O apartamento tá silencioso. Só o bip baixo da tornozeleira e o barulho distante de carro passando no viaduto. Sento na beira do sofá, celular na mão, e respiro fundo antes de fazer o que venho adiando: ligar pra Jussara. Não mando recado por ninguém, não passo por Pardal, não disfarço. Se é pra cortar de vez, é direto. O toque chama duas vezes. Do outro lado, a voz dela entra fria, carregada de ironia: — Olha quem resolveu lembrar que eu existo. — Não é lembrança, Jussara. É acerto. Eu tô na rua agora. Solto. E cê sabe que comigo nada fica pendurado. — Seguro o maxilar, não deixo emoção vazar. Ela dá uma risada curta, venenosa. — Tá solto, mas com coleira. Todo mundo sabe que cê tá de tornozeleira. Tá achando que mete medo ainda? Eu tô longe, Flávio. Longe e protegida. E não é com te

