Coração já tem dona (morro)

Minha vida vai começar agora

MILENA NARRANDO

Eu nunca sonhei em ser mãe. Meu sonho era viajar o mundo, terminar minha faculdade de Arquitetura, e meu irmão sempre foi muito rígido comigo — me proibia de tudo. Mas um dia ele foi viajar a trabalho, e minha amiga me chamou pra uma festa no morro da Rocinha. Aceitei. Ela já tinha ido e já tava mais familiarizada com o pessoal de lá.

Pra mim, tudo aquilo era novo. Começamos a beber e ela sumiu do nada. Fiquei lá dançando, quando vejo um homem vindo na minha direção. Ele se apresenta como Anthony. Ele é moreno, cheio de tatuagem, cabelinho na régua, com risco na sobrancelha. Tava com uma calça comprida preta, uma blusa preta e um tênis branco da Adidas, e um cordão de ouro.

Fiquei encantada, e claro, ficamos conversando por horas até rolar o primeiro beijo. Nunca namorei — meu irmão nunca deixou. Com ele foi meu primeiro beijo. Depois, ele me chamou pra ir à casa dele. Fiquei meio em dúvida, mas aceitei.

Chegamos lá na casa dele. Rolou mais beijo, o clima já tava esquentando, quando ele começou a tirar minha roupa.

Milena: Eu tenho que te falar uma coisa... nunca fiz isso, é a primeira vez.

Ele ficou parado por uns minutos e começou a beijar meu pescoço.

Anthony: Relaxa, vou te ensinar. Só relaxa.

Ele fez com todo cuidado. Depois de uns minutos, a timidez passou. Eu já tava sentada nele, gostoso... Fizemos várias posições, usamos proteção em todas — menos na última. Antes de eu ir embora, rolou mais uma, e nessa a gente não se preveniu.

Depois daquela loucura toda, fui pra casa. Meu irmão ainda não tinha chegado. Passou uns dias e ele acabou descobrindo que eu tinha ido pro morro. Tivemos uma briga feia.

Passou um mês, e na faculdade acabei passando m*l. Minha amiga me levou pro hospital, fiz uns exames e deu que eu tava grávida. Meu mundo parou ali. Meu irmão chegou na hora que o médico tava me dando a notícia. Fomos pra casa, ele ficou com ódio, me deu um tapa na cara, falou vários palavrões e disse que queria que eu abortasse, que não ia cuidar de criança nenhuma.

Na hora, eu pensei em fazer isso. Como eu ia cuidar de uma criança? Meu irmão me proibiu de sair de casa — eu só ia sair se fosse pra fazer o aborto. Ele já tinha até marcado a hora com o médico.

Uns dias depois, resolvi avisar o Anthony sobre isso. Mesmo se ele não quisesse saber, eu tinha que avisar. O filho era dele também, e eu não queria carregar isso pra sempre sozinha. Peço pra minha amiga conseguir o número dele. Ela disse que ia conseguir. Horas depois, ela me manda o número dele. E eu ligo.

📞 Ligação:

Milena: Oi... sou eu, a Milena. Tô querendo falar uma coisa muito séria com você.

Anthony: Oi, gata! Você sumiu. Pode falar, o que você quer?

Milena: Nem sei como falar isso pra você, mas... tô grávida. Sei que você não vai querer, então vou abortar. Tô te avisando pra não ficar com a consciência pesada.

Ele ficou calado por um tempo, e eu comecei a chorar.

Anthony: Tá doida? Não faz isso, não. Nenhum dos meus sonhos tinha esse de ser pai, mas é meu filho — e não vou deixar você fazer isso.

Ele disse que queria me ver, mas falei que tava trancada em casa. Ele pediu a localização da minha casa, disse que ia me tirar dali, e eu aceitei. Falou pra eu arrumar minhas coisas — ou se não desse tempo, pra eu deixar tudo, que depois ele ia comprar tudo de novo.

Anthony: Já tô indo. Me espera aí e arruma logo tuas coisas.

Ligações off.

Depois que ele desligou, ajeitei umas coisas em uma mala e deixei um bilhete pro meu irmão, só pra avisar que eu ia ficar bem. Passou uma hora e o Anthony chegou arrombando a porta junto com alguns homens armados, e me tirou de lá.

Depois disso tudo, tô com seis meses de gravidez. Eu e o Anthony não ficamos juntos, mas ele me ajuda em tudo. Somos muito unidos em tudo que envolve o bebê. Ele é muito cuidadoso comigo.

Em um certo momento, até senti uns negócios por ele, mas ele já tirou essa esperança de mim. Somos amigos, e tá tudo bem.

Não tenho nenhuma notícia do meu irmão. Moro num apartamento que o Anthony paga, até a casa dele ficar pronta — e ele quer que eu more lá.

Amanhã tem o chá revelação pra descobrir o sexo do bebê, e tô ansiosa demais pra comprar as coisinhas dele. Hoje, minha amiga chega — ela vai trabalhar no postinho do morro e vai me ajudar com o bebê. Ela me mandou mensagem falando que já tá no Rio.

Trinta minutos depois, ela chega. Vou descer pra pegar ela. Tô descendo quando vejo minha gata me esperando. Dou um abraço nela e vamos pra minha casa. Ficamos conversando por horas.