Amanda

2342 Words
Estou saindo do trabalho e seguindo para uma padaria que tem aqui perto, eu sempre costumo fazer esse mesmo trajeto. Trabalho em uma uma papelaria que também vende artigos escolares, isso já fazem exatamente uns nove meses foi a avó da minha filha quem conseguiu esse emprego pra mim. Ah, bem nem me apresentei … Me chamo Amanda Coelho, tenho vinte e nove anos e sou mãe de uma pequena ursinha linda chamada Cecília. Bom voltando a história, desde que o filho mais velho da avó da minha filha sumiu sem nem se quer se importar com a própria filha, ela vem me ajudando como pode e eu não reclamo, afinal as coisas não estão fáceis. Assim que os meus pais souberam que eu estava grávida fui enxotada da família igual quando enxotam um bicho. Ralei e suei muito, passei por muitas necessidades, noites de frio e fome poupando o pouco que eu tinha para que hoje minha filha possa comer, afinal depois de cinco anos posso dizer que hoje nós nos encontramos em uma boa situação. Temos uma casa, é pequena, confortável e simples mais é nossa. E agora que estou trabalhando de carteira assinada nossa situação mudou um pouco com a graça de Deus. - Me vê quatro pães e cento e cinquenta gramas de presunto, por favor. (peço a atendente que está atrás do balcão) Logo após pegar meu pedido vou para o caixa, não posso demorar pois daqui a pouco a perua escolar passa pra deixar a minha ursinha em casa. Estou distraída guardando o troco na bolsa, quando um homem me para na rua. XXX - Moça, por favor, estou com muita fome! Ele é alto, posso dizer que tem o corpo atlético, mas toda a sujeira e a barba por fazer não me deixam ver muito, porém vejo muita sinceridade em suas palavras. - Toma, acabei de comprar alguns pães. (digo abrindo a sacola repartindo um pão e colocando presunto dentro) XXX - Obrigada, ninguém quis me dar comida, eu estou com tanto frio e fome … Ao ouvir suas palavras meu coração doeu, ele está com um semblante de cansado. Eu não tenho muito, mais quando eu precisei de ajuda vi pessoas desconhecidas me estenderem a mão, eu não posso fazer diferente com esse rapaz. Ele está vestindo uma calça jeans toda rasgada e suja, uma camiseta branca que um dia branca, eu acho. - Qual o seu nome? XXX - Eduardo. - Eduardo de que? Eduardo - Não sei, eu não me lembro. Sua resposta vem acompanhada de um olhar perdido e sincero. Eduardo não é tão velho, mais debaixo de toda a barba e sujeira fica mais difícil de descobrir sua idade. Eu não posso demorar mais, o pego pela mão e corremos para minha casa minha pequena me espera, depois de mais ou menos meia hora de caminhada chegamos em frente ao meu portão e como já esperava a perua já está aqui, pego minha pequena e olha curiosa para o Eduardo. Cecília - Mamãe quem é ele? (pergunta toda curiosa) - Um moço que precisa de ajuda meu amor. (digo segurando sua mão) Caminhamos até o portão, vejo ela olhar atentamente para aonde está o Eduardo. Quando finalmente entramos o Eduardo ficou parado do lado de fora da porta. - Entre, a casa é simples mais estamos te recebendo de bom coração. Cecília - Vem moço, vou te mostrar o meu quarto, minha mãe quem fez ele, lá podemos imaginar de tudo. (diz toda animada puxando a mão do Eduardo) Na verdade no quarto da minha pequena ursinha tem apenas uma cama de solteiro simples e uma cômoda usada, que eu comprei em um brechó. O resto é imaginação mesmo, não tenho uma boa condição pra dar um quarto cheio de brinquedos pra minha ursinha, então acaba que sempre brincamos de imaginar, vai que um dia possamos ter tudo o que desejamos né?! A Ceci já ia levanto o Eduardo para o quarto porém eu bem barrei ela no meio do caminho. - Não, não mocinha. Olha como ele está todo sujo, ele precisa urgentemente de um banho. Guio o Eduardo até o corredor dos quartos e lhe entrego uma toalha, uma camisa e um shorts masculino que eu tenho guardado pra eu mesma usar. Estão meio velhos porque eu costumo usar pra ficar em casa, porém estão melhores do que as roupas que ele está vestindo nesse momento. Também lhe entreguei uma toalha de rosto, sabonete e uma escova de dente para sua higiene pessoal. Ele segura tudo apenas assentindo e nunca olhando diretamente em meus olhos, o coitado