O despertador toca antes mesmo do sol subir, mas eu já tô acordado há muito tempo. Virei de um lado pro outro a madrugada inteira, com o cheiro dela no travesseiro, a risada ecoando no canto da sala, e o corpo quente que ainda parece se encaixar no meu toda vez que fecho os olhos. Levanto devagar, sem fazer barulho, como se ela ainda estivesse ali, dormindo. E no fundo, eu queria que tivesse. O silêncio da casa me irrita. O banheiro parece maior, o chuveiro mais gelado, o café menos forte. Falta ela até nas coisas pequenas. Pego o celular, sento na beira da cama e passo os dedos sobre o nome dela, como se isso bastasse pra encurtar os quilômetros. Quando ligo, a voz dela vem envolta em som de panela e criança gritando, e mesmo assim é a coisa mais doce que ouvi nos últimos dias. Depois

