Capítulo 1 - Martina

2668 Words
Deixe-me apresentar-me: Meu nome é Martina Vitale, tenho dezenove anos e para quem me conheceu através da história de Hugo e Antonella (livro: ENTREGUE-SE OU DEIXE ME IR), sabe que tenho um temperamento um tanto explosivo. Bom, na verdade, meu instinto é mais defensivo e só ataco quando me sinto ameaçada. Conheci bem pouco do meu pai, ele era o chefe da guarda da família Parker, sei que ele morreu em combate, eu era muito nova e não tenho tantas lembranças. Ele é considerado um guerreiro fiel, pois morreu para defender a família Parker e por causa disso, eles acham que tem uma dívida eterna com a minha família e por esse motivo eles nos mantiveram sempre por perto. Minha mãe fala que na ausência do meu pai, Hugo Parker se tornou o responsável por me arrumar um “bom casamento.” Minha mãe, a Mary, é uma mulher maravilhosa, cuidou de mim sozinha e fez todo o possível para me dar a melhor educação, com muito carinho e amor. Sei que assim como eu, ela sofre com o meu futuro. Nós mulheres temos um futuro muito incerto dentro desse mundo, não sabemos o que nos aguarda, não sabemos quem será o homem que vai “comandar” nossas vidas. Confesso que sinto medo, sim, sinto medo e não tenho vergonha alguma de assumir isso. Queria viajar o mundo, fazer faculdade, arrumar um trabalho, namorar uns caras, sair para a balada com umas amigas, sei lá, pode parecer coisas bobas, mas para mim isso é muito importante e sabe porquê? Se eu não tentar mudar o meu futuro, jamais terei essas coisas. Serei sempre uma mulher submissa ou então apanharei todos os dias até que aprenda a ser uma boa esposa. É, eu sei, uma loucura, não é mesmo? Na verdade, um absurdo, a palavra certa é essa. Fico pensando como podem aceitar isso e ainda acharem normal? Caramba, estamos no século XXI e isso continua acontecendo e pior, as pessoas continuam aceitando. Não é isso que sonhei para mim, não é isso que desejei para ninguém. Já vi tanta coisa acontecendo. Já presenciei homens escrotos humilhando suas esposas. Já vi mulheres marcadas por agressões. Homens desrespeitando suas respectivas esposas na cara dura. Não, eu não consigo aceitar e nunca vou conseguir. Diversas vezes falei com a minha mãe sobre o meu sonho de ir embora e viver os meus sonhos, apesar de ela querer muito a minha felicidade, não concorda com a minha idéia louca, tem medo de me perder e sabe que ninguém, absolutamente ninguém sai vivo de dentro da máfia. Fui planejando algumas coisas, movendo alguns pauzinhos para poder me ver livre dessa situação, depois de tudo certo, coloquei o meu plano em prática. Sempre soube o que eu queria, sempre quis ser livre! Nunca aceitei o fato de ter nascido na máfia. Como poderia aceitar me casar com alguém que não conheço? Que não gosto? Apenas pelo fato de ser mulher e ter que aceitar caladinha o que me impõe? Não podia aceitar essa situação sem fazer nada. Sonhei dia e noite com a minha liberdade. Aceitei tudo que falavam para mim fazer quieta. Aceitei o fato de terem dado a minha mão em casamento para o primo de Hugo, aquele homem asqueroso. Na cabeça deles eu poderia até ter aceitado, mas na minha não, sempre soube que jamais me renderia com tanta facilidade. Posso ter assinado o meu atestado de óbito quando fugi? Posso! Mas sinceramente? Estou pouco me importando com isso. Quando conheci Antonella, percebi que entre a gente existia uma conexão diferente, ela é uma garota doce, senti como se fossemos irmãs e aos poucos fomos criando esse vínculo. Consegui comprar as passagens graças a ela, pois foi graças ao seu casamento que inventei a