Capítulo 2

1106 Words
O escritório estava em penumbra, iluminado apenas por uma lâmpada indireta no canto e pela luz filtrada do vidro fumê. A mesa enorme dominava o centro da sala, cercada por cadeiras robustas, documentos organizados, um copo com resquícios de whisky sobre um descanso de couro. Yago estava lá. Sentado na poltrona que todos, naquele mundo, sabiam de quem era. Os olhos afiados dele se levantaram na mesma hora, varrendo a figura mascarada com uma rapidez que só vinha de anos de treinamento. Ele não perguntou quem era. Não deu boas-vindas. Não sorriu. Nerone com uma destreza quase instintiva, agarrou algo e, em um movimento rápido, lançou uma adaga em direção ao rosto de Yago. — Já disse várias vezes pra não sentar na minha cadeira. A lâmina cortou o ar com um zumbido curto. Yago desviou o suficiente. A adaga passou tão perto que rasgou um fio de sua roupa, antes de se cravar na parede atrás dele, arrancando um pedaço da pintura. O corpo de Yago se enrijeceu. Em menos de um segundo, já tinha puxado a arma do coldre e apontava diretamente para a cabeça de Nerone. Os olhos dele brilhavam de um jeito diferente na meia-escuridão. — Quem é você? — a voz saiu firme, fria. Ele não precisava gritar. — Porque eu sei que você pode até agir como o meu chefe… mas não é ele. Nerone ficou parado. O silêncio pesou entre os dois, preenchido apenas pelo eco distante da música de Babilônia e pela respiração controlada de Yago. Ele já deveria estar acostumado com aquilo. Com o fato de que, por fora, naquela noite, para quase todos, ele seria Seytan. Mas Yago não era “quase todos”. Nunca tinha sido. Nerone ergueu uma mão, em um gesto que qualquer outro interpretaria como rendição. Mas Yago sabia: aquele homem não levantava a mão por medo. Era cálculo. Era aviso. — Se acalme — a voz de Nerone saiu distorcida pelo modulador escondido na máscara, grave, metálica. — Se eu quisesse a sua cadeira… eu já teria levado junto com o seu pescoço. Yago não recuou. Não abaixou a arma. Mas os olhos estreitaram, analisando tudo: altura, jeito de ficar em pé, a inclinação dos ombros, o modo como respirava. Algo naquela postura mexia com memórias que ele tinha enterrado fundo demais. Não era Seytan. Mas também não era um i****a qualquer querendo brincar de lenda. — Eu não vou repetir — ele rosnou. — Tira a máscara. Ou eu atiro. Nerone inspirou fundo. Quatro anos passaram por ele como um flash. Quatro anos nas sombras, sendo um fantasma, um rumor, um vulto que resolvia problemas antes mesmo que fossem nomeados. Quatro anos em que todos acreditavam que ele era o monstro. Era ali que tudo mudava. Algo se moveu na visão periférica de Yago, outra pessoa augiu bem diante de seus olhos, mas ele conhecia aquela pessoa, aquele jeito de se mover, era seu chefe, o verdadeiro. — Olha que bonitinho, não sabe o quanto fico feliz por saber que você não é tão fácil de enganar como os idiotas dos seguranças da entrada. — Diz Seytan com um traço de sorriso na voz. — Chefe, do que se trata tudo isso? — Pergunta Yago deixando de lado seu lado divertido. Saytan se move e se deixa cair em sua cadeira apoiando os pés sobre a mesa de forma despreocupada. — Estou passando a cadeira Yago, é disso que se trata. — Responde ele de forma despreocupada. Os olhos de Yago quase saltam das órbitas com aquelas palavras, ele imaginava que seu chefe poderia dizer qualquer coisa, menos aquilo. — Isso só pode ser alguma piada. — Diz Yago, mas as palavras m*l deixam a sua boca antes dele ter que se abaixar rapidamente, quando uma adaga passa raspando os seus cabelos. — Qual é chefe! Eu ainda quero me casar, e preciso estar vivo para isso. — E desde quando eu brinco Yago! — Diz Seytan bravo. — Isso é difícil de dizer, nunca sei quando está rindo. — Responde ele segurando o riso ao ver o rosto de seu chefe com a máscara. A identidade de Seytan era um grande mistério para ele, apesar de trabalhar a anos para ele, Yago não sabia quem ele era, mas sabia reconhecer seu chefe em qualquer lugar. — Sabe Yago, vai ser uma pena te matar. — Diz ele se levantando lentamente. O rosto de Yago se empalidece ao ver Seytan se levantando, ele rapidamente se apreça a se desculpar, antes que seu chefe lhe matasse naquele lugar. — Me desculpe chefinho, sabe que amo o senhor, não precisa de nada disso. Seytan revira os olhos, não que Yago pudesse ver, mas no fundo ele não queria matar Yago, ele era bom no que fazia, e acima de tudo era leal, tudo o que ele precisava. — Por que parar agora chefe? Já tivemos bons momentos. — Diz ele sorrindo. — Tenho outras prioridades no momento, então estou passando a cadeira a diante, apenas sugiro que tome cuidado, o seu novo chefe não é tão paciente quanto eu. — Responde Seytan. Yago dá um sorriso sem graça, seu chefe poderia ser tudo menos paciente, e saber que o próximo a sentar naquela cadeira tinha menos paciência ainda do que ele, já fazia su corpo inteiro se arrepiar, ele já sentia a morte o rondando novamente. — Tudo bem chefe, o senhor manda eu obedeço. — Responde ele apenas. — Ótimo, nos próximos dias estarei por aqui explicando a ele tudo sobre os negócios, depois disso não me verá mais, apenas a ele. — Diz Seytan apontando para Nerone a sua frente. — Suas palavras são ordens para mim chefe, e assim como dei minha lealdade ao senhor darei também ao seu sucessor. — Diz ele puxando uma adaga de sua cintura e fazendo um corte na palma de sua mão, ele estende a adaga para Nerone esperando que ele fizesse o mesmo. Nerone pega a adaga das mãos de Yago e retira a luva de sua mão, sem excitar faz um corte na palma. Yago estende a mão e Nerone aperta unindo seu sangue ao de Yago. — Agora somos irmãos de sangue. Serei sua sombra, seu escudo e proteção, dedicarei a minha vida a suas ordens e a minha lealdade pertence apenas a você. — Diz ele em meio ao seu juramento. — Eu aceito. — Responde Nerone selando o pacto entre eles. O acordo estava feito, e o novo chefe de Babilônia acendia em meio as sombras sem que ninguém soubesse que a cadeira havia sido passada adiante.
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