aceita tudo de forma silenciosa com semblante de quem está com vergonha. Minha casa é simples tem apenas dois quartos, um banheiro e uma sala com cozinha, pequena mais aconchegante e o mais importante de tudo é que é minha. Agora aqui estou eu preparando a janta, macarrão com molho e almôndegas uma das comidas que minha pequena mais ama. Quando o Eduardo sai do banheiro visivelmente mais limpo e cheiroso, noto que há alguns machucados em seu rosto. - Está se sentindo melhor? Eduardo - Sim, muito obrigado. Agora já posso voltar pra rua. - Não! Estou terminando de fazer o jantar, se você se sentir à vontade tem o quarto da Ceci livre, ela não dorme lá mesmo. Eduardo - Obrigado, mais eu não quero abusar da sua boa vontade. (me responde aparentemente desconfortável) - Não é abuso algum, eu estou lhe oferecendo. (digo colocando os pratos no balcão que divide a cozinha da sala) - Ceci, vem comer filha. Eduardo está quieto, não abre a boca pra falar um “a” se quer, enquanto isso minha pequena conta todos os acontecimentos do seu mundo imaginário, ele está atento a tudo. Comemos ouvindo sobre uma joaninha que era preguiçosa e que se deu m*l quando o elefante quis tomar banho … Cecília é uma criança maravilhosa, se adapta a qualquer tipo de situação e não precisa de muito para agradar ela, eu me sinto muito orgulhosa da sua criação. Eu sei que é loucura minha colocar um estranho dentro de casa, tendo uma filha pequena ainda mais na cidade de São Paulo, onde você encontra um doido a cada esquina, mais eu vi verdade em seu olhar e o medo em sua expressão, ele me pareceu tão perturbado de alma. O seu desespero quando me pediu ajuda e o fato de que ele não olha nos olhos das pessoas por medo, isso fez com que partisse meu coração. Eu vou arrumar a cama da Ceci pra ele dormir lá, mesmo que ela seja aparentemente pequena pra ele, porém tenho certeza que vai ser melhor do que as noites geladas da rua. - Você pode dormir aqui. (digo apontando a cama pra ele) Eduardo - Eu não quero atrapalhar nem causar nenhum tipo de desconforto. - Só vai causar desconforto se você não aceitar. (digo e ele apenas assentiu com a cabeça) Ele entra no quarto e no mesmo instante fecha a porta, eu não demoro e faço o mesmo. E mesmo que eu não sinta medo pela sua presença eu tranquei a porta. Cecí - Mamãe? - Oi, meu amor. Ceci - O Eduardo é nosso amigo? Acabo dormindo antes mesmo de dar uma resposta sincera a minha pequena ursinha. Acordo logo cedo no dia seguinte como de costume, para preparar o café da minha pequena e no momento se encontra atravessada na cama com os pés na minha barriga e a cabeça no meio da cama. Ela é um furacão dormindo desde bebê. Sempre foi apenas nós duas, no começo foi muito difícil, passei por dificuldades inimagináveis. Vim do interior em busca de uma vida melhor e um emprego, mais infelizmente não foi bem isso que eu encontrei. O que eu encontrei foi um homem lindo, com palavras encantadoras que me seduziu e eu totalmente inocente nessa selva de pedra cai feito uma otaria. Felipe era um cavalheiro comigo, foi … pelo menos até conseguir o que ele queria. Na época eu morava em uma pensão e ele sempre me levava para a sua casa a noite depois do trabalho, eu ficava encantada. Que menina boba e ridícula que eu era. Até que eu engravidei e ele me disse que não queria ter filhos, que tinha outros objetivos em mente até cogitou um aborto e que ele mesmo pagaria. Eu poderia ter sido irresponsável por engravidar, mais jamais seria tão irresponsável a ponto de tirar uma vida que não tinha, e não tem culpa dos meus erros. Naquela noite sai arrasada da casa dele, sem saber o que fazer eu acabei procurando à família dele para obter algum tipo de ajuda. Sua mãe totalmente diferente do filho me deu todo apoio que eu precisei, quando os meus pais descobriram foi horrível, quase entrei em depressão com as palavras que meu pai me falou, minha mãe coitada, não pode fazer nada. Apesar de eu ela sermos cúmplices e ela fazer de tudo para me proteger do meu pai, infelizmente nesse assunto ela não pode e não conseguiu. Eu me vi sozinha, angustiada e desamparada, mais com a ajuda da dona Edna, eu consegui me reerguer. Ela me levou para morar em sua casa