mentira do presente para conseguir as passagens sem que ninguém suspeitasse. Comprei duas, uma para mim e outra para Antonella. Podia imaginar que ela viria comigo? Não, jamais! Ela estava super feliz com a vida que estava construindo ao lado de Hugo e com a sua nova família. Alguma coisa no meu coração dizia que eu deveria comprar e foi isso que eu fiz e graças a Deus eu fiz. No fim das contas Ella veio comigo. Confesso que te-la comigo me encorajou ainda mais. Claro, vê-la sofrer do jeito que eu vi me doeu profundamente. Não posso imaginar a dor de deixar quem ama para trás, aliás, posso, eu deixei minha mãe e isso me doeu muito, mas Ella saiu perdendo muito mais e eu sei disso. Tentei de todas as formas fazê-la sair da depressão que tomou conta dela, não foi fácil, mas aos poucos as coisas foram melhorando, Ella entendeu que não tinha jeito, já estava feito e agora era seguir em frente. Já eu? Tirando esse fato, estava radiante de tanta felicidade. Quando chegamos ao Brasil e eu pude ter certeza que estávamos fora de perigo, foi como se eu tivesse nascido novamente. Uma nova vida, uma nova Martina. Agora ninguém ia controlar minha vida, ninguém ia decidir por mim ou falar o que eu tinha que fazer. Eu, somente eu ia tomar minhas próprias decisões. Agora era eu quem mandava na minha vida. Curti muito em pouco tempo. Beijei muitas bocas e até cheguei a ter uma paixãozinha, mas o cara queria avançar o sinal e eu não estava preparada. Sempre falei que deixei minha vida de antes para trás, mas ainda trazia esse medo e esse costume comigo. Tinha medo de me entregar e só ser usada e queria levar a tradição de casar virgem ou pelo menos me entregar para o homem que eu tinha total certeza que fosse ser meu marido. Não queria me entregar para qualquer um. Conheci o Bruno, amigo de Lucas e dono da boate que fomos prestigiar a inauguração. O cara é educado, bonito, cheiroso, simpático e beija deliciosamente bem. Sinceramente? Não sei se tem defeitos. Estou adorando ficar com ele. Toda vez que nos encontramos é uma chuva de beijos. Descobri que amo beijar na boca e essa é minha nova diversão favorita. Bom, como podem ver, tudo estava indo muito bem. Minha vida estava perfeita aqui no Brasil. E a festa que viemos hoje estava linda. Até um convidado indesejado aparecer. Bruno e eu decidimos vir para um canto mais afastado dos outros convidados. Estamos sedentos por uns beijos e amassos. O clima estava esquentando. Estava com a perna entrelaçada em Bruno e os beijos estavam sendo distribuídos por minha boca, orelha e pescoço. Claro que não ia me entregar para ele naquele momento, mas estava curtindo bastante, por isso não interrompi. Logo senti alguém puxar Bruno bruscamente e eu caí com tudo no chão, quando olhei para cima não pude acreditar no que os meus olhos estavam vendo. Pisquei repetidas vezes, queria ter certeza que não estava tendo um pesadelo. Lucas que estava um pouco atrás se aproximou de mim e me ajudou a levantar. Me aproximei do brutamontes que estava desferindo socos na cara de Bruno e o empurrei. Não tive forças nem para movê-lo do lugar, mas mesmo assim dei vários socos em suas costas e braços para tentar afastá-lo. — Lucas, faz alguma coisa — peço ajuda. Lucas parece estar no mundo da lua. Ele se aproxima e tenta puxar Matteo, sem sucesso também, o homem parece estar incorporado. — Larga ele seu i****a*, vai matá-lo — grito. Logo me arrependo de ter aberto minha boca. Matteo para de socar Bruno e seu olhar é direcionado para mim, o que vejo em seus olhos me aterroriza. Ele se levanta, tira o paletó, limpa as mãos que estão cheias