Acordo antes do sol nascer, com o cantar dos galos ecoando. Milena ainda tá enroscada em mim na rede, respirando fundo. Passo a mão no cabelo dela com carinho, me levanto sem fazer barulho e vou até aonde os meninos, Dudu e Caio estão jogados de qualquer jeito na rese, os pés sujos marcando o lençol. Meu mundo inteiro tá aqui e hoje eu decidi fazer ele um pouco melhor. Pego o envelope onde guardei o dinheiro que o Flávio me deu. Vinte mil reais. Uma quantia que eu nunca tive nas mãos, que minha mãe talvez nunca viu de uma vez só. Guardei com cuidado, medo, e gratidão. Mas hoje... hoje eu vou usar um pedaço disso. Separo uns 4 mil. Ainda é muito, mas minha consciência sabe: ninguém nessa casa tá acostumado com fartura. Eles sempre viveram com o básico, com o suficiente pra sobreviver. Eu

