O elevador sobe em silêncio. Mas não é um silêncio leve, confortável, cheio de cumplicidade, como aquele que a gente dividia até ontem. Esse é outro. Mais denso. Mais pesado. É um silêncio que gruda na pele, que enche o ar como uma fumaça espessa e sufocante, que vibra como uma culpa não dita. Um silêncio que não traz paz, mas sim a lembrança incômoda de algo que já não volta a ser igual. Flávio está ao meu lado. O maxilar travado, a respiração curta, os braços cruzados como se fossem uma armadura. Ele olha fixo para o painel dos andares, como se a concentração dele fosse suficiente para manter o mundo inteiro sob controle. Mas o corpo inteiro dele tá rígido, tenso, como se estivesse preparado para segurar uma queda, para enfrentar uma explosão, para impedir que alguma coisa se desmanch