de sangue e o joga em cima de Bruno. Olho para Bruno deitado no chão, ele não se move e meu desespero aumenta. Matteo o matou? Lucas corre na direção do Bruno e começa a socorrê-lo. — Está morto? — minha voz falha. — Não, vou pedir para levá-lo ao hospital — é tudo que consigo ouvir de Lucas antes que Matteo saia me arrastando. Ele me puxa pelos braços com tanta força que grito assustada. Os convidados na festa ficam nos olhando, começo a pedir para alguém me ajudar, mas ninguém se move. Matteo me joga com tudo contra o carro, quando meu corpo se choca com a lataria fria sinto uma dor nas costas. — Entra — diz bufando. — Cadê Antonella? — Mandei entrar! — Você não manda em mim! — o enfrento, com medo, mas tudo bem. Matteo fecha os olhos e quando abre vem com tudo para cima de mim. Minha respiração começa a ficar pesada, meu corpo inteiro tremendo. — Por que está tremendo? — pergunta com um sorriso debochado no rosto. — Está frio — minto e ele ri ainda mais, ele sabe que estou mentindo, um calor do caramba. — Sabe que assinou sua sentença de morte, não sabe? — Por mim tudo bem — dou de ombros fingindo falsa calmaria. — Valeu a pena tudo isso para depois acabar morta? — Valeu. Curti bastante nesses poucos meses. A mão de Matteo vai parar no meu queixo e ele aperta com força. — Eu vi como estava curtindo sua vagabunda*! Me irrito com seu xingamento e começo a estapeá-lo. Matteo tenta segurar minhas mãos, mas antes que ele consiga me dominar, dei vários tapas nesse i****a*. — Vagabunda* é a sua mulher seu cretino! — respondo nervosa. — Você? — ele ri debochando da situação. Que raiva desse homem, ele está sempre com esse sorriso debochado no rosto, se ele soltasse minha mão, com toda certeza daria um murro em seu rosto só pra tirar esse sorriso. — Não sou sua mulher! — Você é minha! — Não sou uma propriedade, não sou sua e nem de ninguém! Já que vou morrer não preciso medir minhas palavras, posso falar o que bem quiser. — Realmente, você não é minha, pelo o que vi deve ter sido de vários. — E o que você tem com isso? A vida é minha e eu faço dela o que eu quiser, mas você está certo — me aproximo bem do seu rosto — Fui de vários e posso te dizer? Foi uma delícia! Matteo fica furioso e me empurra mais contra a lataria do carro, reclamo de dor, ele me bate com tanta força que minhas costas está doendo. — Não brinca comigo garota, você não me conhece! — Matteo está de olho fechado, parece até um doido, ele fala sem olhar para mim. — Já vou morrer mesmo, porque deveria te obedecer? — finalmente ele abre os olhos. Nossos rostos e corpos estão tão colados que qualquer um que nos veja pode pensar que estamos fazendo outra coisa e não nos matando como dois doidos. Caramba, ele é bonito, nossa, muito bonito! Que droga* de pensamento é esse Martina? Meu Deus, ele me bateu tanto contra esse carro que acho que fiquei doida. — Posso te jogar no bordel — meus olhos se arregalam. — Não, por favor, isso não! — imploro. — O que foi? Isso não vai ser problema pra você, afinal, já curtiu bastante, não foi? — Não Matteo, por favor, não faça isso! — Me dê um bom motivo para não fazer isso — sinto suas mãos passando por baixo do meu vestido e me assusto. — O que você está fazendo? Tira suas mãos de mim! — Estou fazendo o mesmo que ia fazer com aquele merdinha lá dentro, posso te garantir que farei melhor — seu hálito quente está próximo ao meu ouvido e sinto um frio na espinha. — Não quero, me larga! — começo a empurrá-lo. — Vai se fazer de boa moça agora? — Você ficou louco? Acha que vou te dá e depois você vai me matar* ou me jogar no bordel? — Vamos nos