fazia se sentir desejada de uma forma que ninguém jamais havia feito, e isso a assustava tanto quanto a excitava.
— Clara... eu não consigo parar de pensar em você.
A declaração atingiu Clara como um choque de realidade. Era tudo o que ela queria ouvir, mas ao mesmo tempo, o peso daquelas palavras era esmagador. Ela se afastou de repente, rompendo o contato, ofegante, com o coração acelerado e os lábios ainda mais quentes pelo beijo delicioso.
— Eu... eu não posso - disse ela, quase sem voz.
Rafael a olhou, confuso, mas sem pressioná-la .
— Clara, o que aconteceu? Eu fui longe demais?
Ela balançou a cabeça, lutando para organizar os pensamentos que pareciam um turbilhão. Não era sobre ele. Era sobre ela. Sobre tudo o que estava em jogo.
— Não... você não fez nada errado. É só que... - Ela mordeu o lábio, desviando o olhar. - Eu não posso fazer isso. Não assim.
Sem esperar uma resposta, Clara se virou e praticamente correu em direção à escada. Desceu os degraus com passos apressados, ignorando os olhares curiosos de alguns poucos convidados que ainda permaneciam no salão. Ela não teve coragem de olhar para trás, com medo de encontrar os olhos do Rafael e perceber que já estava mais envolvida do que deveria.
Quando finalmente chegou à rua, o ar frio da noite a tingiu, ajudando a clarear os pensamentos. Ela caminhou rápido, sem destino, apenas querendo colocar distância ente ela e o que havia acabado de acontecer.
Seu peito doía com uma mistura de arrependimento e frustração. Rafael a fazia sentir viva, mas também trazia à tona todos os seus medos. Como poderia se permitir sentir algo por ele quando sua vida era tão complicada, quando ela m*l conseguia cuidar de si mesma e de seus irmãos?
Clara sabia que havia deixado algo importante para trás. Sabia que Rafael provavelmente estaria confuso, talvez até magoado, mas não podia voltar. Não agora. Não enquanto ainda não sabia como lidar com o que estava sentindo.
Ela parou em uma esquina qualquer, respirando fundo, tentando recobrar o controle. Mas mesmo ali, longe do terraço, longe dele, ela ainda sentia o gosto de seus lábios e o calor de suas mãos em sua pele.
E era isso que a assustava mais que tudo.
Rafael ficou parado no terraço por longos minutos após Clara desaparecer. O vento frio da noite não era suficiente para apagar o calor que ainda percorria seu corpo, marcado pela intensidade do beijo e pelo toque dela. Mas a súbita partida de Clara o deixara confuso e, para sua própria surpresa, magoado.
Ele passou uma das mãos pelo cabelo, tentando organizar os pensamentos. Nunca havia se sentido tão fora de controle. Desde o primeiro momento em que a viu, naquela noite em que ela servia mesas, algo em Clara o havia intrigado. Ela tinha uma força silenciosa, um brilho nos olhos que parecia contrastar com a timidez de sua postura. Mas Rafael não esperava que ela fosse capaz de mexer tanto com ele.
“Você está agindo como um i****a”, pensou, irritado consigo mesmo. Ele era um homem de negócios, acostumado a manter o foco e separar o pessoal do profissional. Nunca deixava suas emoções influenciarem suas decisões, mas com Clara... tudo parecia diferente.
O que mais o incomodava não era o fato de ela ter ido embora sem explicação, mas o olhar dela antes de partir. Algo nos olhos de Clara dizia que ela também sentia o que ele sentia, mas estava presa a algum medo ou insegurança que ele ainda não conseguia compreender.
Ele caminhou até a grade, olhando para a cidade abaixo, as luzes piscando como se fossem um reflexo de seus próprios pensamentos confusos. Sentiu uma pontada de frustração. Não gostava de se sentir impotente, mas sabia que forçar algo com Clara seria um erro.
Ela era diferente. Não era como as mulheres com quem ele costumava se envolver, aquelas que sempre sabiam o que queriam dele — ou do que ele podia oferecer. Clara não parecia querer nada além de seguir com sua vida, suas responsabilidades. E isso só a tornava mais intrigante.
— O que você está fazendo, Rafael? — murmurou para si mesmo.
Ele sabia que precisaria esperar, dar espaço a ela, mas a ideia de ficar longe do que sentira naquele momento no terraço o incomodava profundamente. Rafael não era do tipo que desistia fácil, muito menos de algo que realmente desejava. E Clara... ela estava se tornando o desejo mais difícil de ignorar.