e lá minha filha e eu desenvolvemos um amor muito grande por ela e por Maicon, ou tio Kinho, que com atitudes diferentes de Felipe nos amparou e nos ajudou como pode. Afinal as condições deles não são tão boas para esbanjar. Fiquei com eles até a minha filha completar três anos, e como eu já tinha alguns anos na loja onde eu trabalhava eu conversei com o meu chefe e pedi para ele me mandar embora. Com o dinheiro que juntei mais o da recisão, comprei a minha casa no bairro da Moóca próximo à estação. Minha casa não é lá essas coisas é pequenininha mais como já disse antes o importante é que é minha, e sem falar que ela fica perto de tudo. Depois que eu zerei a minha poupança, passamos um pouco de aperto, nada que eu não pudesse resolver, vendi água na 15 de setembro até que por um milagre divino se abriu uma porta de emprego com direto a carteira assinada e tudo, que é aonde eu estou hoje. Sobrevivendo e vivendo com a graça de Deus. Não tenho luxo com a minha filha, mais o que ela quer eu torço o pingo d’água e dentro o meu possível e impossível eu faço acontecer por ela. A minha sorte é que Deus me deu a melhor filha do mundo, muitas vezes quando eu estava triste e ela percebia, vinha me abraçar dizendo que abraços e beijos curaram toda a ferida do coração. Ela é luz e sempre me incentiva a buscar e fazer o melhor por ela. Puxo o pezinho dela e começo a fazer lhe fazer cosquinha, porque não basta ela ser a melhor filha do mundo mais também é a maior bicho preguiça da face da terra. Ceci - Nãaaaaaoooo (diz puxando a coberta e se escondendo debaixo da mesma) - Eu vou esquentar o seu chocolate e quero você de pé quando eu voltar. Vou para a cozinha e acabo tomando um susto quando a porta do quarto da minha pequena se abriu. - Desculpa Eduardo, eu me esqueci que … meu Deus que cabeça a minha. Eduardo - Não se preocupa Amanda, quero lhe agradecer pelas roupas, comida e hospitalidade. Já estou de saída. - E vai pra onde? (pergunto não aguentando de curiosidade) Sei que fui indiscreta mas só de pensar que ele poderia voltar para rua me fez me sentir muito m*l. Eduardo - Bom … (diz passando a mão pela nuca, com o cabelo por cortar e com alguns fios grisalhos, claramente desconfortável) - Irei voltar para rua. Eu posso ser muito louca por abrigar um completo desconhecido aparentemente sem memória na minha casa, e ainda mais com uma filha pequena. Mas nas raras vezes em que ele me olha, eu percebo sua insegurança, medo e tristeza. E saber que ele vai voltar pra rua me deixa triste, eu não sei bem como explicar. Talvez seja porque quando eu precisei eu vi pessoas que também não tinham nada e também se quer me conheciam bem, me abrigaram sem ao menos pensarem duas vezes. É isso, apenas gratidão pelo o que Deus fez por mim um dia. - Olha, eu sei que você não me conhece e eu também não te conheço. Não tenho uma condição ótima mais a cama está disponível até quando você precisar. Eduardo - Eu não quero incomodar Amanda, não quero te trazer mais despesas eu realmente preciso voltar da onde eu vim. - Ok, da onde você veio? E o que aconteceu com você? Eduardo - Eu não sei. - Como assim? Você não tem cara de quem sempre morou na rua. Desculpa, mais não estou te julgando. Eduardo - Não sei. (diz me olhando nos olhos e vejo que ele está confuso, quase que pedindo socorro) - Eu só me lembro de andar muito e minha cabeça doer, depois apaguei. Acordei com a chuva me molhando me abriguei debaixo de uma lona, não me lembro desde quando eu estou andando, só sei que as pessoas não me dão comida e eu não quero dinheiro para comprar. - Pelo menos você lembra desde quando está sem comer? Eduardo - Não! Ok, ele não é morador de rua, uma certeza que eu tenho é que ele está perdido. Vou até ele e lhe dou um abraço, suas palavras saiam uma atropelando a outra como se não existisse lembranças apenas lacunas vazias e isso fez com que eu sentisse a dor que se aloja no peito dele. - Bom Eduardo como eu já havia te dito, a casa é pequena mais se você quiser ficar nós damos uma jeito. Ele não corresponde ao meu abraço, ele se permanece imóvel enquanto eu sinto sei coração forte e acelerado. Eduardo - Obrigado.
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