divertir um pouco Martina e depois faço o que tenho que fazer. Se eu gostar, posso até ficar com você por um tempo. Não sei de onde tiro coragem, mas dou um tapa tão forte em seu rosto que sinto minha mão arder. Penso que Matteo vai revidar, pois ele levanta a mão para dar um soco, mas ele acerta o carro, na lateral do meu ombro. Meu susto é tão grande que grito alto, sinto vontade de correr, mas seu corpo pressiona o meu com tanta força que não consigo me mexer. — Nunca mais está me ouvindo? Nunca mais faça isso, não se bate no rosto de um homem! — Matteo cospe as palavras com raiva. — Então não me ofenda! — Está se fazendo de boa moça, para com esse joguinho. — Cadê a Manu? O que você está fazendo aqui? Fingi que não me viu, vai viver sua vida e me deixa em paz — suplico. — Acha mesmo que eu faria isso por você? — Faça por você então, me deixe em paz. Você não vai ganhar nada me matando. — Você mudou, está bem bonita — fala passando os olhos por meu decote no peito* e me sinto envergonhada — Poderia ganhar bastante coisa com você — abre um sorriso malicioso. — Pra conseguir isso você vai ter que me matar! — Não seja por isso — responde irônico. — Matteo, por favor, me deixe em paz. — Você é minha noiva, estamos de casamento marcado, como poderia deixá-la em paz? — debocha. — Não sou sua noiva e não estamos de casamento marcado. Não vou me casar com você. — Quer pagar pra ver? — sinto o desafio em seus olhos. — Prefiro morrer ao ter que me casar com você! Ficamos em silêncio, nos olhando com tanta intensidade que chego a perder o ar. — Você vai ser minha esposa — diz com convicção. — Nunca! — E eu vou ter tudo que eu quero — sorri malicioso e sinto um desespero enorme. — Vou fazer dos seus dias um inferno* — ameaço tentando ser forte, mas falho miseravelmente, sinto meus olhos cheios de água. — Faça o seu melhor, pois eu farei o meu e pode ter certeza que vai ser pior que a morte para você. A verdade em suas palavras é assustadora. Estou ferrada, completamente ferrada, desafiei a pessoa errada. — Não, me solta — começo a me debater, estou desesperada — Me solta, eu quero sair daqui! — Fica quieta Martina — Matteo me prende ainda mais contra ele. Vejo ele olhar para o lado e lá está Antonella com os olhos cheios de lágrimas assim como eu que estou chorando de desespero por nós duas. Tento ir até ela, mas Matteo não permite, ele me segura firme me afastando do carro e abre a porta. — Não vou entrar ai, me solta, me solta, eu quero falar com ela — começo a espernear feito uma criança fazendo birra. — Entra logo e fica quieta — Matteo me empurra com força. Entro no carro contra minha vontade, na verdade sou jogada lá dentro, sinto meu salto quebrar e queria quebrar o outro na cara dele. — Ella? Amiga, você tá bem? — grito antes do brutamontes bater a porta com força na minha cara. Não consigo ouvir uma resposta dela e isso me desespera ainda mais. E foi aí que tudo começou. Fugi. Pensei que estava feliz e segura. Matteo me encontrou. Me pegou fazendo algo totalmente repudiável em nosso mundo e o meu futuro? Bom, esse é mais que incerto e se eu tiver sorte, muita sorte sairei dessa viva. Matteo pode até me levar, podemos nos casar, mas jamais tornarei a vida dele fácil e jamais serei submissa. Não sou esse tipo de mulher e jamais serei. Ele pode estragar a minha vida, mas eu também tornarei a dele um inferno. Só espero que Matteo não seja aquele tipo de homem que espanca sua esposa todo santo dia, porque não vou suportar. Prefiro morrer ao ter que aturar um homem me espancar todos os dias.
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