Rafael desceu do terraço, ainda perdido em pensamentos. Enquanto caminhava em direção ao estacionamento, uma ideia incômoda começou a tomar forma. "Será que Clara tem um namorado? Por isso ela disse que não podia.", ele se perguntou, sentindo uma pontada de algo que não queria admitir como ciúme.
A maneira como ela fugiu, sem explicações, parecia indicar mais do que apenas nervosismo. Talvez houvesse outra pessoa na vida dela, alguém que a mantinha afastada dele. Mas, mesmo com essa possibilidade, Rafael sabia que precisava vê-la novamente. Não conseguia ignorar o que sentira, nem o que vira nos olhos dela antes de partir.
Ao entrar no carro, ele tomou uma decisão. Não importava o quão irracional pudesse parecer, iria atrás dela. Não sabia exatamente onde encontrá-la, mas algo dentro de si o guiava.
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Clara caminhava pelas ruas desertas com o coração pesado. Depois de fugir do terraço, ela decidiu não voltar ao restaurante. Simplesmente não conseguia encarar Rafael ou os colegas naquele momento. Precisava de um tempo para pensar, para processar o que havia acontecido.
Mas a cidade àquela hora não era acolhedora. Os becos escuros e as ruas vazias pareciam amplificar seus medos e inseguranças. Quando ouviu passos atrás de si, sentiu um arrepio percorrer sua espinha.
— Ei, garota — uma voz rouca soou próxima demais.
Clara se virou lentamente e viu um homem de aparência desgastada, com roupas sujas e olhos injetados. Ele segurava algo que parecia uma faca improvisada, e seu sorriso malicioso fazia seu sangue gelar.
— Passa tudo que você tem — ele ordenou, aproximando-se com passos lentos.
Ela congelou, sentindo o pânico subir como uma onda. Tentou abrir a bolsa com mãos trêmulas, mas antes que pudesse entregar algo, o som de pneus freando chamou a atenção dos dois.
Rafael saiu do carro antes mesmo de desligá-lo. A cena diante de seus olhos fez o sangue ferver. Clara estava encurralada, assustada, enquanto o homem a ameaçava.
— Ei! — Rafael gritou, sua voz firme e cheia de autoridade. — Solte ela agora!
O homem hesitou por um momento, mas ao ver Rafael se aproximar com passos decididos, soltou um palavrão e fugiu pela rua escura. Rafael não o perseguiu; seu foco estava completamente em Clara, que parecia prestes a desabar.
— Clara! — Ele correu até ela, segurando seus ombros gentilmente. — Você está bem? Ele te machucou?
Ela balançou a cabeça, ainda tentando recuperar o fôlego. Os olhos dela estavam cheios de lágrimas, e sua voz saiu trêmula.
— Eu... eu estou bem. Só assustou muito.
Rafael suspirou aliviado, mas não conseguiu conter a preocupação em sua expressão.
— O que você estava fazendo aqui sozinha, a essa hora? — perguntou, sua voz firme, mas carregada de cuidado.
Ela tentou responder, mas foi tomada por um soluço involuntário. Sem pensar duas vezes, Rafael a puxou para um abraço apertado, envolvendo-a com a segurança que ela precisava naquele momento.
— Está tudo bem agora. Eu estou aqui — sussurrou ele, acariciando levemente seus cabelos enquanto ela chorava em seu peito.
Clara não resistiu ao conforto que ele oferecia. Por mais que quisesse manter a distância, naquele momento, precisava dele mais do que nunca.
Enquanto a mantinha em seus braços, Rafael sentiu uma mistura de alívio e raiva. Não apenas pela situação perigosa que ela havia enfrentado, mas pela ideia de quase perdê-la, mesmo que ele ainda não tivesse direito de chamá-la de sua.
Quando Clara finalmente se afastou, os olhos dela encontraram os dele, ainda brilhando de lágrimas. Rafael segurou seu rosto com delicadeza, o polegar traçando uma linha suave em sua bochecha.
— Você não precisa enfrentar tudo sozinha, Clara — disse ele, sua voz baixa e carregada de emoção. — Não mais.
Ela queria responder, dizer algo que justificasse sua fuga ou acalmasse o que ele parecia estar sentindo, mas as palavras falharam. Tudo o que conseguiu fazer foi assentir, permitindo-se ser levada de volta ao carro, onde Rafael prometeu que a levaria para casa em segurança.
Enquanto dirigia, sua determinação crescia. Clara podia ter seus motivos para fugir, mas ele não estava disposto a desistir dela. Não depois daquela noite.